Invasão na universidade
A
última do MST: cursos exclusivos em faculdades públicas – com o patrocínio
do governo
Assentados na sala de aula: o objetivo do
MST é formar quadros para "fazer a revolução". |
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Eis
algumas das diferenças entre um curso universitário feito sob medida
para assentados do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e
os demais. As aulas, sejam elas da faculdade de geografia ou pedagogia,
começam com uma espécie de encenação teatral durante a qual os sem-terra
fazem conclamações à luta contra as classes dominantes. As disciplinas
são definidas em assembléias nas quais os alunos têm cadeira e direito a
voto. Foi numa dessas reuniões que se decidiu incluir o espanhol no
currículo de um curso de letras na Bahia. Os assentados reivindicavam
aprender o idioma a pretexto de melhorar a comunicação com os
"companheiros" dos países da América Latina. Entre as matérias que só
eles têm, uma das descritas com maior entusiasmo é história dos
movimentos sociais, que "narra a luta pela terra" desde o Brasil
colônia. O calendário local também segue uma lógica própria. O 7 de
Setembro, em que se celebra a independência do Brasil, foi transformado
no "dia dos excluídos". Adoram-se – dentro e fora da sala de aula – Che
Guevara e Karl Marx. Por tudo isso, esses cursos de ensino superior,
exclusivos dos sem-terra, se distinguem dos oferecidos no restante do
país. |
Há, no entanto, dois
fatos surpreendentes que os tornam semelhantes aos demais. Eles ocorrem em
algumas das melhores universidades públicas do país, entre elas a Federal de
Minas Gerais (UFMG) e a Estadual Paulista (Unesp). E, como qualquer outro
curso de ensino superior, também concedem aos estudantes diploma de
graduação reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC). Um novo
levantamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que patrocina os
cursos, concluiu que o governo federal nunca investiu tanto na formação
universitária dos sem-terra: 6,3 milhões de reais só em 2006 (veja o quadro
abaixo). Já são dezesseis universidades públicas que oferecem graduação
exclusiva aos assentados. É isso mesmo: elas aceitam apenas sem-terra.
Segundo o ministério, o governo patrocina cursos do gênero nas áreas de
pedagogia, geografia, letras, história e direito.
Não é exatamente
uma novidade o fato de o MST receber verbas do governo para educar seus
integrantes. Na década de 80, o movimento pleiteou – e conseguiu –
tornar públicas as escolas dos assentamentos, até então improvisadas sob
lonas. Na década de 90, firmou convênios com faculdades públicas para
cursos eventuais. Há dois anos, o MST criou a Escola Nacional Florestan
Fernandes, espécie de universidade do movimento. O maior avanço, sem
dúvida, veio com os novos cursos superiores. Com eles, os sem-terra
estudam nas melhores faculdades do país, têm o privilégio da reserva de
vagas e ainda por cima impõem um regime paralelo. No vestibular, são
testados conhecimentos da cartilha do MST (veja alguns exemplos acima).
Os assentados
só |
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Curso de pedagogia da terra da UFMG. |
entram na disputa
por uma vaga com o aval dos líderes. Em sala de aula, onde se ensina um
currículo aparentemente convencional, predomina o discurso
anticapitalista e de ódio ao agronegócio. Dele, comungam os professores.
Diz Gelcivânia Mota, do curso de pedagogia da Universidade do Estado da
Bahia: "Os professores acreditam nas propostas dos movimentos sociais do
campo". |
Ensinar aos sem-terra
uma visão dogmática do mundo já é por si só um problema, mas o quadro piora
porque a catequese marxista se dá em universidades públicas – com patrocínio
do governo. A meta do MST ao levar assentados à academia, afinal, é preparar
gente para combater "o sistema" (aquele mesmo que os está bancando), e eles
tratam abertamente do assunto. Segundo o livro A Política de Formação de
Quadros, febre literária nos assentamentos do movimento, "quem não forma
quadros dificilmente atinge seus objetivos estratégicos na revolução". É
sempre bom saber que mais gente chega à universidade no Brasil. O problema,
neste caso, é que ela está servindo a uma causa anacrônica – e não se presta
ao papel fundamental de preparar jovens para atuar numa sociedade moderna.
O AVANÇO DO MST NO ENSINO SUPERIOR
Um novo
levantamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário mostra que
o governo federal destina a cada ano mais verbas para cursos
universitários exclusivos aos sem-terra. Eis os números:
Conclusão: o investimento do governo nesse tipo de curso
cresceu 270% em quatro anos.
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O diploma é o mesmo.
Já o vestibular...
Para
entrarem numa universidade pública, os sem-terra prestam um
vestibular próprio. Eis algumas das questões extraídas da prova
de múltipla escolha do curso de direito para assentados da
Universidade Federal de Goiás.
1. A relação entre estrutura fundiária e fome no Brasil
decorre da...
A -
evolução tecnológica das pequenas propriedades nas áreas de
fronteira
B - modernização da agricultura, que gerou desemprego no campo
C - concentração de latifúndios em regiões de solos mais pobres
D - ineficiência do gerenciamento empresarial agrícola nas
médias propriedades
2. Sob a lógica dos movimentos sociais no campo...
A - a
agricultura brasileira é latifundiária, sendo necessária sua
modernização para que a terra cumpra sua função social
B - o agronegócio é a forma de integração da agricultura
familiar ao mercado capitalista
C - a agricultura brasileira é latifundiária, sendo necessária
sua superação pela agricultura de caráter familiar
D - a agricultura brasileira tem caráter empresarial, portanto
não há necessidade de reforma agrária
3. O "campo goiano" é representado por inúmeras manifestações
culturais que desenvolvem uma diversidade de símbolos, dos
quais...
A - as
festas são ritos provenientes da cultura cristã ocidental
B - os causos de assombração e demônios desenvolvem o controle
social através do medo
C - as simpatias e as rezas justificam a distância dessa cultura
com o mundo liberal
D - a marca, o mutirão e o adjuntório aumentam a renda fundiária
Respostas:
1.b; 2.c; 3.b
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Fonte: Rev. Veja, Camila Pereira, ed. 2028,
3/10/2007.
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