Prós e contras da carreira docente
Um processo natural. Afinal, são, no mínimo, dez anos de encontros diários com estes profissionais. Foram eles, inclusive, que te ensinaram a ler, escrever, fazer contas e, querendo ou não, também ofereceram a base para a sua formação. E se não bastasse, ainda tem a influência que estes mestres exercem, involuntariamente, na vivência dos alunos. O conteúdo é, sim, um grande influenciador, mas não o único. A didática e a maneira como o educador se comporta em sala de aula também são fatores que despertam admirações dos alunos. Segundo a psicóloga e coordenadora do Núcleo de Análise Comportamental da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Lídia Weber, a figura do professor é muito poderosa, porque está em uma posição hierarquicamente superior à do aluno, tornando-se referência. "Um modelo muito importante para o estudante, desde a pré-escola", afirma. Mas, para a professora, é no Ensino superior que esta influência é maior. "Muitos acreditam que os universitários são pessoas já formadas. Nada disso. É nesta fase que se escolhe o modelo profissional e o docente é o espelho mais próximo desta realidade", explica Lídia. É importante ressaltar, no entanto, que nem sempre as influências são positivas. E o que vai determinar isto é a conduta do professor. Por isso, todo cuidado é pouco. Ainda mais que, geralmente, o que se fala em sala de aula é incorporado como "lei" pelos estudantes. "O papel do professor é ensinar bem aos seus alunos e permitir que eles sejam tão bons ou até melhores do que ele", aponta a psicóloga. "O grande mestre não dogmatiza, mas deixa que seus discípulos encontrem os seus próprios caminhos. Servir de inspiração e jamais um modelo para cópia", enfatiza Lídia. Fonte: UniversiaBrasil, 16/10/2006. --------------------------------------------------------------- Drama nas escolas 1: Força-Tarefa pela paz nas salas de aula
Estado vai criar Conselho de Segurança Escolar para mediar conflitos Para tentar reduzir a agressão de alunos a professores nas escolas do estado, o governo lançará mês que vem o Conselho de Segurança Escolar. Ele será formado por integrantes das secretarias de Educação e Segurança Pública, pais, estudantes e mestres. Serão 29 grupos, um por coordenadoria. "O conselho atuará na prevenção de conflitos propondo meios para que a relação aluno/professor seja a melhor possível. Quando houver problema, tentará a solução", explica o secretário Arnaldo Niskier. Estudo do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação com a Fiocruz mostra que 61% dos mestres que tentam licença médica têm quadro de estresse, depressão e síndrome do pânico, como O DIA revelou ontem. Doenças provocadas, muitas vezes, pela violência sofrida na escola e arredores. "Em um mês foram 20 mil pedidos de licença, isto não se justifica", minimiza Niskier, que alega que professores adoecem como qualquer trabalhador. Em 2005, foram 81.503 afastamentos, 21,3% a mais que em 2004. PÂNICO E DEPRESSÃO A síndrome do pânico tirou Maria Stella Ramos da Silva, 43, da sala por um ano. Ela levou cinco para se curar. Outra vítima é Alvaro Luiz Medeiros, 49. Desde agosto, tirou várias licenças. "Entro em pânico quando vou dar aula. Fiquei hipertenso e deprimido", revela ele, que passou a sofrer em abril, ao ser transferido de Campos para Caxias. "Os alunos não têm limites. Ficamos acuados. Um já me empurrou. Não tenho dormido e tomo Diazepan todo dia. Amo a carreira, mas aqui no Rio não dá". Dar aulas em áreas violentas também faz mal à saúde. Com 25 anos de magistério, professora de História do Município que leciona na Zona Norte revela: "Nas áreas de conflito ficamos entregues à própria sorte". Cerca de 10.400 professores da rede pública lecionam em regiões conflituosas. Entre as 1.054 unidades da Prefeitura do Rio, 212 estão ali. Sobrecarga de horas adoece Além da violência, o excesso de horas extras também contribui para a degradação da saúde dos mestres. Segundo o Sepe, 12 mil profissionais da rede municipal e 20 mil da estadual trabalham além da conta. Levantamento da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação em 10 estados mostra que a classe faz, em média, 22 horas extras semanais além das 20 ou 40 horas trabalhadas de segunda a sexta-feira. Segundo a pesquisa, são gastas 14 horas por semana em serviços extra-remunerados e 8 horas em trabalhos feitos em casa, relacionados à profissão. Para a psicóloga do Iaserj Liz Muylaert, que atende professores estaduais, a violência aliada à sobrecarga de trabalho tem sido um dos maiores causadores dos problemas neurológicos que afetam a categoria. "A violência gera ansiedade e estresse muito grandes, porque essas pessoas estão ali para ensinar e não sabem lidar com este problema", explica. ‘ACHEI QUE IA MORRER’ "Eu fazia 60 horas semanais quando, um dia, acordei de madrugada achando que ia morrer. A partir de então, sair de casa era um sacrifício. Para ir trabalhar, amigas tinham que me esperar no ponto de ônibus. Apesar de tudo, os alunos te agridem, mas você tem de ficar quieta, porque eles são os ‘santinhos’. O pior é ouvir que eu estava de frescura e não queria trabalhar." Maria Stella Ramos da Silva, 43 anos, professora
