Maquiavel e o Iapar
Como escritor, notabilizou-se pela publicação de ''O Príncipe'', obra prima de astúcia e malícia políticas, inspirado na figura de César Borgia, um governante corrupto e imoral da época. O livro ensina como governar, separando a política da moral, no entendimento de que os fins justificam os meios. Se vivo fosse, Maquiavel daria o seguinte conselho aos governantes de plantão: “Não desperdice dinheiro com Ciência e Tecnologia (C&T). Seus resultados demoram muito a aparecer e quando aparecerem, você não estará mais no poder. Usufrua dos desenvolvimentos tecnológicos gerados pelos governantes anteriores, cujos benefícios perdurarão por um longo período ainda. C&T é como um trem: uma vez desligada a locomotiva, ele continuará a deslizar pelos trilhos, parando muitos quilômetros depois. Ninguém saberá quando e onde foi desligado. Cancele todos os projetos de pesquisa e utilize esse dinheiro para fazer asfalto, comprar ambulâncias, construir casas populares. Coisas que o povo possa ver e apreciar. Assim você aparecerá e agradará ao povo, que te recompensará com um segundo mandato. Pense na próxima eleição e não na próxima geração. Quando os efeitos perniciosos da falta de investimentos em C&T começarem a aparecer, você estará concluindo teu segundo mandato. O desgaste será do governante seguinte, quem terá que investir muito para pôr novamente a máquina a funcionar e não terá dinheiro para realizar obras mais visíveis. Fique tranqüilo, você será eleito para um terceiro mandato.” Fala-se insistentemente no descaso a que está relegado o Iapar, a mais importante instituição de C&T agrícola do Estado. Orgulho de Londrina, nossa cidade não pode fazer de conta que não vê e não sabe o que está acontecendo. Mais importante que trazer uma nova atividade econômica para Londrina, é não deixar que o que existe seja desmontado. Não sei quem possa ser o responsável pela delicada situação em que se encontra a Instituição, mas uma coisa é certa: não é culpa apenas do atual governo. Se o trem está parando agora, é porque a máquina foi desligada muitos anos atrás. No governo Lerner ou, até, antes dele. A propósito, tem gente que ainda crê na possibilidade de o presidente John Kennedy estar vivo, apesar de ter visto o seu cérebro jogado sobre o capô da limusine que o conduzia.
Eu também não acredito
que Maquiavel morreu. Ele está vivo. Tem 536 anos e vive escondido em algum
lugar de Brasília, onde oferece consultoria à turma do mensalão, sobre como
promover uma política de resultados.
* Amélio Dall'agnol é engenheiro agrônomo e pesquisador em Londrina. Fonte: Folha de Londrina, 27/6/2005 |