Ideb: nota escolar cai em 20% das cidades 

 

 

 

 

 

Apesar de as médias nacionais terem crescido entre 2007 e 2009, estados e municípios não acompanham resultado

 

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), principal indicador de qualidade do ensino brasileiro, caiu em mais de mil municípios no ano passado. Embora todas as médias nacionais tenham subido de 2007 para 2009, ultrapassando as metas bienais estabelecidas pelo Ministério da Educação (MEC), 1.146 cidades registraram queda do Ideb nos anos finais (do 6º ao 9º) do ensino fundamental, o equivalente a 21% do total de municípios avaliados nesse nível de ensino. Nos demais municípios, a nota subiu ou ficou igual.

Nessa mesma faixa de ensino (6º ao 9º) 1.299 (23%) cidades não conseguiram alcançar sequer as metas de 2009. O mesmo ocorreu com 792 municípios (14%) em relação às turmas dos anos iniciais do ensino fundamental.

Mesmo nos anos iniciais (do 1º ao 5º) do ensino fundamental, etapa que teve o maior avanço em termos nacionais, 632 cidades - ou 11% - apresentaram pior desempenho no ano passado, em comparação com 2007. O Distrito Federal e Roraima foram as duas únicas unidades da federação a sofrer queda no Ideb. Isso ocorreu no ensino médio, etapa que vive o pior momento no país. No DF, o Ideb caiu de 4 para 3,8. Em Roraima, a redução foi de 3,5 para 3,4.

Na média nacional, o Ideb aumentou em todas as etapas consideradas. Nos anos iniciais do ensino fundamental, o índice subiu de 4,2, em 2007, para 4,6, em 2009. A escala vai até 10. Nos anos finais, o avanço foi mais modesto: de 3,8 para 4. E, no ensino médio, ainda mais tímido: de 3,5 para 3,6.

Em termos nacionais, as metas bienais traçadas para 2009 foram todas superadas. Nos anos finais do ensino fundamental, o índice 4 obtido pelos estudantes brasileiros superou até mesmo a meta estabelecida para 2011 (3,9). O movimento nacional, porém, não foi acompanhado igualmente por todos os estados e municípios.

Cada cidade e estado tem sua meta bienal específica, dentro do planejamento para que o país atinja o objetivo maior, que é chegar a 2021 com um nível de aprendizagem semelhante ao de países desenvolvidos.

O problema atingiu também oito estados. Amapá, Pará e Rondônia não alcançaram as metas de 2009 para os anos finais do fundamental. No ensino médio, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Sergipe, Piauí e Roraima também não chegaram lá. No caso do Rio, o objetivo bienal traçado pelo MEC previa um Ideb de 3,4 em 2009.

Mas o índice do estado, que considera rede pública e privada, ficou em 3,3. Embora tenha aumentado um décimo em relação aos 3,2 obtidos em 2007, o indicador ficou aquém da meta.

Ministro evita falar sobre a qualidade do ensino

O Ideb municipal considera apenas a rede pública, diferentemente do que ocorre com o Ideb dos estados e do país. As escolas particulares não entram nessa estatística porque só participam do Saeb, sistema de avaliação por amostragem, e não da Prova Brasil, que é aplicada em quase todas as escolas e permite a produção de dados municipais. A Prova Brasil e o Saeb servem de base para o cálculo do Ideb, juntamente com o índice de aprovação de alunos ao fim de cada ano letivo.

Ao anunciar os resultados nacionais na semana passada, o ministro Fernando Haddad deu ênfase à melhora dos indicadores, evitando comentar o que o atual nível do Brasil no Ideb representa em termos de qualidade, ou melhor, de falta de qualidade do ensino. As médias nacionais da Prova Brasil/Saeb, que avaliam língua portuguesa e matemática, melhoraram na comparação com 2007. Mas permanecem menores do que o patamar de 1995, quando o MEC deu início à avaliação padronizada e comparável no tempo. A exceção foi matemática, no 5º ano do ensino fundamental.

O Ideb de 4,6 pontos nos anos iniciais do fundamental, atingido pelo Brasil em 2009, está acima da média de 16 estados. A situação se repete nos anos finais. E se agrava no ensino médio, em que 17 estados obtiveram resultados inferiores à média nacional. As metas bienais de estados, municípios e escolas são diferentes.

