Onde andará Grisha?

 

Matemático russo despreza prêmios por seu trabalho revolucionário e some do mapa


 

The New York Time
 

Grigori "Grisha" Perelman, que desvendou a conjectura de Poincaré. Segundo essa suposição, um coelho pode ser transformado numa esfera porque não tem buracos. Objetos com furos, como uma rosquinha, não têm essa propriedade 

A União Matemática Internacional vai entregar nesta terça-feira a medalha Fields, destinada a cientistas com até 40 anos. Considerada o Prêmio Nobel da matemática, a medalha neste ano já tem um favorito, o cientista russo Grigori Perelman, conhecido entre seus colegas pelo apelido de "Grisha". Perelman surpreendeu o meio científico há três anos ao anunciar que encontrara a solução para um dos mais célebres problemas da matemática, a conjectura de Poincaré, que discorre sobre a natureza dos objetos em espaços tridimensionais. Prevê-se que Perelman também seja agraciado com o prêmio de 1 milhão de dólares prometido há cinco anos pelo Clay Mathematics Institute, de Massachusetts, para quem resolvesse a conjectura de Poincaré.

Ocorre que será difícil prestar essas homenagens a Perelman porque ele sumiu do mapa. Em 2003, depois de divulgar suas descobertas numa série de palestras em universidades americanas, ele anunciou que retornaria ao Instituto Steklov, em São Petersburgo, onde era professor. Depois disso, aos poucos deixou de responder aos e-mails de seus colegas. Recentemente, o Instituto Steklov anunciou que ele pediu demissão de seus quadros. E onde andaria Grisha? Rumores dão conta de que ele passou a viver nas florestas próximas a São Petersburgo, onde sempre teve o hábito de caminhar em busca de cogumelos. "Ele sempre pareceu meio fora deste mundo, uma pessoa muito tímida e totalmente desligada de bens materiais", avalia Robert Greene, professor da Universidade da Califórnia.  

Branger/AFP
Henri Poincaré: desafio que dura 100 anos
 

Apesar de surpreender o mundo com sua solução para a conjectura de Poincaré, Perelman deixou para trás algumas perguntas sem resposta – seus trabalhos eram de difícil compreensão até mesmo para matemáticos. Nos últimos três anos, um grupo de cientistas debruçou-se sobre sua pesquisa e, em três textos que somam quase 1.000 páginas, concluiu que ela está correta. "Isso muda muita coisa no mundo da matemática, é como se acordássemos de manhã após um terremoto", comemorou o matemático Bruce Kleiner, da Universidade Yale.

No mundo da ciência, chama-se de conjectura a uma proposta de explicação para um problema qualquer – posteriormente, essa proposta deve ser estudada a fundo por especialistas, até que se prove se ela é verdadeira ou não. A conjectura de Poincaré desafia os matemáticos há 100 anos. Foi elaborada em 1904 pelo matemático francês Henri Poincaré, considerado um gênio em sua área.  Explicar para leigos do que trata

exatamente a conjectura criada por ele é difícil. Em linhas simples, seu enunciado diz que qualquer objeto compacto e sem buracos, como uma maçã ou um coelho, pode ser deformado até se transformar numa esfera. Em contrapartida, não é possível fazer o mesmo com uma rosquinha, uma porca de parafuso ou qualquer objeto que tenha um furo (sites: ufscar e mathworld têm explicações detalhadas sobre a conjectura). A conjectura de Poincaré é uma questão central da topologia, área que estuda as propriedades geométricas dos objetos. Sua comprovação tem conseqüências para a matemática, a física e até mesmo para as teorias sobre a formação do universo. Ela só não consegue explicar o sumiço do excêntrico Grisha.

 

Fonte: Rev. Veja, Rafael Corrêa, ed. 1970, 23/08/2006


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