Temperatura do planeta aumentará até 4 graus até 2.100, diz ONU
 

Foto: Sukree Sukplang/Reuters
O painel culpa o lançamento de gases na atmosfera, desde 1950.

 

A temperatura média do planeta subirá
de 1,8 a 4 graus até 2.100, provocando
um aumento do nível dos oceanos
de 18 a 59 centímetros, inundações
e ondas de calor mais freqüentes,
além de ciclones mais violentos
durante mais de um milênio
 

 

As conclusões foram anunciadas nesta sexta-feira em Paris pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês), da ONU (Organização das Nações Unidas).

O comitê do IPCC engloba centenas de cientistas e representantes de 113 países.

O documento de 21 páginas – o mais importante a respeito do aquecimento global – traça um quadro preocupante sobre o futuro do planeta caso não sejam adotadas as medidas adequadas. De acordo com os especialistas do IPCC, o aquecimento do planeta se deve, com 90% de chance, às emissões de dióxido de carbono provocadas pelo homem.

O IPCC afirmou ainda que as emissões passadas e futuras de CO2 continuarão contribuindo para o aquecimento global e a elevação do nível dos mares durante mais de um milênio, levando em consideração sua permanência na atmosfera.

Se os países não adotarem os meios para reduzir a poluição da atmosfera, a temperatura média pode aumentar até 6,4%.

Este desajuste modificará totalmente as condições climáticas: provocará ondas de forte calor, as inundações serão cada vez mais freqüentes, os ciclones tropicais, tufões e furacões provavelmente serão mais intensos, os recursos de água potável diminuirão e a elevação do nível do mar pode provocar o desaparecimento de algumas ilhas e superfícies férteis.

As mudanças obrigarão milhares de pessoas a abandonarem suas casas, e o número de refugiados do clima será superior ao de refugiados de guerra, alertam alguns especialistas.

Encontro

A reunião na capital francesa de 500 especialistas do grupo, criado em 1988 pela ONU e a Organização Meteorológica Mundial com o objetivo de servir de mediador entre os cientistas e os governantes, é a conclusão de mais de dois anos de trabalho.

De acordo com a organização ecológica Greenpeace, o informe do painel intergovernamental aciona o 'sinal de alerta' necessário para impulsionar os governos à ação.

'Se o último relatório do IPCC em 2001 nos fez despertar, este é um sinal de alerta. A boa notícia é que nossa compreensão do sistema climático e do impacto humano melhorou, a ruim é que nosso futuro parece perigoso', afirma a organização em um comunicado.

Diante das previsões desalentadoras, os cientistas esperam que a comunidade internacional apresente uma resposta vigorosa e unida que implique na continuidade do Protocolo de Kyoto, destinado a reduzir as emissões de dióxido de carbono, cuja primeira fase expira em 2012.

No entanto, este protocolo ainda não foi ratificado pelos Estados Unidos, que é o maior poluidor mundial.

Danos

O chefe do Comitê Internacional de Mudanças Climáticas, Rajendra Pachauri, qualificou o relatório como um documento "muito impressionante", que vai além dos "estudos anteriores".

Segundo Susan Solomon, cientista do governo dos EUA, "não há dúvidas de que o aumento de gases poluidores é causado pelas atividades humanas".

De acordo com o documento, não importa o quanto a civilização reduza a emissão de gases, o aquecimento global e o aumento do nível dos oceanos perdurará por séculos.

"Não é algo que possa ser detido. Nós teremos que conviver com isso", afirmou Kevin Trenberth, diretor de análises climáticas do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica de Boulder, no Colorado, à Associated Press.

"Estamos criando um planeta diferente. Em cem anos, teremos um clima diferente", afirmou.

Criado pela ONU em 1988, o comitê divulga relatórios a cada cinco ou seis anos. Os documentos são divulgados em fases – este é o primeiro de quatro previstos para este ano.

BRASIL

O Brasil não estará entre as áreas mais atingidas pelo aquecimento global até o fim deste século. Porém, os estudos dos especialistas em clima e ambiente mostram que o aumento da temperatura global pode transformar a Amazônia num cerrado – o que, por sua vez, traria mais complicações para o clima do Brasil e do mundo, já que a floresta é importante para o regime de chuvas em toda a América do Sul.

Segundo o estudo, a temperatura média em algumas regiões do Brasil –
principalmente na Amazônia e no Centro Oeste – vai subir no máximo 4°C.

 

Há, porém, cenários mais otimistas. Em um deles, a região Centro-Oeste e a Amazônia sofreriam com aumento de temperatura entre 1,5° C e 2° C. Nos dois casos, as áreas menos afetadas seriam o litoral do Nordeste e do Sudeste e a região Sul.

 

Fonte: France Presse, Paris e Folha Online, 2/2/2007.

 

Os impactos do aumento da temperatura global

Elevação da temperatura global em:

1 GRAU

·         Redução das geleiras ameaça o suprimento de água para 50 milhões de pessoas.

·         Pequeno aumento na produção de cereais nas regiões temperadas.

·         Ao menos 300 mil pessoas morrem a cada ano devido à malária, à desnutrição e a outras doenças relacionadas com as alterações climáticas.

·         Queda da taxa de mortalidade durante o inverno nas regiões de maior latitude.

·         Morte de 80% dos recifes de coral, em especial a Grande Barreira de Corais.

2 GRAUS

·         Queda de 5% a 10% na produção de cereais na África tropical.

·         40 milhões a 60 milhões de pessoas a mais expostas à malária na África.