Elas foram traçadas de modo que, em 2021, o Ideb nacional dos anos iniciais seja 6, o equivalente ao nível de conhecimento demonstrado por países desenvolvido sem 2003, numa avaliação internacional da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que agrupa os países mais industrializados da economia.

Melhores resultados no Sul e Sudeste

Minas Gerais foi o estado que teve maior avanço no Ideb: o índice mineiro referente aos anos iniciais do ensino fundamental saltou de 4,7 para 5,6 pontos, de 2007 para 2009. O acréscimo de 0,9 ponto foi mais do que o dobro da média nacional. Minas, ao lado do Distrito Federal, lidera o ranking estadual nas séries iniciais do ensino fundamental. O Rio aparece em 10º lugar, com 4,7. O último é o Pará, com 3,6.

Estados do Sudeste e Sul obtiveram os melhores resultados nos demais níveis de ensino. O Rio de Janeiro, porém, está fora desse grupo. Na ponta de baixo, Norte e Nordeste ocupam as piores posições.

Nos anos finais (do 6º ao 9º), São Paulo e Santa Catarina dividem a liderança, com 4,5 pontos, seguidos pelo DF, com 4,4. O Rio aparece em 14º ao lado do Piauí, com 3,8 pontos. Alagoas segura a lanterna, com 2,9.

No ensino médio, o maior Ideb pertence ao Paraná, com 4,2, seguido por Santa Catarina, com 4,1. O Rio está na 18º colocação empatado com Amazonas, Bahia e Pernambuco, todos com 3,3 pontos. O índice mais baixo é o do Piauí, com 3.

Duas cidades paulistas alcançaram os maiores Idebs nos rankings municipais. Cajuru obteve 8,6, numa escala que vai até 10, nas séries iniciais do fundamental.

Jeriquara, com 6,6 pontos, ocupa a primeira posição nos anos finais. A cidade fluminense em melhor situação é Cambuci, que com 5,9 aparece em sexto lugar na comparação dos resultados das séries finais. Nas séries iniciais, Cambuci atingiu índice de 5,8, atrás de mais de 500 cidades de outros estados.

Entre as capitais, Curitiba tem o maior Ideb nas séries iniciais do fundamental: 5,7 pontos. Logo atrás vem Belo Horizonte (5,6), e Brasília e Palmas (5,4). Nas séries finais, Palmas ficou em primeiro, com 4,6, seguida de Campo Grande (4,4), e Rio Branco e Florianópolis (4,2).

O MEC dará prazo de 30 dias para que prefeituras e escolas contestem eventuais dados errados que tenham servido de base para o cálculo dos Idebs.

Após esse prazo, serão anunciados os resultados definitivos. O Ideb é divulgado a cada dois anos. Na edição anterior, houve erros nos dados do censo escolar usados para calcular o índice de aprovação, um dos componentes do índice. Os outros são os resultados da Prova Brasil e do Saeb - avaliações de língua portuguesa e matemática.

Fonte: O Globo, Demétrio Weber, 5/7/10


 

Rede pública está três anos atrás da particular

 

          

Aluno que termina ensino fundamental em escola particular sabe mais que formando do ensino médio público

 

Apesar de a distância que separa a rede pública e a particular ter caído de 2005 a 2009, um aluno que completa o ensino fundamental em colégio privado sabe, em média, mais que um formado no ensino médio público, com três anos a mais de estudo.

Essas são constatações que podem ser feitas a partir dos resultados do Ideb, principal indicador do MEC de avaliação da qualidade da educação brasileira.

O ministério divulga nesta segunda-feira (5/7) dados por estados, municípios e redes. O Ideb agrega num único índice, numa escala que vai de zero a dez, taxas de aprovação de alunos e médias em testes de português e de matemática.

De 2005 a 2009, a diferença entre a rede pública e a particular caiu em todos os níveis pesquisados.

A desigualdade entre as duas redes, no entanto, é gritante ao comparar o quanto um aluno de escola pública aprendeu ao final do ensino médio (antigo 2º grau), em comparação com um da rede privada que finalizou o fundamental (antigo 1º grau).

Como as provas do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica, um dos componentes do Ideb) têm a mesma escala e grau de dificuldade para todas as séries, é possível comparar alunos de diferentes anos.

