Onde estão os doutores?
Divulgado levantamento pioneiro que cruzou dados da área econômica e da
pós-graduação Apresentar um primeiro mapeamento das características do emprego de doutores brasileiros em 2004, de acordo com a área de conhecimento, foi o principal objetivo de relatório preliminar discutido durante o workshop Demografia da Base Técnico-Científica no Brasil. O projeto de pesquisa cruza dados do CNPq e da Capes com os registros da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), que as empresas obrigatoriamente preenchem uma vez por ano. O trabalho foi concluído em agosto, no último seminário de validação do trabalho, ocorrido no CGEE. “A área de formação de Recursos Humanos é o esteio da base técnico-científica brasileira e está carente de reflexões mais amplas, que cruzem os entendimentos institucionais, as várias agências e saiam de um debate meramente operacional para a construção de uma visão estratégica mais encorpada”, avalia Antonio Carlos Galvão, diretor do CGEE e supervisor do projeto. Os consultores envolvidos no projeto são Eduardo Viotti, pesquisador associado pleno do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS), da Universidade de Brasília (UnB), e Adriano Baessa, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental do Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão (MP). Resultados O relatório constata que a política de pós-graduação no Brasil vem sendo mantida desde a década de 70, independente das mudanças de governo. A quantidade de pós-graduados aumentou consideravelmente, o que “era perfeitamente adequado nas décadas iniciais da expansão em razão da carência generalizada de pessoal de alto nível”, relata o documento. Para Eduardo Viotti, é necessário “refazer a pós-graduação para atender de alguma forma às necessidades do desenvolvimento brasileiro.” A transformação, de acordo com o pesquisador, deve se dar por meio de um crescimento maior nas áreas que interessam mais ao desenvolvimento e não pela formação disponível. Segundo dados da Capes, o número de pós-graduandos cresceu, entre 1995 e 2004, a uma taxa de 15% ao ano. Em 2004, o Brasil formou um total de 8094 doutores em todas as áreas, ocupando o 10º lugar no mundo, atrás de países como os EUA, Rússia, Alemanha, China, Reino Unido e Índia. O Brasil cai para a 27ª posição quando se analisa o número de doutores formados por cada 100 mil habitantes. A previsão do Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) é de que o país forme 16 mil doutores no ano de 2010. “O crescimento da pós-graduação brasileira é absolutamente espetacular em termos internacionais. Tem qualidade, quantidade e diversidade que poucos países em desenvolvimento têm”, afirma Viotti. No entanto, continua, “precisamos pensar em formas diferentes de interferir na dinâmica da pós-graduação, que não seja aquela dada apenas pelos interesses acadêmicos, pois os mestres e doutores já não encontram emprego exclusivamente nas universidades.” O estudo mostra também que o fato de os pós-graduados não encontrarem empregos apropriados prejudica a contribuição que poderiam dar ao avanço do conhecimento. Uma das dificuldades para a empregabilidade de mestres e doutores resulta de sua formação não se enquadrar aos requisitos do mercado. “O momento é muito especial. Há uma mudança na composição da nossa população, uma série de transições em curso. A base técnico-científica tem que ser pensada no contexto dessas referências sociais”, completa Antonio Carlos Galvão. Recortes O projeto de pesquisa contempla análises por estados, por áreas de conhecimento e por áreas do mercado profissional e faz analogias com outros países com especial ênfase na comparação com os EUA. O relatório mostra, por exemplo, que o número de doutores titulados no Brasil em 2006 corresponde a mais de 1/5 dos titulados nos EUA líder na formação de doutores. A taxa é muito elevada, pois a economia brasileira representa 1/8 da estadunidense. O trabalho destaca as Ciências Agrárias: em 2003, titularam-se 1.026 doutores na área - número só ultrapassado pelo Japão, EUA e Índia. As outras áreas que mais titulam doutores são Ciências da Saúde, Ciências Humanas e Ciências Biológicas. São Paulo é o estado que mais forma doutores 15.711, entre 1996 e 2003; mas só 9.122 permaneceram no estado. Muito abaixo vêm os estados do Rio de Janeiro, também um "exportador líquido" de doutores, e Minas Gerais. Alguns estados não apresentavam nenhum doutor formado no período, como Acre, Tocantins, Maranhão, Piauí e Mato Grosso do Sul. A hipótese de Viotti para a ausência de doutorandos no período é de que, na época, esses estados estariam montando seus programas de pós-graduação. O estudo constata que, entre os doutores que têm empregos formais, quase metade (44%) se concentra na área de educação universidades e escolas. Fatia quase igual (43%) ocupa cargos na administração pública, defesa e seguridade social. Um dado a ser analisado é que 37% dos doutores não estão registrados como empregados formais. “Nessa percentagem, estão doutores que acabaram de se formar e ainda não tiveram tempo de fazer concurso para professor ou que ainda não encontraram emprego porque estavam desempregados antes.”, explica Viotti. Desdobramentos “Podemos desenvolver outros tipos de estudo por exemplo, sobre a questão da ocupação, ou concentrar a análise em áreas específicas do conhecimento, ou fazer outros cruzamentos com a base Lattes”, afirmou Viotti ao finalizar sua apresentação. Segundo Galvão, há boas perspectivas para o projeto. “Com a conclusão do estudo, teremos uma análise inicial da situação da base técnico-científica brasileira e podemos, assim, no futuro, aprofundar a discussão sobre a relação desse contingente com o restante da população e o desenvolvimento do país". Uma proposta metodológica nesse sentido foi preparada pelo CGEE com o apoio do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG (Cedeplar).
Fonte: CGEE e JC-email, 3/9/08.
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