Globalização comercial
chega ao ensino superior
Agência FAPESP - "As universidades não podem ser tratadas como produtos e os estudantes também não são meros clientes", alertou Wrana Maria Panizzi, reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na mesa-redonda inaugural do Seminário Cultura & Extensão 2003, promovido pela Universidade de São Paulo (USP), na quarta-feira (20/8). O evento tem como um dos objetivos avaliar a maneira como a educação vem sendo inserida nas discussões da Organização Mundial do Comércio (OMC). Segundo Wrana, a educação corre o risco de se tornar mais um simples produto, da maneira como vem sendo debatida no orgão. Em 1998, a OMC começou os entendimentos para que a educação fosse encarada também como um serviço. No mesmo ano, em Paris, foi realizado o Congresso Internacional sobre Educação, que se posicionou contrário à tendência da OMC. "Houve um reconhecimento, no documento gerado naquela ocasião, de que o conhecimento é um patrimônio social e a educação é um direito público", disse Wrana à Agência FAPESP. "A educação não pode ser prisioneira dos sistemas mercantis", disse a reitora, ressaltando que não defende uma reserva de mercado. Na sua opinião, a cooperação internacional é algo absolutamente vital paras as instituições de ensino brasileiras, desde que feitas de igual para igual. "A globalização é real. Mas qual o caminho que a educação e a universidade devem seguir?", perguntou. "Um País que quer ser soberano precisa ter uma universidade aberta e universal, sustentada em suas próprias pernas", disse. A reitora da UFRGS, que esteve no início do mês com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alertou o governo sobre os riscos que existem se a educação passar a ser discutida internacionalmente sob a ótica da OMC. A reitora da UFRGS, que é também presidente da Associação Nacional das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), acredita que a sociedade brasileira precisa ser melhor informada sobre o problema. "A discussão tem que ser feita na sociedade e nas universidades", disse. Wrana alerta para uma série de riscos que existem, caso instituições de ensino estrangeiras possam atuar com mais liberdade em países como o Brasil. "E a questão da propriedade intelectual ou da liberdade acadêmica? Isso tudo precisa ser melhor entendido e debatido", lembrou. Em setembro, será realizada em Cancún, no México, a quinta conferência ministerial da OMC. A discussão sobre a educação ser encarada como um serviço estará novamente em pauta.
Fonte: Agência FAPESP, Por Eduardo Geraque, 20/8/2003 |