As maiores da produção
científica Para quem procura se aperfeiçoar como pesquisador num grande centro científico, o caminho óbvio a seguir é os Estados Unidos. Mas há também centros de excelência em outros países. Num ranking fornecido à Folha pelo ISI (sigla, em inglês, de Instituto para a Informação Científica), listando as 20 instituições que mais produziram artigos científicos nos últimos dez anos, nada menos que 7 não são americanas. O ISI indexa as revistas e periódicos científicos mais importantes do mundo, e seus levantamentos são considerados por cientistas e instituições como o guia mais confiável para medir o desempenho no campo. O critério é o seguinte: quanto mais a instituição publica em revistas científicas, melhor a sua posição. Os dados do instituto são acessíveis apenas a assinantes (em geral, centros de pesquisa ou agências de fomento). O americano David Pendlebury, gerente do departamento de pesquisa do ISI, explica que tipo de publicação ajudou a formar o ranking: "Os dados resultam de uma análise de artigos e revisões (aquilo que nós consideramos artigos substanciais), mas não incluem resumos, cartas ao editor, correções etc.". A contagem só inclui artigos em revistas científicas que usam o critério de "peer review". Nessa "revisão por pares", os trabalhos são examinados por outros pesquisadores da mesma área, anonimamente, antes de serem aceitos para publicação. De acordo com Pendlebury, é preciso levar em conta que os dados revelam a produção bruta de cada instituição —o que naturalmente beneficia as maiores. Esse é um dos motivos que dá à Academia Russa de Ciências, cujos laboratórios estão espalhados por todo o país e abrigam boa parte de seus cientistas, o primeiro lugar da lista. Usando os mesmos critérios, a universidade latino-americana com a melhor colocação é a USP (Universidade de São Paulo), que ocupa a 279ª posição. A participação do Brasil na produção científica entre os países latino-americanos é significativa, e andou crescendo ainda mais nos últimos anos. Só em 2001, pesquisadores brasileiros publicaram 10.555 artigos científicos indexados pelo ISI — o que corresponde a 40% da ciência produzida no subcontinente. Hoje, o país responde por 1,4% da produção científica mundial, tendo quadruplicado sua participação desde os anos 80. Embora a preponderância brasileira seja, em parte, reflexo do tamanho da população e da economia brasileiras quando comparadas às dos demais países, o Brasil é o nono país que mais cresce em pesquisa científica. Os dados fornecidos à Folha pelo ISI revelam que, das 20 instituições que mais produzem ciência na América Latina, 12 são brasileiras. A pesquisa médica é a área na qual a USP, a primeira colocada do ranking, mais se destaca —em parte graças à tradição de estudos de "alto nível", segundo afirma Luiz Alberto Bacheschi, presidente da comissão de pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP. Além dos estudos do genoma humano, Bacheschi também destaca as pesquisas em cardiologia, neurologia e bioengenharia. "Se eu fosse explicar o nosso destaque com uma palavra, seria 'tradição'", diz George Kleiman, coordenador de pós-graduação do Instituto de Física Gleb Wataghin, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). A pesquisa em física responde pela maior parte das pesquisas publicadas pela universidade —segundo lugar no ranking latino-americano— em revistas científicas internacionais.Kleiman diz que o instituto procura conciliar a pesquisa básica com a aplicada, investigando problemas da física teórica e novas alternativas tecnológicas. "Existe uma forte realimentação entre essas áreas", afirma Kleiman. A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) são as duas únicas instituições brasileiras que fazem parte da lista das 20 maiores em produção científica da América Latina. A pesquisa médica da Fiocruz rendeu à instituição sua posição na lista —é uma das pioneiras no país no estudo de doenças tropicais. A Embrapa desenvolve pesquisas que vão desde a criação de novas variedades agrícolas até o manejo de florestas. "Temos tanto centros voltados para produtos quanto ligados à questão ambiental ou aos ecossistemas das várias regiões do Brasil", diz Júnia Rodrigues de Alencar, da Coordenadoria de Acompanhamento e Avaliação. Apesar de a instituição não ter programa independente de pós-graduação, ela orienta e abriga pós-graduandos de universidades públicas, com as quais mantém convênios. A Argentina, por sua vez, aparece no ranking latino-americano das 20 maiores com apenas duas instituições —Universidade de Buenos Aires (3º lugar) e Instituto Cardiológico de Buenos Aires (20º). Medicina e química estão entre as áreas de pesquisa mais avançadas das duas instituições argentinas. Mas a comunidade científica do país sofre os efeitos da crise social e econômica que custou quase um quarto do PIB (Produto Interno Bruto —soma dos valores de todos os bens e serviços finais produzidos em um país) argentino. Os dois principais problemas são similares aos que enfrentam os demais países em desenvolvimento, ainda que tenham se agravado por conta da crise: emigração de jovens pesquisadores e falta de recursos. O governo, por exemplo, gastava 1,72% do orçamento nacional em programas de pesquisa, ciência e tecnologia. A cifra caiu para 1,04% neste ano. Em termos nominais, o gasto foi até maior. Mas a inflação de 40% corroeu o poder de compra dos pesos com os quais o governo financia os programas. Hoje, os argentinos gastam apenas 0,39% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, cifra que chegava a 0,45% em 1999. Em 2003, a previsão é que os gastos fiquem em 0,32% do PIB. Apesar dos problemas, os institutos de pesquisa conseguiram manter um corpo estável de pesquisadores e, em 2002, até aumentá-lo. Hoje, há 3.955 pesquisadores nos programas de pesquisa argentinos. O secretário de Ciência e Tecnologia, Julio Luna, diz que o setor sofreu com a crise, mas não foi "destruído". "Contamos, e somos gratos por isso, com uma ajuda grande do Brasil, que manteve e financiou todos os programas bilaterais nos seis primeiros meses deste ano", diz. Colaborou Marcelo Billi, da Folha de S.Paulo, em Buenos Aires.
