Metade dos universitários não se forma
Brasil tem uma das mais altas taxas de evasão no ensino superior;
Para
um dos responsáveis pelo estudo, o principal motivo da alta evasão
Para estimar a evasão no ensino superior brasileiro, o instituto comparou o número de concluintes com o de ingressantes quatro anos antes. Essa relação é chamada de taxa de titulação. No caso do Brasil, ela foi de 51% em 2005, já que 718 mil estudantes se formaram naquele ano, número bastante inferior ao 1,4 milhão que, em 2002, entrou no sistema. Os 49% restantes representariam, portanto, o contingente estimado que evadiu do sistema. Comparações feitas pelo instituto mostram que a taxa é alta quando comparada com países desenvolvidos ou em desenvolvimento. No Japão, apenas 7% dos alunos não concluem o curso após quatro anos. No México, esse percentual chega a 31%. O patamar brasileiro é próximo do da Colômbia (51%). Uma outra forma de avaliar a evasão é estimando isso anualmente. Nesse caso, os dados do Censo da Educação Superior calculados pelo Instituto Lobo mostram que a taxa em todo o sistema foi de 22%. Isso significa que 750 mil alunos deixaram de estudar em 2005. Essa taxa, no entanto, é maior na rede privada (25%) do que na pública (12%). Ao longo dos últimos cinco anos, tanto a taxa de evasão anual quanto a evasão em quatro anos ficaram estáveis. Para Oscar Hipólito, um dos autores do estudo coordenado pelo consultor e ex-reitor da USP Roberto Lobo e realizado em parceria com Paulo Motejunas e Maria Beatriz de Carvalho Lobo, as instituições de ensino superior precisam adotar novas estratégias para evitar que o aluno deixe de estudar, em vez de apenas se preocuparem em atrair estudantes. "De 2004 para 2005, o número de matrículas no ensino superior aumentou em 290 mil. O número de alunos que evadiram do sistema, no entanto, foi muito maior [750 mil]. A perda desses alunos causa prejuízos tanto para a rede pública quanto para a privada, já que você mantém toda uma estrutura para receber aquele aluno, mas ele não está mais estudando." Na avaliação dele, o principal fator a explicar a evasão não é econômico, mas sim de qualidade do ensino: "Acreditava-se muito que a questão financeira era a vilã da história, mas percebemos em vários estudos que há várias outras razões. A principal delas talvez seja o desestímulo com o curso ou a falta de conhecimento prévio sobre a carreira escolhida no vestibular. Se o ensino for de qualidade e houver bons professores, no entanto, ele fará de tudo para continuar estudando". Escolha precoce O presidente do Conselho Nacional de Educação, Edson Nunes, concorda com a análise de Hipólito. "Acho até surpreendente que a taxa de desistência não seja maior, já que muitos cursos têm a mesma cara que tinham no século 19 e não são atraentes para os jovens. São visões antigas de mundo, que oferecem pouco do ponto de vista de uma formação mais sólida. Hoje, nossas universidades oferecem, na verdade, apenas um ensino tecnológico metido a besta." O reitor da Universidade Federal de Mato Grosso e presidente da Andifes (associação dos reitores das federais), Paulo Speller, cita também como explicação o fato de a escolha da carreira ser feita muito cedo no Brasil. "O jovem faz muitas vezes uma escolha não acertada e acaba optando por trocar de curso numa mesma universidade ou até por voltar a fazer um novo vestibular", diz. Felipe Thomé da Silva, 23, foi um dos milhares a ter se desiludido com sua escolha. Ele fez dois anos de jornalismo, mas desistiu. "Vi que não era a minha área e tranquei o curso", conta. Ele decidiu fazer um novo vestibular, desta vez para direito. "Eu até estava gostando do curso, mas tive que trancar a matrícula por não ter como pagar. Em 2007, no entanto, tenho planos de voltar a estudar."
Fonte: Folha de S. Paulo, Antônio Gois da sucursal do RJ, 2/1/2007. |