Em matemática, por exemplo, a média dos estudantes ao final do ensino fundamental na rede privada foi de 294 pontos numa escala de zero a 500. Na pública ao fim do ensino médio, a média é de 266.

Em português, a média foi de 279 pontos em particulares no último ano do ensino fundamental e 262 em públicas ao fim do médio.

O sociólogo Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, diz não se surpreender com a distância.

"As escolas privadas têm uma série de vantagens. Podem escolher o aluno, tirar o indisciplinado, têm uma direção com mais autonomia. Nas escolas públicas, isso é mais rígido. Ou seja: se uma escola privada tiver interesse em melhores resultados, dá para trabalhar para isso. Em uma pública, é mais difícil."

Outro ponto a ser considerado é que o nível socioeconômico dos alunos é o fator que, comprovadamente, mais impacto tem nas suas notas. Como os alunos de escolas particulares vêm de famílias mais ricas e escolarizadas, esta diferença não pode ser atribuída apenas ao trabalho da escola.

O presidente da Undime (entidade que representa os secretários municipais de educação), Carlos Eduardo Sanches, diz que, considerando o quanto é gasto por aluno em cada rede, a distância deveria ser maior.

Ele diz que o Fundeb [fundo que distribui recursos públicos por estudante] dá hoje R$ 1.415 por ano por aluno, enquanto uma mensalidade em escola particular já fica, em média, em torno de R$ 800. "É claro que as públicas precisam melhorar, mas, com essa quantidade de recursos, o retrato do sistema privado é que é dramático."

Schwartzman concorda, lembrando que o ensino particular no Brasil, quando comparado com o de outros países no Pisa (exame internacional de avaliação do ensino), deixa a desejar.

"Mesmo as melhores particulares do Brasil são piores do que as dos outros países. São muito orientadas para vestibulares, têm muitas matérias e o mesmo problema com a má formação dos professores no setor público."

Fonte: Folha de S. Paulo, Antonio Góis e Angela Pinho, 5/7/10.

 


 

Só 5,7% das escolas têm Ideb maior que 6,0

 

          

Nota é parâmetro internacional de qualidade; no ciclo de 5ª a 8ª série o quadro se agrava, com apenas 0,3% dos colégios dentro dessa meta

 

Em todo o Brasil, apenas 5,7% das escolas públicas do ensino fundamental alcançaram 6,0 no Ideb, nota vista como sinônimo de qualidade. Seis é a média registrada em países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e foi adotada pelo MEC como objetivo para ser alcançado no país até 2021.

No segundo ciclo do ensino fundamental (da 5ª a 8ª série), só 109 escolas (0,3%) atingiram índice 6,0. Delas, 28 estão no Estado de São Paulo e só uma na capital: a Escola de Aplicação da Universidade de São Paulo.

Das 34.643 instituições analisadas nessa etapa, 6 tiraram nota maior do que 7,0. Deste grupo, três são colégios militares: de Santa Maria (RS), de Salvador (BA) e de Campo Grande (MS).

Para secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda, os resultados não surpreendem. "O aumento das escolas com bom desempenho será gradativo. Sabíamos que, nesta terceira edição, o grupo de excelência ainda seria reduzido", admitiu. Ela também considera esperado o destaque dos colégios militares, cujos alunos são submetidos a uma seleção prévia. "Alunos dessas instituições têm perfil diferenciado porque passam por um processo seletivo."

Nos anos iniciais do ensino fundamental, de 1ª a 4ª séries, mais escolas obtiveram nota maior ou igual a 6,0 ? foram 3.235 escolas, ou 6,7% do total. Neste caso, nenhuma está localizada na cidade de São Paulo.

As dez melhores do país nessa etapa ficam fora das capitais. Técnicos do MEC avaliam que há uma probabilidade de as escolas terem bom desempenho se estiverem em comunidades com nível de renda e escolaridade mais elevado, mas essa não é uma condição indissociável para a qualidade da educação.

De 1ª a 4ª séries, 19 escolas tiveram nota acima de 8,0; 10 delas são do Estado de São Paulo. A mais bem colocada também é paulista: Escola Municipal Aparecida Elias Draibe, em Cajuru.

