Magnífico, reitor!
Se
os estudantes ainda tivessem força — ah, se a UNE fosse o que era há 40
anos! — esse Uma obra-prima de cinismo, mesmo considerando o festival de desculpas esfarrapadas que vem assolando o país ultimamente, cada uma melhor do que a outra. Basta lembrar a do ministro da Pesca, que alegou ter gasto R$ 512,60 numa churrascaria de Brasília por causa de uma delegação chinesa (chinês come muito) e R$ 222,85 no Rio, na quarta-feira de cinzas, com o seu colega norueguês que veio ver a Imperatriz desfilar (bacalhau foi o tema do desfile, não se sabe se do almoço também). O magnífico começou contestando os R$ 475 mil que, de acordo com o Ministério Público, ele teria gasto na decoração do apartamento. Um exagero. Os custos foram de R$ 350 mil, afirmou, e assim afastou a suspeita de um grande absurdo. Não houve nada demais. O que são R$ 350 mil? Vai ver que tem professor ganhando isso por ano. Afinal, como argumentou, não é apenas um apartamento para ele morar, é também um local de “encontro com professores, cientistas e delegações estrangeiras”. Não precisou acrescentar que essa gente é muito exigente. Professor então! Está acostumado com luxo. Eles não aceitam fazer reunião em qualquer lugar e de qualquer jeito. Fico imaginando o reitor convocando-os para um encontro e tendo que ouvir: “Tudo bem, magnífico, mas só se o saca-rolhas for de R$ 859 e o abridor de latas de R$ 159. Outra coisa, magnífico, só jogamos lixo em lata inoxidável de R$ 1 mil. E no mínimo três, porque, enquanto discutimos, jogamos muito papel fora.” Em tom professoral como convém a um reitor, Timothy Mulholand aproveitou para ensinar que, além da necessidade de material durável, “não se mobilia uma casa de qualquer maneira, tem linhas de estética para poder ter um conjunto harmonioso”. Ele tem razão, estética não é como ética, que não precisa de linhas nem de regras. Estética é fogo. Além do mais, foi tudo bancado pela Finatec, a fundação que nos últimos seis anos recebeu R$ 23 milhões da Universidade de Brasília. O melhor o magnífico guardou para o final da aula. Pressionado pelas evidências, achei que ele teria um surto de sinceridade e daria ao repórter a única explicação séria, aceitável: “E como é que eu podia adivinhar que iam descobrir?” Em vez disso, ele encerrou a sua aula assim: “Não há nenhum problema ético envolvendo. Nem legal, nem ético. Aquilo foi feito propositadamente com a finalidade institucional.” Se criassem o Prêmio Óleo de Peroba para os maiores caras-depau do escândalo dos cartões corporativos, o reitor de Brasília seria forte candidato.
Fonte: O globo, Primeiro Caderno, Zuenir
Ventura, 13/02/2008. * Artigo indicado por Aline Pereira, Assessora de Imprensa da Adur-Rj.
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