Relatório político do painel da ONU sobre clima não citará Amazônia
Floresta fica fora do texto para evitar alusão ao Brasil como responsável
direto O impacto do aquecimento global sobre a Amazônia não constará do relatório-síntese que o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) vai apresentar amanhã, em Valência, na Espanha. O texto vem sendo apreciado desde segunda-feira por cientistas do painel e por 130 delegações nacionais, que exercem um forte contrapeso político nas discussões. Ao não citar a maior floresta natural do mundo no texto, as delegações tentam evitar a alusão ao Brasil como um responsável direto pela destruição ambiental e pelo aquecimento do planeta. O relatório-síntese que vem sendo preparado na Espanha é o resumo dos três sumários elaborados em fevereiro, abril e maio, em Paris, Bruxelas e Bangcoc. A repercussão pública internacional desses documentos levou o IPCC a receber o Prêmio Nobel da Paz 2007, ao lado do ex-vice-presidente norte-americano Al Gore. Mesmo com alta credibilidade científica, no entanto, o painel é marcado pelo jogo de pressões políticas, no qual cada país tenta minimizar a destruição ambiental em curso em suas fronteiras. É esse ponto que explica a supressão do termo Amazônia. A eventual referência ao desflorestamento e à savanização da floresta amazônica, quase integralmente situada no Brasil, poderia ser tomada como crítica direta ao governo brasileiro. E o IPCC não faz ponderações políticas em seus relatórios. “A citação à Amazônia não consta do esboço em discussão em Valência”, confirmou ao Estado Thelma Krug, membro do conselho do IPCC e secretária de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente do Brasil, que participou da elaboração dos textos anteriores e recebeu o esboço do atual relatório. “Singularizar a Amazônia seria implicar o Brasil e abriria espaço para a conotação de que só a Amazônia tem importância no processo de aquecimento global.” Para os delegados governamentais, mencionar a floresta brasileira é diferente de citar o derretimento das calotas polares do Ártico, a fragilidade das ilhas, as chances de tempestades na Ásia ou a superexposição da África, referências mais genéricas, sem implicações nacionais - e que ainda podem constar do texto de amanhã. “Não ser prescritivo do ponto de vista político é uma das obrigações do painel. O IPCC precisa ser neutro”, disse Thelma. “A referência até poderia constar, mas só se o relatório fosse específico ao citar as vulnerabilidades regionais ao aquecimento global, mas não será o caso.” Superficialidade A supressão dos dados regionais de destruição ambiental pode tornar o relatório mais superficial, um problema também verificado no texto de Bangcoc. O documento de amanhã deve ser a base das discussões da Convenção Mundial do Clima, que será realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em Bali, na Indonésia, em dezembro. Nos três primeiros relatórios do painel, apenas no texto do Grupo de Trabalho II, sobre impacto regional do aquecimento global, a referência à Amazônia foi feita.
Fonte: O Estado de S. Paulo, Andrei Netto, 16/11/07. Mudanças na Amazônia são aterrorizantes, diz ONU
Declaração foi feita por secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em evento na
Espanha. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou neste sábado (17) que "tesouros" da Terra estão sendo ameaçados pelas mudanças climáticas, citando a Antártida, as geleiras de Torres del Paine e a Amazônia. “As mudanças nessas regiões são tão aterrorizantes quanto as de filmes de ficção científica. São ainda mais [aterrorizantes] porque são reais”, continuou. Ban Ki-moon presidiu na cidade espanhola de Valência o encerramento da 27ª sessão plenária do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês) da ONU, reunido desde segunda-feira (12). O secretário-geral defendeu o uso de meios "reais e acessíveis" para combater as mudanças climáticas e pediu que os políticos dêem resposta às evidências que os cientistas constataram. Ki-moon defendeu, por exemplo, ir "além" da luta contra a mudança climática, para buscar novos e melhores modos de produzir e de consumir, promover indústrias não-poluentes e avançar para uma "aliança mundial" a favor do crescimento baseado em uma economia verde. Ações concretas Ban Ki-moon disse que o relatório aprovado pelo IPCC em Valência responde a muitas das questões políticas sobre a mudança climática e afirmou que, agora, cabe aos governos traduzirem essas respostas em ações concretas. Ele destacou, por exemplo, a importância da reunião da Convenção de Mudança Climática da ONU em Bali, em dezembro, e expressou sua confiança de que, depois de os cientistas terem falado "claramente e com uma só voz" em Valência, os dirigentes políticos mundiais façam o mesmo em Bali. O secretário-geral da ONU disse ainda que uma ação política "coordenada e sustentada" poderia evitar alguns dos pontos mais catastróficos apontados pelo relatório do IPCC. Ele advertiu que a cúpula de Bali deverá estabelecer um calendário de negociações e confiou em que se chegará a um acordo para que esse processo tenha terminado em 2009. Conseqüências Ki-moon observou que um dos aspectos cruciais do relatório dos cientistas é que a mudança climática afetará muito especialmente os países em desenvolvimento e apontou que o degelo das geleiras provocará inundações nas zonas montanhosas e escassez de água na Ásia meridional e na América do Sul. A alta do mar pode provocar a inundação de pequenos Estados insulares em desenvolvimento, disse Ban Ki-moon, que advertiu também que a redução das chuvas agravará a insegurança na África. "A mudança do tempo e das temperaturas pode fazer os países em desenvolvimento retrocederem para o poço da pobreza e desfazer muitos dos progressos", disse o principal responsável da ONU. Ban alertou que a resposta à mudança climática não será eficaz se forem sacrificados outros objetivos, entre eles a erradicação da pobreza. O secretário-geral da ONU apelou à comunidade internacional para que volte seus esforços em buscar respostas políticas e não em procurar "culpados". Ele também disse que os efeitos da mudança climática são "tão graves e tão generalizados" que requerem uma ação "urgente e mundial". Ban Ki-moon considerou que os acordos futuros deverão incluir incentivos para os países em desenvolvimento. Entre esses esforços estão melhores condições financeiras para tecnologias energéticas pouco poluentes, ajudas financeiras para que os países mais vulneráveis se adaptem aos efeitos da mudança e transferências de tecnologias pouco poluentes. A ONU, disse, quer dar exemplo na luta mundial contra a mudança climática e faz um esforço para que suas operações no mundo todo sejam "neutras" no que diz respeito às emissões de gases que intensificam o efeito estufa.