Concentração

Algumas cidades se destacam por concentrar várias escolas de qualidade. Para a etapa de 1ª a 4ª série, Sobral, no Ceará, é um excelente exemplo nordestino, região com as piores notas gerais: 38 das 39 escolas obtiveram nota 6,0 ou mais. Em números absolutos, a cidade do Rio de Janeiro é a primeira, com 73 colégios com Ideb 6,0 ou mais, seguida por Curitiba, com 56.

Entre os bolsões de qualidade, uma outra cidade paranaense aparece. Apenas na rede municipal de Joinville, Santa Catarina, estão seis escolas das escolas de 5ª a 8ª série com nota superior a 6,0. Em São José dos Campos, São Paulo, estão outras quatro.

Com todos os dados do Ideb 2009 em mãos, técnicos do MEC partem agora para uma análise mais profunda das experiências de sucesso, com o objetivo de multiplicá-las. "A média obtida na escola não pode ser considerada isoladamente. Temos de levar em conta o nível socioeconômico dos estudantes das instituições", afirma Maria do Pilar.

Como tradicionalmente o desempenho dos alunos é melhor em lugares mais ricos, o MEC deve estudar com atenção casos de sucesso em locais com índice econômico mais baixo. "A ideia é tentar aprender com essas experiências, identificar estratégias novas que possam ser replicadas em outras instituições", conta.

Um trabalho recente feito com Unicef em escolas localizadas em regiões mais pobres com bom aproveitamento escolar identificou pontos em comum. "Essas escolas apresentavam excelente direção e projeto pedagógico, professores engajados, alta participação da comunidade", diz Maria do Pilar.

Fonte: O Estado de S. Paulo, Ligia Formenti e Marta Salomon, 5/7/10.

 


 

Desinteresse dos alunos do ensino médio é 2º principal motivo de faltas

 

          

Pesquisa mostra que 21,5% dos estudantes que faltaram alegam não querer assistir à aula; Ideb confirma estagnação dessa etapa escolar

 

O ensino médio, etapa com a maior taxa de evasão, sofre também com um tipo informal de abandono: o desinteresse. O aluno se matricula, cursa, mas não presta atenção nas aulas, não estuda, não faz lição. Essa pode ser uma das causas do crescimento de apenas 0,1 na nota de 3,6 dessa etapa escolar do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2009, divulgado na quinta-feira pelo MEC.

Um levantamento que mapeou formas alternativas de não participação na vida escolar mostra que "não querer comparecer" às aulas foi o segundo principal motivo de ausências entre os estudantes do ensino médio.

Entre os alunos que disseram ter faltado algum dia nos últimos dois meses, 21,5% alegaram que simplesmente não quiseram ir à escola. O desinteresse perdeu apenas para problemas de saúde, apontados por 41% como a razão das ausências.

A pesquisa Mapeando as Formas Alternativas de Não Participação cruzou dados do Censo Escolar e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) que pudessem refletir o desinteresse, como as faltas e o fato de fazer ou não a lição de casa.

Os resultados, porém, apontam somente alguns indícios da falta de interesse. "Identificar todas as formas alternativas de não participação exige dados muito específicos. O ideal seriam estudos em sala de aula, que são muito caros", afirma Elaine Toldo Pazello, pesquisadora do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e umas das responsáveis pelo levantamento.

A pesquisa revelou ainda que menos da metade dos estudantes do ensino médio (41,5%) faz sempre a lição de casa. O número representa uma queda de 17% em relação aos alunos do fundamental. "Um fator surpreendente foi ver que o trabalho ou problemas de dinheiro e transporte não têm um impacto significativo, ao contrário do que se esperava", diz Elaine.

No 2.º ano do ensino médio na rede estadual de São Paulo, Luís Henrique Leal, de 18 anos, diz que atualmente se empenha nos estudos, apesar de trabalhar até tarde como barman. "Repeti duas vezes e parei um ano", conta. "Antes, eu ia para a escola, mas não queria estudar. Agora estou com a cabeça melhor, tento evitar bagunça."

Segundo Leal, há vários colegas que não se importam realmente com os estudos. "Tem muito aluno que só pega a lição dos outros, que falta demais, que só vai para fazer bagunça e sair com a meninas", afirma. Mas o estudante diz também que falta interesse por parte de muitos professores.