·         Até 10 milhões de pessoas a mais expostas a enchentes nas regiões costeiras.

·         Entre 15% e 40% das espécies de seres vivos vêem-se ameaçadas de extinção.

·         Grande risco de extinção de espécies no Ártico, em especial dos ursos polares.

·         Possibilidade de que a camada de gelo da Groenlândia comece a derreter de forma irreversível, o que faria com que o nível dos oceanos subisse 7 metros.

3 GRAUS

·         No sul da Europa, períodos de seca pronunciada a cada dez anos.

·         Entre 1 bilhão e 4 bilhões de pessoas a mais enfrentando escassez de água.

·         Entre 150 milhões e 550 milhões de pessoas a mais expostas à ameaça da fome.

·         Entre 1 milhão e 3 milhões de pessoas a mais morrem de desnutrição.

·         Início do colapso da floresta Amazônica (segundo alguns modelos de previsão).

·         Elevação do risco de colapso da Camada de Gelo da Antártida Ocidental.

·         Elevação do risco de colapso do Sistema do Atlântico de águas quentes.

·         Elevação do risco de mudanças abruptas no mecanismo das monções.

4 GRAUS

·         Safras de produtos agrícolas diminuem entre 15% e 35% na África.

·         Até 80 milhões de pessoas a mais expostas à malária na África.

·         Desaparecimento de cerca de metade da tundra ártica.

5 GRAUS

·         Provável desaparecimento de grandes geleiras no Himalaia, prejudicando um quarto da população da China e uma grande parte dos moradores da Índia.

·         Crescente intensificação da atividade oceânica, prejudicando seriamente os ecossistemas marinhos e, provavelmente, as populações de peixe.

·         Elevação do nível dos oceanos ameaça as pequenas ilhas, as áreas costeiras como o Estado da Flórida e grandes cidades como Nova York, Londres e Tóquio. 

Fonte: Reuters, Paris, 2/2/2007.


ONG tentou subornar cientista para questionar IPCC, diz “The Guardian” 

No dia em que o IPCC divulgou seu relatório sobre aquecimento global, o jornal britânico
publicou reportagem que diz que um grupo de lobby ligado à administração Bush pagou
a cientistas e economistas para que minimizassem o impacto do texto

Segundo o jornal, o AEI (American Enterprise Institute), financiado pela petrolífera ExxonMobil, a maior do mundo, ofereceu pagamentos individuais de US$ 10 mil para artigos que enfatizassem os defeitos do relatório.

O AEI recebeu mais de US$ 1,6 milhão da Exxon e mais de 20 de seus integrantes já trabalharam como consultores da administração do presidente dos EUA, George W. Bush. O vice-presidente do conselho de gestão do instituto, Lee Raymond, já comandou a Exxon.

Em cartas enviadas a cientistas nos EUA, no Reino Unido e em outros países, o AEI define o painel da ONU como "resistente à crítica construtiva e tendencioso a tomar conclusões que têm pouca sustentação em trabalho de análise".

As cartas pedem artigos que explorem as limitações dos modelos climáticos do relatório.

"Valioso"

Em Washington, procurado pela imprensa para comentar o relatório do IPCC, o presidente George W. Bush se pronunciou por meio de seu porta-voz Tony Fratto, que classificou o documento de "valioso" com "conclusões significativas".

"Esse informe contribuirá para o conjunto de conhecimentos que temos para estudar e compreender a melhor maneira de reagir aos desafios da mudança climática", afirmou Fratto.

O porta-voz lembrou na entrevista que Bush prometeu o corte no consumo de gasolina de 20%, apesar de o país ainda se recusar a assinar qualquer acordo internacional.

"Somos um contribuinte pequeno se você olhar para o resto do mundo", disse o secretário de Energia dos EUA, Sam Bodman, minimizando a recusa do país ao Protocolo de Kyoto. Ele não criticou, porém, o relatório do IPCC.

"Estamos felizes com ele. Nós aceitamos e concordamos com ele."

"Egoísmo"

Em Paris, entretanto, o tom ontem foi outro.

"Em face dessa urgência, não é mais hora de meias-medidas. É hora de uma revolução." Com essa declaração, o presidente francês Jacques Chirac resumiu como deve ser encarado o novo relatório do IPCC.

"Por que somos tão lentos em tomar as medidas necessárias?", perguntou a si próprio, em discurso. "Porque, com egoísmo nos recusamos a reconhecer as conseqüências."

Chirac já havia criticado a inação dos EUA a respeito do problema. Segundo ele, é "inevitável" a perspectiva que produtos americanos têm para o futuro no mercado europeu: incidência de impostos sobre a emissão de carbono.

Pessimismo extra

Entre cientistas que comentaram o novo relatório, alguns se declararam mais pessimistas do que o IPCC.

"Acho que há espaço para uma elevação de até 6C", disse à Folha James Lovelock, ícone do ambientalismo que tem defendido a energia nuclear como forma de evitar a emissão de carbono. "Não há mais como evitar isso neste século."

Meinrat Andreae, biogeoquímico do Instituto Max Planck, também disse que o limite de dúvida deve ser ampliado para cima. "Acho que há muita incerteza, particularmente no que se refere ao derretimento de plataformas de gelo", disse.

Para o secretário-geral do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Achim Steiner, é hora de ampliar Kyoto.

"É mais urgente do que nunca que a comunidade internacional entre em negociações sérias para um novo tratado mundial abrangente para deter o aquecimento global", disse.

 

Fonte: Folha de S. Paulo, 3/2/2007.
 Com agências internacionais.


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