Por que eu não ganhei a vaga?
No último round da entrevista, comportamento vale mais que técnica Soou o gongo do 1º round, a entrevista de emprego. Você sai de casa um pouco tenso, não sabe o que vai encontrar pela frente, mas arrasa na dinâmica de grupo. Segundo e terceiro rounds, você vai bem nos testes on-line e é um sucesso na prova de inglês. Quarto e quinto assalto, já mais confiante, consegue vencer mais dois adversários na entrevista com o consultor de RH (Recursos Humanos) e, finalmente, passa para as finais. Agora, próximo do título "futuro trainee 2008", começa a titubear. O nervosismo toma conta de você e, sem que perceba, passar a desferir golpes ao ar, deixa seu "adversário" ileso e em vantagem para o ataque. De frente para o árbitro, não consegue ter o mesmo rendimento das outras etapas, não explica a que veio e de repente: sente um gancho de direita, mais um direto de esquerda...em cheio! Meio tonto, você cai e, de novo, entrega a luta na última fase! Mas, afinal, qual é o seu problema? Quem já passou por longos processos seletivos sabe que, chegar até a última etapa, exige do candidato muito suor e trabalho duro. É mais ou menos como em um campeonato de boxe ou vale-tudo, se o lutador não mantiver o pique do começo ao fim, pode mesmo é 'beijar a lona'. Claro que, às vezes, o oponente pode ser muito superior, ou seja, ter melhor qualificação ou ter ido melhor na prova de inglês. Mas, em geral, os especialistas dizem que nas últimas fases do processo de seleção a escolha entre um candidato em detrimento de outro é quase sempre decidida pela postura de cada um. "Até esta etapa, os candidatos estão mais ou menos equilibrados. É na insegurança de um ou no excesso de confiança do outro que o candidato pode sim perder a vaga", explica a consultora de carreira do Ibmec Minas Gerais, Jaqueline Silveira. Portanto, se você já se perguntou mais de uma vez "por que não eu?" É hora de apostar numa autocrítica para melhorar seu desempenho nas próximas entrevistas. Pare e pense: se você foi bem até a última etapa, o que foi que - da porta para dentro da sala do seu entrevistador - você disse ou fez que colocou tudo a perder? "Essa autocrítica é algo que cobro muito dos alunos do Ibmec quando eles não passam em um grande processo de seleção", lembra Jaqueline. Segundo ela, esse exercício, porém, deve ser feito com muita tranqüilidade e não como forma de penitência. "Não adianta se culpar por ter perdido uma vaga, o sentimento de derrotismo só vai contribuir para aumentar a sensação de insegurança e pôr em risco seu desempenho nas próximas seletivas", diz. O que pega mal? Esqueça tudo que você viu nos filmes sobre profissionais que chutam a porta da sala de reunião ao mesmo tempo em que dizem ter uma idéia brilhante, ou que socam a mesa e impõe condições para ser contratado. Pelo menos aqui, no Brasil, a coisa não funciona desse jeito. "Profissionais arrogantes e cheios de si não encontram mais espaço no mercado de trabalho, e isso é desde a seleção", afirma a especialista em Recursos Humanos do Unifieo (Centro Universitário Fieo), Maria Bernadete Pupo. Vindos debaixo então, onde se pressupõe que a principal característica de um estagiário ou um trainee seja a humildade e a vontade de aprender, o 'salto alto' só serve para garantir uma queda maior e mais dolorida. Por outro lado, pegar na maçaneta da sala de entrevista tremendo e soltando um bom dia quase que sussurrado também não contam pontos a favor do candidato. Das duas uma, ou seu futuro gestor irá duvidar do seu interesse na vaga, ou simplesmente vai descartar você porque está claro que seu controle emocional é igual a zero. "O que percebo quando entrevisto candidatos nessas últimas etapas da seleção é que a maioria não está preparada emocionalmente. Ou se descontrolam e não conseguem ser um décimo do que foram nas etapas anteriores, ou, para superar o nervosismo, criam uma máscara de autoconfiança perfeitamente perceptível e até descartável", destaca a psicóloga. Uma forma de vencer esses dois obstáculos é treinar o autocontrole. Por isso, é importante que os candidatos estejam sempre se testando por meio de situações que coloquem à prova a sua inteligência emocional. O esporte é uma excelente ferramenta para isso, mas se você, universitário, não tiver