Descompasso

Segundo pesquisadores da área de educação, o que mais repele os alunos é o conteúdo oferecido no ensino médio, que, na visão dos jovens, não tem relação com as necessidades e interesses da faixa etária que vai, em média, dos 15 aos 17 anos. As disciplinas ensinadas são generalistas e, para os estudantes, parecem não ter impacto prático algum em suas vidas.

"Além disso, muitos chegam ao ensino médio sem saber o mínimo e não conseguem acompanhar. Ficam no meio do caminho e aprendem versões simplificadas dos conteúdos", afirma o especialista em educação e ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Simon Schwartzman.

Para ele, a solução é "abrir o leque de opções" dos jovens, como a oferta de ensino técnico. "O aluno deveria escolher entre mais alternativas, de acordo com seu perfil. Se ele chegou aos 15 anos sem saber ler e somar direito, você vai continuar reprovando esse estudante?"

Para a especialista em ensino médio Wanda Engle, do Instituto Unibanco, um dos problemas do que chama de "crise de audiência" nessa etapa é a falta de sintonia entre o que é oferecido e as necessidades dos alunos. "Nas redes públicas, de cada dez alunos, cinco estudam à noite. Mas isso é desnecessário, porque de cada dez, só dois trabalham." Ela defende que o currículo seja flexibilizado e um vínculo mais forte entre educação e trabalho. "Cerca de 90% das nossas escolas têm como foco preparar para a universidade, mas apenas 13% dos jovens que terminam o ensino médio entram em uma faculdade."

Paradoxo

"É sabido que, quanto maior a escolaridade, maior a faixa salarial. Mas parece existir um paradoxo pela falta de percepção desses jovens, que não atentam para isso", diz o economista da educação Eduardo Andrade, do Insper, antigo Ibmec.

De acordo com ele, quando o mercado está aquecido, o interesse pela educação nessa etapa do ensino pode até cair. A oferta de alguma renda imediata desestimula o estudante a comparecer às aulas. "O aluno vai faltar para fazer um "bico" ou um trabalho temporário, por exemplo. A dedicação aos estudos fica comprometida quando se tem outras opções em vista."

Melhoria de rendimento não anima especialistas

O crescimento do rendimento escolar (fluxo dos alunos de uma série para outra) na composição da nota do Ideb do ensino médio é positivo, mas ainda não pode ser encarado como uma melhora na qualidade da educação. É o que afirmam especialistas ouvidos pelo Estado.

A decomposição da nota do Ideb mostra o quanto os dois fatores que formam o índice - o desempenho dos alunos em uma prova nacional e o fluxo (taxas de aprovação e de matrícula) - influenciaram no crescimento total. No caso do ensino médio, foi observado um crescimento do fluxo em relação ao desempenho: de 29,9% em 2007 para 42,1% em 2009. Já o desempenho era responsável por 70,1% do índice em 2007 e, em 2009, passou a valer 57,9% dele.

Ou seja: para o crescimento de 0,1 do índice total do ensino médio, que foi notado de 2007 para 2009, o fluxo dos alunos ganhou importância em relação às notas na Prova Brasil.

No caso dos anos iniciais do ensino fundamental, o peso do fluxo caiu de 40,8% em 2007 para 28,9% do total do Ideb de 2009. Sua participação na formação do índice para 2009 também diminuiu nos anos finais, de 46,3% para 36%. Em outras palavras, esses valores demonstram que o desempenho dos alunos do ensino fundamental, de uma forma geral, foi mais importante do que o fluxo para compor o Ideb.

Para Ocimar Munhoz Avalarse, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), a melhora no fluxo dos alunos deve-se à queda nos índices de evasão, que têm "despencado" em todas as etapas da educação - o que é positivo. Mas, segundo ele, no ensino médio, os dados do Ideb revelam mais um motivo de preocupação.

"Esse crescimento do índice ainda é pequeno, e melhorou em grande parte por causa do fluxo. Só que, sem melhora de aprendizagem, também não adianta melhorar o fluxo", afirma.

Segundo o especialista em educação e ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Simon Schwartzman, a melhora do fluxo dos alunos do ensino médio deve ser vista de forma positiva.