Fonte: G1, da EFE, 17/11/2007. Solução de 'meio-termo' põe Amazônia em relatório do IPCC
Uma
solução “de meio-termo” aceita apenas no final de uma longa negociação foi
necessária para colocar no relatório final do Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas Por iniciativa brasileira, incluiu-se um quadro apresentando exemplos de regiões que podem ser afetadas pela mudança climática em todo o mundo, entre as quais estão a Amazônia e o semi-árido nordestino. "Até meados do século, projeta-se que aumentos de temperaturas associados à redução do nível de água no solo ocasionarão uma substituição gradual da floresta tropical por savana no leste da Amazônia", diz um trecho do quadro. “A vegetação semi-árida tende a ser substituída por vegetação árida.” A tabela, que não constava dos últimos rascunhos do relatório político do IPCC, foi aprovada apenas na quinta-feira à noite, depois que negociadores brasileiros insistiram na necessidade de citar possíveis conseqüências do aquecimento global sobre a maior floresta tropical do mundo. Na quarta-feira, a BBC Brasil apurou que os negociadores haviam deixado de mencionar um tema tão sensível para o Brasil ao aprovar a parte do relatório que alertava para os impactos a serem percebidos nos ecossistemas e regiões mais ameaçados. Os cientistas destacaram a diminuição do gelo no Ártico, a exposição das pequenas ilhas à elevação do nível do mar, as chances de tempestades nos deltas de rios asiáticos e a vulnerabilidade da África. ‘Visão nortista’ A inclusão da Amazônia nos relatórios do IPCC vinha sendo defendida pela delegação brasileira desde a apresentação do segundo documento, em Bruxelas, disse à BBC Brasil o coordenador-geral de Mudança Climática do Ministério da Ciência e Tecnologia, José Domingos Gonzalez Miguez, negociador-chefe em Valência. Ele afirmou que os cientistas relutavam em colocar a floresta tropical brasileira nos textos por falta de informações sobre os possíveis impactos da mudança climática no ecossistema. Já as evidências sobre o impacto no semi-árido eram mais fortes, por conta de estudos sobre este tipo de vegetação – não necessariamente no Nordeste brasileiro – publicados no exterior. “O quadro foi um compromisso (de meio-termo), uma solução encontrada para incluir a Amazônia no relatório-síntese”, afirmou o negociador. Para Miguez, a presença reduzida de cientistas latino-americanos em comparação com as delegações de países desenvolvidos ajuda a explicar o foco menor em outras regiões. Outra razão é a prioridade dada pelo IPCC a pesquisas publicadas nas principais revistas acadêmicas estrangeiras. Acaba-se dando mais peso aos estudos realizados em inglês, embora a maior parte da literatura sobre a Amazônia esteja em português ou espanhol. Como resultado, ele afirmou, o IPCC corre o risco de acabar chancelando uma visão “nortista” dos fenômenos climáticos, sob a perspectiva de países do hemisfério norte. Contraste A ausência da Amazônia no relatório-síntese do IPCC neste ano contrastaria com as palavras do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que neste sábado divulgou o documento oficialmente em Valência. “Na Amazônia, vi como a floresta, o 'pulmão da terra' está sendo sufocada”, disse o secretário-geral, que acaba de voltar de um giro pela América do Sul, aos representantes de 130 países. "Se a previsão mais forte do grupo (IPCC) se tornar realidade, grande parte da selva amazônica se transformará em savana." O IPCC analisa vários modelos que estimam o impacto da mudança climática sobre a Amazônia. A continuarem as atuais políticas públicas, entre 10% e 25% da floresta poderia virar savana até 2080, dizem os cientistas, uma hipótese que o IPCC considerou “mais provável que improvável”. Entre os modelos considerados mais "catastróficos", está o elaborado pelo britânico Hadley Centre, que mostra o ecossistema desaparecendo completamente até 2080.
Fonte: BBCBrasil, Pablo Uchoa, enviado especial a Valência (Espanha), 17/11/07.
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