Nova alta da Selic
terá um impacto de R$ 1,7 bilhão na dívida pública do país
Esse será o valor que
terá de ser desembolsado a mais pelo governo para remunerar os detentores de
títulos da dívida brasileira,
Anunciada nesta quarta-feira (18) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, a nona elevação consecutiva da taxa Selic, em 0,25 ponto percentual, para 19,75% ao ano, fará o Brasil gastar mais R$ 1,7 bilhão nos próximos 12 meses na rolagem de sua dívida líquida, que é hoje de R$ 891 bilhões. A despesa adicional ocorrerá porque grande parte dos títulos emitidos pelo governo – 57% – são remunerados a partir da Selic. Os cálculos são do economista Alex Agostini, da Consultoria GRC Visão. A decisão do Copom, que usa os juros para conter a inflação, revela o peso que a política monetária tem para as contas do governo: o R$ 1,7 bilhão que será gasto equivale ao que restou ao orçamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário para 2005, após o contingenciamento de R$ 2 bilhões anunciado no início de março. O verba original aprovada no orçamento era de R$ 3,7 bilhões, que está sendo recomposta a duras penas pelo governo. A nova alta também deverá manter o país no topo do ranking dos juros altos. Pesquisa da GRC Visão, entre 40 países, coloca o Brasil em primeiro lugar (19,75% ao ano), seguido por Venezuela (17,2%), Turquia (16,2%), Rússia (13,0%) e México (9,1%). Os dados equivalem a média nominal dos valores em 2005. A média geral é de 4,8% e, entre os países em desenvolvimento, de 7,7%. A distorção será ainda maior quando se comparar a taxa de juro real (valor nominal menos inflação) dos 40 países. Nesse caso, a taxa real média no Brasil foi de 8,2% nos últimos 12 meses, menor apenas do que a da Turquia, de 10,8%. No entanto, o novo aumento da taxa brasileira e a projeção de inflação (IPCA) para os próximos 12 meses indica que o país tomará a liderança: a previsão é que a taxa real brasileira atinja 13,3% nesse período, ante 6,6% da Turquia, que cairá para a segunda colocação. Justificativa A decisão do Copom anunciada nesta quarta não surpreendeu. Um dia antes, na terça, o ministro Antonio Palocci (Fazenda) havia "preparado" o público para a possível alta. “É preciso compreender o esforço nesta área, pois muitas vezes fala-se que o Copom é radical, excessivamente conservador, mas é preciso olhar o comportamento efetivo da inflação. Se o BC não tiver uma postura concreta e objetiva sobre o comportamento da inflação, sabemos que isto dará custos ao país, custos, muitas vezes, difíceis de serem revertidos depois se o descuido ocorrer no momento em que a inflação pressiona", disse ele à Agência Brasil. O ministro afirmou ainda que não acredita que a política monetária iniba investimentos do empresariado, o que poderia ser causado pelos altos juros e pela retração do consumo. “Esse procedimento de ajustes busca o equilíbrio macroeconômico e controle da inflação. O que dá consistência ao investimento é saber que no futuro o Brasil estará equilibrado", completou. Como disse Palocci, a justificativa para manter os juros nas alturas é o controle da inflação. O boletim semanal do Banco Central, divulgado na última segunda, revelou que as projeções de mercado para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 2005 subiram de 6,30% para 6,39%. Foi a décima primeira elevação consecutiva das estimativas, que estavam em 6,10% há 30 dias. Mesmo em alta, a projeção do IPCA está abaixo da meta perseguida pelo governo para 2005, que é de 5,1%, com tolerância de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos. No entanto, a perspectiva de alta dos preços alimenta as decisões do Copom, que trabalha ainda com uma projeção de inflação para os próximos 12 meses. Vários economistas, no entanto, discordam que essa estratégia de combater inflação com juro tenha efeito substancial na atual conjuntura brasileira. O argumento é que a maior parte dos reajustes de preços do Brasil ocorre por pressão dos contratos de tarifas públicas e cotações de commodities guiadas pelo mercado internacional. O próprio presidente Lula, em sua primeira entrevista coletiva, concedida em 29 de abril, elogiou Palocci, mas admitiu que um dos erros de seu governo é não ter encontrado outro mecanismo, que não a taxa de juros, para controlar a inflação. Depois desta nova alta da Selic, sindicalistas e empresários já foram a público manifestar repúdio contra o Copom.
Fonte: Ag. carta Maior, Marcel Gomes, 19/05/2005. |