MEC cancela apresentação de documento sobre cotas
O
MEC cancelou o ato de divulgação da pesquisa que fornece argumentos a quem
é contra a política de cotas no O lançamento do estudo, financiado pelo MEC e realizado pelo Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis, estava marcado para as 10h, no auditório do ministério, em Brasília. Mas foi suspenso por determinação do gabinete do ministro Tarso Genro. O fórum é ligado à Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), cuja presidente, a reitora Ana Lúcia Gazolla, compareceu ao MEC ontem. O auditório estava pronto para a divulgação do 2º Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Instituições Federais de Ensino Superior. Na mesa principal, havia placas com o nome do ministro e do secretário de Educação Superior do MEC, Nelson Maculan. Jornalistas e convidados já estavam no lugar, juntamente com a coordenadora do fórum, Tèrese Hofmann, uma das autoras do estudo e decana da Universidade de Brasília (UnB). Para surpresa e constrangimento de todos, as placas com os nomes de Tarso e Maculan foram retiradas e Tèrese deixou o lugar. Em seguida, uma assessora do ministério informou aos jornalistas que o lançamento da pesquisa estava cancelado. Cerimonial não foi avisado, diz MEC No fim da tarde, o secretário-executivo do MEC, Fernando Haddad, divulgou nota afirmando que o evento foi cancelado porque não havia sido ‘comunicado devidamente’ ao cerimonial do ministério. ‘O evento, mesmo divulgado à imprensa com antecedência pela assessoria de imprensa da Universidade de Brasília (UnB), não foi comunicado devidamente ao cerimonial do ministério, a não ser quando faltavam 30 minutos para o seu início, o que levou à inviabilidade da cerimônia. Tampouco o gabinete do ministro tinha conhecimento do evento’, diz a nota. Mas, em vez de marcar nova data para divulgar a pesquisa, resolvendo o alegado problema com o cerimonial, o MEC preferiu não decidir quando o assunto voltará a ser tratado. ‘A referida pesquisa deve ser analisada em conjunto pelas entidades envolvidas e, oportunamente, a totalidade do seu conteúdo será divulgada’, diz a nota. A UnB informou que a Secretaria de Educação Superior do MEC havia sido avisada com antecedência de dias e que a divulgação fora acertada com o secretário Maculan. Técnicos da Sesu também disseram ter feito contato para combinar a divulgação. O MEC afirma que não teve a intenção de boicotar ou evitar a divulgação do conteúdo da pesquisa, que já era de conhecimento público desde a sexta-feira, quando seu teor foi noticiado pelo ‘Jornal Nacional’, da TV Globo. Na pesquisa, a maioria dos universitários se declarou branca (59,4%). Outros 28,3% disseram ser pardos e 5,9%, negros. Os dados disponíveis na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2003 mostram que tanto para negros como para brancos os percentuais são semelhantes aos declarados pela população em geral. Segundo a PNAD, 51,1% dos brasileiros se declaram brancos e 5,9%, negros. Há discrepância, porém, em relação aos pardos registrados pela PNAD, 41,4%, o que poderia, na avaliação do MEC, justificar a política de cotas. A pesquisa que o MEC cancelou a divulgação mostrou ainda que 65% dos estudantes são de famílias com renda média mensal entre R$ 207 e R$ 1.600, sendo que 42,8% têm renda familiar de até R$ 927. Pelo menos 46,2% dos estudantes entrevistados chegaram à Universidade depois de estudar o ensino médio na rede pública. — Ao contrário do que muitos acreditam, a maior parte dos estudantes das Universidades públicas federais é da classe C, D e E — concluiu a professora Tèrese Hofmann, uma das coordenadoras do estudo. (O Globo, 15/3) Leia a íntegra da nota explicativa lançada pelo MEC e assinada pelo seu secretário-executivo, Fernando Haddad: ‘O Ministério da Educação vem a público esclarecer as circunstâncias que levaram ao cancelamento do ato de divulgação da pesquisa 2º Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Instituições Federais de Ensino Superior, marcado para hoje, 14, às 10h, no auditório do edifício-sede do MEC. O evento, mesmo divulgado à imprensa com antecedência pela assessoria de imprensa da Universidade de Brasília (UnB), não foi comunicado devidamente ao cerimonial do ministério, Depto. responsável pela organização de atos desta natureza, a não ser quando faltavam trinta minutos para o seu início, o que levou à inviabilidade da cerimônia. Tampouco o gabinete do ministro tinha conhecimento do evento. A referida pesquisa, feita pelo Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace), em parceria com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), deve ser analisada em conjunto pelas entidades envolvidas e, oportunamente, a totalidade do seu conteúdo será divulgada.’
Fonte: SBPC/Jornal da Ciência/JC-email 2726, 15/03/2005. |