Governo confirma
ter recebido denúncia de mesada e tenta descolar Lula do caso
Em um dia marcado pelas repercussões das denúncias feitas à Folha pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), a estratégia do governo foi descolar a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva das acusações sobre o suposto pagamento de mesada a parlamentares. O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, disse que o presidente ouviu em uma reunião apenas um comentário e teria pedido uma apuração imediata. Mas fez questão de dizer três vezes que o governo nada tem a ver com a prática do mensalão. "Não há nenhuma acusação que relacione o pagamento a parlamentares por parte do governo. A denúncia refere-se ao hipotético pagamento de um partido a parlamentares a outros partidos. O governo não sofreu qualquer tipo de acusação", afirmou. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), disse que Lula não recebeu nenhuma denúncia de pagamento de mesadas, muito menos chorou ao saber do suposto caso. "Quem conhece o presidente Lula sabe que ele não é muito de chorar, muito menos por questões de natureza política, um homem bastante vivido, equilibrado. Isso não tem qualquer veracidade", afirmou. Reação Mas a estratégia governista pode ter outras conseqüências. O líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS), reagiu à tentativa de delegar ao PT a responsabilidade pelo pagamento de mesadas. "Isto não existe. O erro é nosso, é do governo e do PT", afirmou. Aldo Rebelo também delegou à Câmara dos Deputados a responsabilidade por investigar o caso. A declaração não combina, portanto, com a tentativa da base governista de abafar a investigação sobre o caso de corrupção nos Correios, estendida agora à prática do mensalão. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que é necessário investigar, esclarecer as denúncias e afirmou que se preciso for criar uma CPI para apurar o caso, que seja instalada. "Não posso colaborar com a ampliação dessa percepção [de que a corrupção aumentou no governo Lula]. Não é razoável que maus parlamentares contaminem a instituição", argumentou.
Rebelo diz que governo
sabia das denúncias de Jefferson
O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, disse que em março deste ano, em reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o líder do partido na Câmara, José Múcio (PE), o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e Aldo, o assunto foi informado sobre o suposto pagamento. O ministro também desmentiu Jefferson, que afirmou na entrevista que Lula chorou durante a reunião. Segundo Aldo a declaração do deputado é "fantasiosa". O ministro transferiu a responsabilidade por investigar o suposto pagamento de mesadas aos deputados da base governista, esquema revelado pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), à Câmara dos Deputados e o ônus da denúncia ao PT. "Não há nenhuma acusação que relacione o pagamento a parlamentares por parte do governo. A denúncia refere-se ao hipotético pagamento de um partido a parlamentares a outros partidos. O governo não sofreu qualquer tipo de acusação", afirmou o ministro. Depois da denúncia "de passagem" nessa conversa, que trataria relação entre o governo e o PTB, nenhum dos integrantes do governo teria perguntado ao presidente do PTB detalhes sobre o esquema. Somente depois disso, o presidente teria pedido informações sobre o caso a Aldo e Chinaglia. O líder do PT na Câmara teria levado, posteriormente ao presidente, as informações da Corregedoria da Câmara de que haveria apenas uma denúncia veiculada pela imprensa em setembro de 2004 e a conseqüente abertura de procedimento na Casa, arquivado no ano passado. Essas informações foram então repassadas a Lula. "O presidente solicitou que o mantivesse informado de qualquer novidade relacionada com este comentário do deputado Roberto Jefferson", afirmou.
Fonte: Folha de S. Paulo, Felipe Recondo, 06/06/2005.
|