Drama nas escolas 2: Entre livros e remédios Violência leva mestres a sofrer síndrome do pânico e depressão Hoje é dia de parabenizar os professores pelo trabalho e dedicação prestados a milhares de alunos. Tarefa que realizam, muitas vezes, sob a pressão da violência dentro das quatro paredes da sala de aula. Ou na vizinhança de seu local de trabalho. Esse fator tem sido devastador à saúde desses profissionais, que passam a desenvolver doenças como depressão e síndrome do pânico. Ano passado, segundo a Secretaria Estadual de Educação, 81.503 entraram de licença, mais de 10 mil além das concedidas em 2004: 67.178. Segundo o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), 61% dos professores da rede que pediram licença médica na Superintendência de Saúde e Qualidade de Vida no Trabalho alegavam sofrer de estresse, depressão, síndrome do pânico e ansiedade. Cláudia (nome fictício), 39 anos, foi uma das vítimas do mal da violência. Ela ficou 8 meses afastada e precisou de um ano e meio de terapia para superar a agressão de aluna de 18 anos que a fez desmaiar de dor após arrastá-la pelo cabelo em março do ano passado. O crime rendeu à jovem condenação a três meses de serviço comunitário em asilo de Caxias. Ela deixou a escola. Exaustão emocional ataca 48% Houve um tempo em que professores sofriam apenas com problemas nas cordas vocais ou alergias a giz. Hoje, eles se tornam vítimas de doenças inerentes a pressões como a da violência, a que estão expostos, muitas vezes, devido à profissão. Baseada em dados da rede estadual de ensino do Rio, de 2002, dissertação de mestrado de Luciana Gomes na Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz, enumerou casos de ansiedade e insegurança. Síndromes como a do pânico e burnout — alta exaustão emocional — também foram detectadas. Esta última, de acordo com dados da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), foi detectada em 48% dos professores. A mesma pesquisa constatou que o drama provoca "alta rotatividade" nas escolas, já que muitos pedem transferência ou acabam recorrendo a licenças médicas. Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, crê na valorização do mestre e no aumento da qualidade e investimento da Educação para superar a crise: "O professor está inserido em conjunto de problemas. O papel social e a remuneração deveriam ser condizentes com o desafio que enfrenta". ‘FIQUEI CHEIA DE HEMATOMAS’ "Em 15 anos de profissão, nunca imaginei que isso pudesse acontecer em uma relação aluno-professor. Sofri agressão gratuita, simplesmente por ter falado para a aluna ficar quieta ou deixar a sala, porque a conversa dela estava atrapalhando. Iniciamos uma pequena discussão e, quando achei que havia acabado, me virei para o quadro. Nesse momento, ela me jogou um livro e veio para cima de mim. Saí correndo para outra sala. Ela foi atrás e começou a me bater e puxar os meus cabelos. Só largou depois que outros alunos conseguiram agarrá-la. Fiquei a ponto de desmaiar e cheia de hematomas pelo corpo. Foi muito traumatizante. Minha família queria que eu abandonasse a profissão." Claudia, professora em Caxias, 39 anos Mais de 10 mil professores reféns do medo Conseguir entrar e sair das salas de aula pode ser uma grande e perigosa exposição para professores, dependendo de onde a escola se localiza. Mais de 10 mil profissionais das redes estadual e municipal que atuam na capital trabalham em áreas de risco e tentam lecionar em meio a balas perdidas e ameaças que vêm do outro lado dos muros da unidade. São reféns do medo cerca de 10.400 professores, entre os 77 mil da rede estadual e 35.680 da municipal. Professora de Português que não quis ser identificada chegou a ser assaltada dentro de escola onde trabalhava, em Brás de Pina, Zona Norte do Rio. "Achei que o colégio fosse um local de proteção. Hoje dou voltas de carro e falo no celular com alguém da escola para me esperar na porta", conta. Levantamento da Prefeitura do Rio, através do Instituto Pereira Passos, revelou que a violência fora das salas de aula na rede municipal cresceu 10% entre 2001 e 2005. O estudo indica que os professores que mais sofrem são os que trabalham em bairros da Zona Norte, como Méier e Inhaúma, além do subúrbio e Zona Oeste. Pesquisa da educadora Tânia Zagury com 1.172 professores em 42 cidades, entre elas o Rio, mostrou que a maior dificuldade do mestre em sala de aula é manter a disciplina dos alunos (22%). E 44% deles justificaram que estudantes não têm limites, são rebeldes, agressivos ou faltam com respeito. Denúncia ao Ministério Público O problema de segurança pública que atinge professores e se reflete no aumento das licenças médicas é tão grave, que o Sindicato dos Profissionais em Educação (Sepe) resolveu fazer levantamento cruzando informações de licenças médicas e exonerações, e encaminhará ao Ministério Público. "A realidade aponta para desgaste profundo da classe e um número de licenças absurdo. Isso é apenas a ponta do iceberg", conta a coordenadora Vera Nepomuceno. Depois de inúmeras denúncias de casos de violência, o vereador Eliomar Coelho (PSOL) fez projeto de lei para criar o Programa Interdisciplinar de Participação Comunitária para Prevenção e Combate à Violência em escolas do município. Entre os objetivos da proposta, formação de grupos de trabalho e implantação de ações contra a violência. ‘EU COBRO, ELES ME AMEAÇAM’ Meu problema começou há três anos. Quando cobro empenho dos alunos, eles me ameaçam. Uma vez, um deles me disse que conhecido seu tinha um fuzil. Outro falou que iria ao Conselho Tutelar me denunciar por discriminação. A sala de aula nos últimos 10 anos piorou. Hoje, os estudantes não respeitam o professor e acham que têm sempre a razão. Quando me formei, tinha sonhos e ideais, hoje isso acabou. Se pudesse, largaria tudo e ficaria bem longe do que não está me fazendo bem. Desde janeiro, tomo remédios controlados para combater minha depressão, mas acredito que, mesmo depois do tratamento, não conseguirei ser a pessoa que eu era há seis anos. Já pedi licença médica."
Helena (nome
fictício), professora em Caxias, 37 anos Fonte: O Dia, Andréia Lopes e Jefferson Machado, Rio, 15/10/2006. |