"Quanto menos reprovação, melhor. Hoje todo mundo concorda que reprovar não é o melhor a se fazer. Essa é uma discussão ultrapassada. O jovem deve acompanhar o grupo de idade dele. Mas é claro que a melhora das notas ainda é não é suficiente."

Fonte: O Estado de S. Paulo, Luciana Alvarez e Mariana Mandelli, 3/7/10.


 


 

Confira listão com as 200 melhores escolas públicas do estado

 

 

Ensino Médio da rede estadual do Rio teve o segundo pior desempenho no Brasil, à frente apenas do Piauí

Rio – As escolas da rede estadual não fizeram a lição de casa e mais uma vez aparecem na lanterna do ensino público no Estado do Rio. De acordo com o resultado divulgado pelo Ministério da Educação (MEC), o Rio, estado que tem o segundo maior PIB (soma das riquezas) do País, vem em penúltimo lugar, à frente apenas do Piauí no ranking do Ensino Médio, que relaciona só escolas estaduais. Dentre as 100 unidades com o mais baixo Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) no 2º segmento (6º ao 9º ano do Ensino Fundamental), 82 são estaduais. Já na lista das 100 melhores escolas fluminenses, 61 são municipais e oito, federais.

A melhor unidade da rede pública no 1º segmento (do 2º ao 5º ano) em todo o estado é do Município do Rio. A Escola Municipal João de Deus, na Penha, obteve média 7,8 no Ideb, à frente de colégios como Pedro II (Engenho Novo e da Tijuca) e dos colégios de Aplicação da UFRJ e da Uerj.

A rede estadual não conseguiu superar a meta para as séries iniciais e para o Ensino Médio. O Ideb é o principal indicador da qualidade do ensino brasileiro que leva em conta índices de aprovação, abandono e pontuação dos estudantes em Português e Matemática na Prova Brasil. Não há Ideb por escola no Ensino Médio, pois nem todas participam da avaliação por amostragem.

A secretária estadual de Educação, Tereza Porto, disse que o resultado está longe do ideal, mas dentro do esperado. Segundo ela, o mau desempenho — principalmente no Ensino Médio — é reflexo da aprovação automática e do déficit de mestres que existiu no Rio ao longo de 15 anos. “Contratamos 30 mil professores e fizemos outros investimentos, mas os resultados demoram a aparecer. Os atuais alunos da rede estadual sofrem com o abandono do passado nas escolas municipais”, disse ela, confiante de que na próxima avaliação, em 2011, as metas serão atingidas.

Colégio Pedro II é campeão

Mais da metade (57,7%) das 2.404 escolas públicas do estado do Rio conseguiu atingir a meta do Ideb nas séries iniciais. Mas do 6º ao 9º ano, só 37,8% alcançaram o índice. O tradicional Colégio Pedro II, da rede federal, obteve índice mais alto (7,6) entre 1.645 escolas fluminenses. Em todo o País, o Pedro II só ficou atrás do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco. Para a diretora da unidade de São Cristóvão, Tereza Cristina de Paiva, o primeiro lugar reflete a qualidade de educação que o colégio manteve ao longo do século. Os 1.350 alunos têm aulas de Francês, Música, Artes, Filosofia e Sociologia e todos são estimulados a participar de olimpíadas do conhecimento.

Estímulo à leitura, a chave do sucesso

Estímulo à leitura, participação da família e professores comprometidos com o aprendizado. A mistura desses ingredientes é a receita de sucesso da Escola Municipal João de Deus, próxima ao violento complexo de favelas da Penha. “A cada fim de semana, nossos alunos levam dois livros para casa para estimular o prazer da leitura”, revela Luciana Landrino, diretora há 20 anos.

Na avaliação dela, o hábito de ler livros melhora as notas. “Muitos jovens erram questões por não conseguir interpretar o enunciado”, explica.

Ontem, antes da execução do Hino Nacional, a notícia foi comemorada por pais e os 314 alunos da unidade. Responsável pelo ensino dos estudantes do 5º ano que participaram do exame do MEC, a professora Roselena Freitas, 45 anos, se emocionou com o resultado: “Além de amar a minha profissão, procuramos estar atualizados”.

Fonte: O Dia, Maria Luisa Barros e Thiago Feres, 6/7/10.

 

 


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