Mais planetas no céu

 

Com base em recentes avanços na observação do cosmo, astrônomos apresentam
proposta que altera a configuração do sistema solar

Uma assembléia de 2 500 astrônomos reunida desde a semana passada em Praga, na República Checa, está prestes a alterar a configuração do sistema solar, aumentando de nove para doze o número de planetas. A mudança figura num documento elaborado pela União Astronômica Internacional que estabelece novos critérios pelos quais um astro deve ser classificado como planeta. Diante dos avanços da astronomia na observação do sistema solar, a definição tradicional de planeta – um corpo celeste, sem luz própria, que gira em torno de uma estrela – tornou-se demasiadamente vaga. Por isso, nas últimas décadas, criou-se uma polêmica infindável entre os cientistas para definir que tamanho e que propriedades físicas deve ter um corpo celeste para ganhar o status de planeta. Agora, o documento a ser aprovado nesta quinta-feira na reunião de Praga vai regular a questão. Serão considerados planetas os astros que, além de se mover na órbita de uma estrela, tenham massa suficiente para que sua própria gravidade os torne esféricos e possuam diâmetro mínimo de 800 quilômetros. Na prática, os novos critérios da União Astronômica Internacional deixam mais flexíveis as regras para a entrada na confraria dos planetas.

Entre os novos planetas, o mais próximo do Sol é Ceres, situado entre Marte e Júpiter. Descoberto em 1801, Ceres foi posteriormente rebaixado a asteróide, diante da medição de seu diâmetro. Agora, volta a ser planeta. Pelas novas regras estabelecidas pelos astrônomos, a eterna controvérsia sobre a classificação de Plutão como planeta fica encerrada. Embora de tamanho diminuto para os padrões cósmicos, com diâmetro menor que o da lua terrestre, sua condição de planeta fica garantida. Caronte, que até hoje era apenas uma lua de Plutão, passa a ser planeta. O mesmo ocorre com Xena, um vizinho de Plutão descoberto no ano passado por astrônomos americanos. A descoberta de Xena foi um dos fatores que apressaram a decisão dos cientistas de estabelecer normas mais precisas para a definição de planeta. Como ele é maior que Plutão e tem características quase idênticas, não faria sentido imputar-lhe a condição de mero asteróide.

Plutão, Caronte e Xena pertencem ao chamado Cinturão de Kuiper, um conjunto de milhões de rochas geladas situado nas fronteiras conhecidas do sistema solar. Por meio de observações recentes, os astrônomos calculam que nessa região haja pelo menos mais uma dúzia de astros com massa suficiente para se tornar planetas no futuro próximo. A proposta da União Astronômica Internacional cria uma classificação à parte para os planetas situados no Cinturão de Kuiper. Eles são chamados de plútons. Em comum, têm órbitas que demoram mais de 200 anos terrestres – além de temperaturas que ultrapassam 200 graus negativos. Se, como tudo indica, a assembléia de Praga aprovar o documento da União Astronômica Internacional, a ciência contará com critérios mais claros para o estudo do cosmo.

 

Fonte: Rev. Veja, Rosana Zakabi, ed. 1970, 23/08/2006

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Resoluções de Praga - 24/08/2006

Astrônomos decidem: Plutão não é mais planeta 

  

Votação em Praga, nesta quinta-feira, deixa Sistema Solar com apenas 8 planetas
verdadeiros. Plutão e outros astros que eram candidatos à categoria planetária
ganham o nome de planeta-anão; gravidade valeu como "nota de corte"

Quem tinha apego sentimental por Plutão bem que tentou arrumar uma vaga para ele no Sistema Solar, nem que fosse no tapetão. Mas não adiantou.

Por mais que os astrólogos digam que ele sempre influirá no destino dos terráqueos, o fato é que o ex-nono planeta está oficialmente rebaixado para a segunda divisão, ganhando o apelido de "planeta-anão".

Depois de uma semana de debates tão esquentados quanto (às vezes) surreais, a solução de consenso entre os 2.500 cientistas presentes à reunião da IAU (União Astronômica Internacional, na sigla inglesa) foi admitir apenas oito planetas "verdadeiros" nos domínios do Sol.

Foi uma reviravolta e tanto em relação à proposta inicial de uma comissão da IAU -ampliar para 12 o número de planetas do Sistema Solar, e isso só para começo de conversa-, mas a mudança já se desenhava desde que a expansão foi cogitada publicamente.

O Comitê para Definição de Planeta, da IAU, queria um conceito de planeta que valesse para o Universo inteiro. A rebelião da comunidade astronômica contra a proposta fez o comitê engolir a pretensão e se contentar com uma definição que resolvesse os problemas dos vizinhos da Terra, e olhe lá.

"Se eu estou desapontado? Desapontado não é a palavra exata", disse à Folha, com voz pastosa e aparentemente exausto, o astrônomo Richard Binzel, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), um dos membros do comitê.

"O Universo é um lugar complexo, e alguns astrônomos acharam que talvez estivéssemos indo longe demais com uma tentativa tão abrangente. Acho que foi uma decisão razoável, no fim das contas", concluiu Binzel de seu quarto de hotel em Praga, capital tcheca, onde a reunião da IAU aconteceu.

A história é que manda

O argumento usado para rebaixar Plutão foi, em essência, baseado na história do Sistema Solar.

Ao insistir que, para ser um planeta, um astro tem de ser não apenas esférico e não-estelar como capaz de "limpar a vizinhança de sua órbita", os astrônomos querem mostrar que a formação dos oito planetas, de um lado, e a de Plutão, de outro, foram bem diferentes.

"Limpar mesmo os arredores significa ter massa suficiente para continuar engolindo matéria no processo de crescimento", explica o astrônomo Cássio Leandro Barbosa, da Univap (Universidade do Vale do Paraíba).

Plutão não foi capaz, por exemplo, de engolir outros corpos na sua formação. Nem seu satélite Caronte, gira propriamente em torno dele -eles giram um em volta do outro. Além do mais, sua trajetória cruza a de Netuno, que é muitíssimo maior. Assim, ele nunca poderia ser considerado o objeto dominante.

Dois dos astros que poderiam integrar uma lista de 12 planetas -Ceres, que fica entre Marte e Júpiter, e o misterioso "Xena", nas fronteiras geladas do Sistema Solar-, entram para a lista de planetas-anões. Outros devem se juntar a eles logo.

 

Fonte: Folha de S. Paulo, 25/8/2006.

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