Mente sem segredos
Pesquisa de brasileiros revela como o cérebro se comporta nos atos de
generosidade.
Por dois anos, a dupla de pesquisadores submeteu 19 voluntários americanos à ressonância magnética, um exame que produz imagens da ação do cérebro, para analisar suas reações durante um jogo criado para a pesquisa. No início, cada voluntário recebeu US$ 128. Em seguida, os nomes de várias entidades, de fundos sociais das Nações Unidas a organizações de defesa do uso de armas, foram apresentados em seqüência num telão, em intervalos de sete segundos. As opções eram doar ou não US$ 5 a cada uma delas ou ainda pagar para que determinada instituição não recebesse contribuições. O saldo – ou todo o dinheiro, se nada fosse oferecido – poderia ser levado para casa pelo voluntário. Detalhe: as doações, as instituições, os dólares e a liberdade de ficar com eles eram verdadeiros, o que deu dimensão real a todas as decisões dos pesquisados. Enquanto o processo ocorria, a ressonância mostrava a atividade cerebral diante de cada escolha. Independentemente do caráter da instituição, quem optava por não doar e ficar com o dinheiro registrava uma intensa atividade nos circuitos de prazer. “É uma forma de recompensa pessoal”, explica Oliveira-Souza. O cérebro dessa mesma pessoa teve outra performance quando ela decidiu dar dinheiro a alguma entidade filantrópica. “Nestes casos, além do circuito do prazer, a oferta mobilizou também o córtex subgenual, uma estrutura que chamamos de área da empatia. Ela entra em ação quando nos ligamos afetivamente ou fazemos algo de bom a alguém”, observa o cientista. Outras áreas cerebrais foram ativadas quando os voluntários pagaram para vetar donativos a quem eles moralmente reprovavam. Nesse momento, entraram em cena setores associados à aversão, à raiva e à indignação. Por fim, os exames revelaram também que, durante a tomada de decisão, uma parte anterior do cérebro, o pólo frontal, era ativada. “Essa área, associada ao planejamento, se manifesta quando a pessoa pondera se faz ou não uma escolha”, descreve o pesquisador. A possibilidade de visualizar a ação cerebral no momento em que surge a intenção de tomar uma atitude é uma das fortes linhas de estudo da neurociência. Outro trabalho recente, liderado pela universidade britânica de Oxford, antecipou com até 70% de exatidão os planos de indivíduos que teriam de decidir entre somar ou subtrair números. Fascinantes, descobertas como essas alimentam o debate sobre a aplicação de novas tecnologias capazes de desnudar a mente humana. “É preciso avaliar as questões éticas e as implicações do tema”, alerta o neurocientista Colin Blakemore, diretor do Conselho de Pesquisa Médica, na Inglaterra. Mas a aplicação desses recursos parece ser questão de tempo. Os achados de Oliveira e Moll já dão sustentação a estudos de marketing e preferências políticas em países como os Estados Unidos e a Alemanha. “São técnicas que revelam muito mais do que os conhecidos detectores de mentiras, pois o cérebro não mente”, diz o pesquisador.
Fonte: Rev. IstoÉ, Celina Côrtes, 28/2/2007. Colaborou Greice Rodrigues. |