A morte da alma nacional (volume II)*
As teorias de Milton Friedman
deram a ele o Prêmio Nobel;
Mas não, a nossa grande
mídia prefere dedicar seu tempo integral a “casos Eloás” – notícias que pela
devida ordem de desimportância (ou espetacularização da bobagem) deveriam
ser relegadas ao mero noticiário policial, isto é, ao lado da notícias
esportivas, obituários, efemérides, etc.
E vocês, loques, idiotas,
vão continuar se COMOVENDO com estas questões de somenos? Enquanto os
jornalões te distraem dos fatos principais? O que
isto afeta a
tua vida, para além dum mero
voyeurismo de plantão? A minha
não afeta de modo algum. Mas, e teu
salário, e teu emprego,
ou teu desemprego, os
teus impostos, tuas
tarifas bancárias, e a mensalidade do colégio dos
teus filhos, e
teu plano de saúde, e as
tarifas escorchantes dos teus
cartões de crédito, e os aumentos de luz, água, comida, e como vai o
atendimento da NET e da TVA lá na tua
casa? Jóia, em cima, baratinho?
E os transportes, amizade, aliás, e a
tua aposentadoria, como vai?
Hein? Ficou vagamente por conta da Previdência Privada, doçura? Hein? Essa
como você vai encarar? E
se ela te der o cano daqui a três ou cinco anos – na mesma linha da “quebra
dos bancos internacionais” – você vai reclamar com quem, queridinho? Com o
bispo Edir Macedo, com o Padre Marcelo Rossi, com a bispa Sônia, com o São
Serra, com o São Lula ou o São Barack Obama (que, se vencer, a essas
alturas, tem grande chance de ser assassinado, de acordo com a boa e velha
tradição ianque que – desde Lincoln até os Kennedy – mataram todos os
presidentes que tentaram dar um jeito nessa merda, e isto significava
fazer um pouquinho só,
dar menos lucros aos ricos,
isto é, distribuir um pouco de
justiça social – não seria nenhuma revolução, baby, não se
assuste, era só um “acordo de cavalheiros” – o que sempre foi interpretado
como uma “declaração de guerra aos poderosos”, não é? Donde os crimes,
etc.
...............................
Mas, olha gente, isso fica
como um pequeno parêntese ao assunto que realmente nos interessa, ou seja,
os relatos e pesquisas de Naomi Klein publicados no livro
A Doutrina do Choque e
que continuarei a relatar a vocês, e nem preciso fazer replay já que meu
querido editor, o Edson Sardinha, já me linkou lá em cima, ok?
Continuando na página 80: o
Projeto Chile poderia ter terminado como uma simples nota de rodapé na
história, mas algo aconteceu para tirar os
garotos de Chicago da merda
(que tal esse mix de piada com pleonasmo de reforço, queridinhos?): Richard
Nixon se elegeu presidente dos Estados Unidos! E foi ele quem deu a chance
aos garotos de Chicago de provar que sua utopia capitalista era mais do que
uma teoria de fundo de quintal – uma tentativa de refazer um país a partir
do zero! No Cone Sul, tanto para
Nixon como para os garotos de Chicago, a Democracia tinha se tornado
inóspita, quer dizer, um sério empecilho:
assim, a ditadura era muito mais
conveniente!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! No Chile, quando Salvador
Allende ganhou as eleições de 1970, Nixon deu ordem a Richard Helms da CIA
“para fazer a economia gritar!” Embora Allende propusesse negociação de
termos compensatórios justos para as empresas que estavam perdendo
propriedades e investimentos, as multinacionais dos EUA temiam que isso
fosse uma tendência que abrangeria toda a América Latina. Imagina. As
companhias mineradoras haviam investido um bilhão de dólares na mineração de
cobre chileno – de longe, a maior do mundo – mas já haviam levado para casa
7,2 bilhões! E consideravam-se an-te-ci-da-pa-men-te LESADAS! Assim as incorporadoras
declararam guerra à administração Allende, tendo como líder do comitê a
International Telephone and
Telegraph Company (ITT) que possuía 70% da companhia
telefônica chilena, prestes a ser nacionalizada. Purina, Bank of America e
Pfizer Chemical também estavam no conchavo. O único objetivo das negociações
era forçar Allende desistir das nacionalizações, “confrontando-o com ameaças
de colapso econômico”. Pretendiam bloquear empréstimos ao Chile e levar
bancos privados a fazerem o mesmo, idem bancos estrangeiros. Demorar pra
comprar produtos chilenos, usar estoque de cobre norte-americano em vez de
comprar do Chile, provocar escassez de dólares na economia chilena e por aí
vai. Naturalmente, pra resumir,
um senador democrata tentou interferir sobre isso, mas apesar dos anos de
golpes sujos implacáveis dos ianques – ITT e CIA à frente – Allende
continuava no poder em 1973. Oito milhões de dólares gastos clandestinamente
com o objetivo de enfraquecê-lo foram inúteis. Então ficou claro que não
bastava depô-lo, pois outro semelhante iria substituí-lo. Assim um plano
mais radical foi elaborado. Havia duas “mudanças de regime” que os
opositores de Allende analisavam de perto como possibilidades ou
alternativas possíveis. Uma era no Brasil, e outra, na Indonésia. Antes, em 1962, o Brasil se
moveu decisivamente com o presidente João Goulart, um nacionalista econômico
comprometido com a reforma agrária, salários maiores e um plano audacioso
para forçar as multinacionais a reinvestir um percentual de seus lucros na
economia brasileira, em vez de remetê-los para fora do país e distribuí-los
para acionistas
Em 1964, quando a junta
militar brasileira liderada pelo general Humberto Castello Branco e apoiada
pelos Estados Unidos tomou o poder, os militares tinham um plano não só para
eliminar os programas de João Goulart voltados para os mais pobres, mas
também abrir amplamente o Brasil para os investimentos estrangeiros. A
princípio, os generais brasileiros tentaram impor essa agenda de modo
relativamente pacífico – não houve demonstrações públicas de brutalidade,
nem prisões
Mas, em 1968, inúmeros
cidadãos resolveram expressar suas inquietações quanto ao crescente
empobrecimento do Brasil, o arrocho salarial, pelo que culpavam o programa
da junta voltado para os empreendimentos econômicos privados, muitos
formulados pelos garotos de Chicago. As ruas foram tomadas por passeatas
contra o governo, lideradas por intelectuais, trabalhadores, artistas e
estudantes. Percebendo o sério risco do regime e na tentativa desesperada de
manter o poder, os militares mudaram radicalmente a tática: a democracia foi
completamente eliminada, as liberdades civis suspensas, a tortura se tornou
sistemática e, de acordo com a comissão posteriormente criada para
investigar a verdade, “assassinatos praticados pelos militares tinham se
tornado rotina”.
* Veja
A morte da alma nacional
(volume 1)
Fonte: Congresso em Foco, 30/10/2008.
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