Intercâmbio
Intercâmbio deve ser
muito bem avaliado antes da partida Comida estranha, falta de mantimentos básicos, horários bizarros e aprendizado duvidoso. Não parece a realização de um sonho, certo? Mas muita gente que sonha fazer intercâmbio pode embarcar numa verdadeira furada se não tiver certeza do que vai fazer e informações suficientes sobre o destino e o que pretende encontrar. Os percalços acima fizeram parte do cotidiano da auditora Maruska Bahov, 25 anos, durante um mês em que morou na cidade de Vancouver, no Canadá. E quem conhece do assunto alerta que informação é fundamental para evitar que o sonho de morar e estudar no estrangeiro, algo que envolve investimentos financeiros consideráveis, vire uma experiência desagradável enterrada no fundo da memória. "Tem sempre aqueles que não estão prontos para fazer o intercâmbio. Pensam que é tudo festa e não é bem assim. Mas não é a maioria, são alguns casos. É preciso ter foco", afirma Emília Miguel, gerente de produtos da agência de intercâmbio Experimento. "Nossa tarefa é fazer uma preparação. A primeira coisa é fazer uma sondagem com a pessoa para conhecer as expectativas dela. Tem de saber avaliar para poder indicar o melhor lugar para a pessoa. Se é alguém, por exemplo, que gosta muito de sair à noite e mando essa pessoa para uma cidade pequena, ela vai odiar. Se é alguém que não tolera frio, não posso mandar essa pessoa para o Canadá. De forma alguma um intercambista por embarcar no escuro", completa Cláudia Martins, gerente da STB (Student Travel Bureau), agência de intercâmbio. E não basta conhecer apenas superficialmente o destino escolhido porque há detalhes que farão toda a diferença, como o horário das coisas. Maruska lembra do que mais a incomodava quando estava no Canadá. "O principal ponto para mim foi a comida, lá fora é muito fastfood. E você engorda mesmo, não tem como", diz. Ela, que é vegetariana, conta que não teve tanta dificuldade para encontrar produtos que a satisfizessem suas necessidades básicas, mas sentiu falta de uma alimentação mais específica. "Senti falta de grãos, arroz, feijão, esse tipo de coisa não tem lá", lembra ela. Em relação aos horários, a auditora lembra da rigidez deles e como isso podia ser estranho para brasileiros tão acostumados com a flexibilidade típica de nossa cultura. "Tudo fecha às 18h, 19h. Se não comesse até esse horário, não comia. Se estivesse dentro de uma lanchonete o atendente diz que já fechou e não serve. Nunca achei que fosse assim", admite ela. Maruska conta que a família que a abrigou durante o mês que passou no Canadá deixava faltar coisas básicas em casa, como água, por exemplo. Em casos drásticos como esse, Cláudia explica que é possivel entrar em contato com a escola e pedir a troca de casa. Mas foi uma providência que Maruska não tomou por causa do período pequeno que permaneceria em Vancouver. Além de todas esses contratempos, Maruska se disse decepcionada com a qualidade do curso que fez naquele país. Ela pensava que o curso seria mais puxado, mas lembra que após os teste de admissão foi destacada para o ultimo estágio de aprendizado, quando acreditava haver fases mais complexas a aprender. "É complicado ficar numa sala em que a velocidade do aprendizado das pessoas é mais lento, atrapalha. Acho que aprendi mais inglês aqui do que lá. Achei a escola fraca", critica ela. Ao avaliar tudo isso, hoje, Maruska diz que se fosse fazer intercâmbio novamente escolheria outro destino. "Não voltaria para o Canadá. Achei muito parado. Talvez se fosse junto com alguém seria melhor. Mas acho que preferiria ir para a Europa", afirma. Mitos do intercâmbio Tanto Cláudia quanto Emília, acostumadas a organizar todo o esquema de viagem para intercambistas, dizem que esse tipo de situação em que o viajante acaba frustrado é pontual e que em muitos casos é possível amenizar os efeitos da incompatibilidade ou mesmo rever algumas coisas que possam reverter a situação. Emília alerta que quem estiver interessado em fazer intercâmbio deve ter em mente que é uma situação em que a pessoa deve estar pronta para lidar com hábitos e culturas diferentes. "Muitas vezes eles não estão preparados para enfrentar essas diferenças culturais e comportamentais", diz ela. Outro pedido recorrente entre os intercambistas, segundo Cláudia, é por lugares onde não haja brasileiros. Essa preferência pela distância dos conterrâneos se dá, de acordo com Cláudia, por causa do medo que os viajantes têm de investir dinheiro numa viagem de estudos de língua estrangeira e se deparar com um ambiente repleto de brasileiros e rodas de conversa em português. "Só que tem brasileiros em todo lugar. Então, para evitar isso, a pessoa pode chamar pessoas de nacionalidades para a roda de conversas e assim fazer com que a conversa seja na língua local", aconselha. A questão do desperdício é causa de transtornos nas relações entre brasileiros e seus hospedeiros no estrangeiro. Emília e Cláudia advertem que esse é um problema cultural que vira-e-mexe causa problemas. "Às vezes, eles acabam mesmo em conflito com a famíla. O desperdício é muito levado em consideração", conta Emília. "Eles vão se preocupar com seu tempo no banho porque a água aquecida é uma coisa cara. Se não for jantar em casa, por exemplo, tem de avisar para que o seu lugar seja retirado. Eles (os estrangeiros) são contra o desperdício", completa Cláudia. Cláudia fala também sobre outro mito entre os intercambistas sedentos em aprender o idioma local: pedir uma carga horária intensa na escola para "forçar o aprendizado". Ela afirma que, muitas vezes, é preferível optar por uma carga horária convencional e aproveitar o resto do tempo para conhecer a cidade e interagir com as pessoas do lugar. "É essa prática que fará toda a diferença", garante ela.
Para não ter problemas em nenhum desses aspectos, o segredo é simples. "Você não vai ter surpresas desagradáveis a medida que esgotar as possibilidades de informação aqui", aconselha Cláudia.
Fonte: Universia Brasil, Marcel Frota, 9/11/2007.
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