Planalto faz "operação abafa" para evitar CPI
Temendo que CPI dos Correios se transforme em "palanque para oposição", governo mobiliza aliados para retirada de assinaturas
O Palácio do Planalto mobilizou ministros e líderes dos partidos aliados para uma ofensiva final na tentativa de evitar a criação da CPI sobre o suposto esquema de corrupção nos Correios. Sete ministros que acompanhariam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Coréia do Sul e ao Japão ficaram no Brasil e podem se reunir ainda hoje para discutir qual será a estratégia para barrar a CPI. O ministro José Dirceu (Casa Civil), um dos que viajariam com Lula, passou o fim de semana articulando uma reunião com os ministros políticos do governo e com líderes aliados para que cada um pressione suas bancadas. Aldo Rebelo (Coordenação Política) tentou reunir ontem os líderes partidários em Brasília, mas como alguns não conseguiriam chegar a tempo, o encontro foi transferido para hoje às 10h. A tarefa é reconhecidamente difícil, já que há assinaturas mais do que suficientes para a criação da CPI: 217 na Câmara (o mínimo seria 171) e 49 no Senado (mínimo de 27), sendo que vários signatários são de partidos governistas. Na quarta-feira haverá sessão do Congresso para a leitura de criação da comissão. São dois os principais argumentos do Planalto para ser contrário à CPI: o primeiro é baseado na avaliação de que a comissão será usada exclusivamente como palanque eleitoral pela oposição. O segundo é que ela não seria necessária, já que o governo teria determinado investigação imediata pelos órgãos competentes, como a Polícia Federal. "O governo está investigando, orientando e estimulando a investigação pela Polícia Federal, Controladoria Geral da União etc. Evidentemente que uma CPI, nestas circunstâncias, é desnecessária e cabe aos líderes da base continuar a discutir com suas bancadas", afirmou o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). A tarefa do deputado é a mais difícil já que ele tem de conseguir coordenar a retirada de pelo menos 47 das 217 assinaturas até a quarta-feira, isso sem contar com os nomes que a oposição diz ter para apresentar no último instante. Líderes do PMDB, PL, PP e PTB conversam desde a semana passada com seus deputados. Dos 19 deputados petistas que assinaram o requerimento, algo entre 5 e 10 podem retirar seus nomes devido à aprovação pelo Diretório Nacional do PT, no fim de semana, de resolução contrária à abertura da comissão. "A situação está igual a sururu na gafieira, ninguém entra e ninguém sai. Acho que cinco ou seis podem tirar os nomes, não mais do que isso", afirmou o deputado Chico Alencar (PT-RJ), da ala mais à esquerda no partido. No Senado, a tarefa de reduzir as assinaturas de 49 para 27 é praticamente impossível. Tanto é verdade, que oito dos 13 senadores do PT podem engrossar a lista nesta semana. "Estou em um dilema entre a decisão do diretório e as opiniões que ouço nas ruas. Na aula que dei na sexta-feira, na Fundação Getúlio Vargas, todos os 40 alunos disseram que eu deveria assinar. Até os garçons do restaurante em que fui disseram que eu deveria assinar", afirmou Eduardo Suplicy (PT-SP), que colocará em sua página na internet uma enquete sobre se a bancada do PT deve seguir a orientação do Diretório ou a sua convicção. Promessas e ameaças A pressão sobre as bancadas será feita de formas e argumentos variados. Irá desde a ameaça em torno de cargos federais ocupados por indicados dos deputados, passando pela promessa de novas indicações, chegando a acertos para liberação de verbas das emendas que os congressistas fazem ao Orçamento da União. Caso seja criada, a CPI depende ainda da indicação dos integrantes pelos partidos ou pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que é obrigado a preencher possíveis lacunas.
Fonte: Folha de S. Paulo, 23/05/2005. |