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Conheça
as 20 maiores do ranking científico mundial (* Veja observação no rodapé!) |
1) Academia
Russa de Ciências (Rússia) -
www.ras.ru 2) Universidade
do Texas (EUA) -
www.utexas.edu
3) Universidade
Harvard (EUA) -
www.harvard.edu 4) Universidade
de Tóquio (Japão) -
www.u-tokyo.ac.jp 5) Universidade
da Califórnia em Los Angeles (EUA) -
www.ucla.edu 6) Universidade
de Illinois (EUA) -
www.uillinois.edu 7) Universidade
de Michigan (EUA) -
www.umich.edu 8) Universidade
de Wisconsin (EUA) -
www.wisc.edu 9) Universidade
de Washington (EUA) -
www.washington.edu 10)
Universidade de Toronto (Canadá) -
www.utoronto.ca 11)
Universidade Johns Hopkins (EUA) -
www.jhu.edu 12)
Universidade de Minnesota (EUA) -
www.umn.edu 13)
Universidade de Kyoto (Japão) -
www.kyoto-u.ac.jp 14)
Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA) -
www.berkeley.edu 15)
Universidade Stanford (EUA) -
www.stanford.edu 16)
Universidade Cornell (EUA) -
www.cornell.edu 17)
Universidade de Cambridge (Reino Unido) -
www.cam.ac.uk 18)
Universidade da Pensilvânia (EUA) -
www.upenn.edu 19) Centre
National de la Recherche Scientifique (França) -
www.cnrs.fr 20)
Universidade de Osaka (Japão) -
www.osaka-u.ac.jp |
Conheça
as 20 maiores do ranking científico latino-americano
|
1) USP (Universidade de São Paulo)
Área com maior produção - medicina Destaques de pesquisa - biologia molecular (genoma humano), além de cardiologia, neurologia e bioengenharia Pós-graduação - www.usp.br/prpg 2) Universidade Nacional
Autônoma do México
3) Universidade de Buenos
Aires - Argentina
4) Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas)
5) UFRJ
(Universidade Federal do Rio de Janeiro)
6) Pontifícia Univesidade
Católica do Chile
7) UFRGS (Universidade Federal
do Rio Grande do Sul)
8) UFMG
(Universidade Federal de Minas Gerais)
9) CBPF (Centro Brasileiro de
Pesquisas Físicas)
10) Universidade das Índias
Ocidentais - Jamaica, Barbados e Trinidad e Tobago
11) UFSC (Universidade Federal
de Santa Catarina)
12) Universidade Central da
Venezuela
13) Universidade Autônoma
Metropolitana de Iztapalapa - México
14) Instituto Nacional da
Nutrição Salvador Zubirán - México
15) UFSCar (Universidade
Federal de São Carlos)
16) PUC-RJ
(Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)
17) Unifesp
(Universidade Federal de São Paulo)
18) Fiocruz
(Fundação Oswaldo Cruz)
19) Embrapa (Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária)
20) Instituto Cardiovascular de
Buenos Aires - Argentina
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Obs: Clique nos links das Instituições
pressionando ao mesmo tempo a tecla 'Shift'. Fonte: Folha Sinapse, 17/12/2002 - São Paulo SP - Reinaldo José Lopes |