Lugar de
mestre e de doutor é nas empresas
"A
perversa realidade brasileira evidencia que, embora sejamos destacáveis
produtores de conhecimento, somos tímidos transmissores do mesmo via
inovação acessível às empresas" Estamos tão acostumados com associar pesquisadores com universidades que a muitos pode soar estranho o título acima. No entanto, parte dos problemas que vivenciamos hoje com relação às dificuldades em transferir conhecimento para o setor produtivo, viabilizando um crescimento científico e tecnológico sustentável, passa por nos habituarmos que empresa também é lugar para nossos mestres e doutores. O Brasil ocupa a 13ª posição mundial em produção de conhecimento, sendo responsável por mais de 2% dos artigos publicados em revistas indexadas, o que é um resultado surpreendente, especialmente se observarmos que a taxa de crescimento nacional é muito superior do que a média mundial. Parte desse sucesso está associada com nossa muito bem estruturada pós-graduação, que forma em torno de 11 mil doutores e 35 mil mestres por ano. Números só comparáveis ao restante da América Latina somada. A perversa realidade brasileira evidencia, no entanto, que embora sejamos destacáveis produtores de conhecimento, somos tímidos transmissores do mesmo via inovação acessível às empresas. Ou seja, somos predominantemente, um país que aprendeu a fazer ciência de ponta e formar recursos humanos do mais alto nível sem ainda resultar na desejável transferência, no mesmo ritmo, desses conhecimentos ao setor empresarial. Mudar essa realidade demanda políticas públicas acertadas e continuadas, além de mudanças culturais que envolvem os empresários e a comunidade acadêmica. Entre as ações que podem contribuir com essas desejáveis transformações está o Programa RHAE- Recursos Humanos de Apoio às Empresas que financia projetos de pesquisa científica, tecnológica e de inovação dentro das empresas. Este mês, a Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Setec) do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), lançou um edital no valor de R$ 30 milhões cujo principal objetivo é apoiar a colocação de pesquisadores mestres e doutores dentro das empresas, prioritariamente naquelas de pequeno e médio porte. As propostas, a serem apresentadas nesta primeira etapa até dia 22 de janeiro próximo, com valor máximo por proposta de R$ 300 mil, devem estar associadas ao desenvolvimento tecnológico de produtos ou processos, visando ao aumento da competitividade das empresas por meio da inovação, adensamento tecnológico e dinamização das cadeias produtivas, além do incremento e compatibilidade com o setor de atuação, dos gastos empresariais com as atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, com a relevância regional e a cooperação com instituições científicas e tecnológicas. Inovação é, cada vez mais, item fundamental para medir o estágio de desenvolvimento da nação e das regiões, sendo requisito essencial para uma economia competitiva, próspera e sustentável. Assim, neste momento em que a indústria nacional dá sinais consistentes de recuperação, certamente o crescimento da competitividade de nossas empresas poderá ser consolidado através de participações em Programas como o RHAE, permitindo a desejável sustentabilidade do processo em curso.
* Ronaldo Mota é secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da C&T e professor titular de Física da Universidade Federal de Santa Maria. Foi secretário de Educação Superior e de Educação a Distância do Ministério da Educação.
Fonte: Artigo do "Jornal da Ciência", publicação da SBPC, 18/1/10.
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