tempo e nem disposição para atividades físicas, aposte em cursos que visam preparação para o mercado de trabalho. O CIEE-RS (Centro de Integração Empresa Escola do Rio Grande do Sul), por exemplo, oferece cursos on-line e presenciais sobre oratória, autoconhecimento profissional e desenvolvimento pessoal. O consultor de carreira do CIEE-RS, Jean Pierre Silva da Veiga, que ministra tais cursos, explica que eles foram pensados justamente para dar aos estudantes a oportunidade de se conhecer melhor e vencer suas barreiras individuais para alcançar o equilíbrio emocional e ir bem nas entrevistas de emprego. Essa preocupação parte da mudança que as consultorias de RH e as empresas têm implementado em seu método de seleção. "A seleção por competências, muito utilizada pelas empresas, avalia, entre outras questões, a capacidade que o candidato tem em controlar suas emoções. Preparar o estudante para isso, hoje, é fundamental", explica o consultor. Vencer seus medos pessoais, implica em dar mais confiança para o candidato em mostrar quem ele realmente é durante a entrevista. Na opinião de consultores, isso é importante porque, ao longo das negativas, os candidatos passam a inventar informações e criar personagens para si mesmos que atendam às necessidades da empresa ou daquele recrutador em questão. "Isso é um perigo, porque ele vende uma imagem para o gestor que não vai durar muito mais do que algumas semanas. Aí cria frustração no recrutador que se reflete em uma visão negativa do profissional e compromete, inclusive, futuras referências," explica Veiga. O que pega bem? Não existe comportamento mais bem visto aos olhos de recrutadores - especialmente daqueles que decidem o futuro de estagiários e trainees - do que o de um candidato motivado. Ele chega na sala, cumprimenta com vigor, fala sobre seus planos, o que pretende fazer pela empresa, como acha que pode ajudar e, principalmente, mostra vontade de aprender e ajudar no que for preciso, algo que recrutador nenhum pode botar defeito. "É isso que faz alguém se interessar por outro", compara Bernadete. Se você for levar esse comportamento para o campo pessoal, o entendimento fica mais simples: quem chama mais a sua atenção, uma pessoa que é articulada e sabe conversar ou aquele que não consegue expor sua opinião ou, pior, acha que sabe-tudo? "A empatia conta muito para que o estudante que começou com 100 pontos no início do processo seletivo mantenha sua pontuação alta até o final", lembra Jaqueline. Essa tranqüilidade para falar na entrevista será muito mais fácil de ser atingida se o candidato se preparar para conversar com o gestor de sua área. Nesta etapa, é inadmissível que ele afirme não conhecer o site da empresa, o ramo de negócios, as atividades do profissional da área e o foco empresarial da companhia. "Preparar-se para a entrevista com o gerente ou seu futuro gestor é muito mais do que entrar no site da empresa, mas saber como está o mercado da companhia, como ela se comporta e quais são seus desafios para os próximos anos", destaca Veiga. Nesse caso, informação é essencial. Para conseguir manter o vigor e o astral lá em cima, algumas dicas práticas (antes da entrevista) também devem ser seguidas à risca. Duas delas são: durma e coma bem na noite anterior. Se você não quiser acordar com cara de quem dormiu na sarjeta, tomar umas e outras com os amigos na véspera da entrevista está fora de cogitação. "Tem candidato que 'relaxa' indo para o barzinho e no outro dia está 'fora do ar'. Não preciso nem dizer o que um recrutador vai pensar sobre isso, não é?", indaga Veiga. De posse dessas informações, você terá mais chances de obter sucesso na entrevista. Mas, lembre-se: se não der certo, não desanime. "Costumo dizer isso em minhas palestras: na década de 70, éramos 70 milhões em ação. Hoje, somos 180 com uma grande inserção da mulher no mercado de trabalho. Ou seja, não há dúvidas de que a competição é grande. As dicas servem para lapidar o candidato e deixá-lo mais preparado para outras seleções. Ele pode ou não encontrar pessoas tão bem preparadas quanto ele. Por isso, a ordem é estar sempre alerta e motivado, além de não desistir nunca", finaliza Veiga.
Fonte: UniversiaBrasil, Lilian Burgardt, 5/11/2007.
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