‘Gangorra climática’ entre pólos pode ser gatilho para catástrofes
Estudo revela elo entre temperaturas no Ártico e na Antártida que, com
O grupo do Epica (sigla em inglês para Projeto Europeu de Perfuração de Gelo na Antártida) fez estudos nas camadas de gelo tanto da Antártida quanto da Groenlândia, comparando os dados sobre o metano preso em bolhas de ar nas geleiras dos dois locais. Com isso e com os registros históricos de temperaturas em mãos, eles conseguiram estabelecer uma comparação entre o clima do pólo Sul e do Norte através dos séculos – o que revelou a “gangorra climática”. Essa ligação entre os climas dos dois pólos é feita, segundo os pesquisadores, pelas correntes marítimas. “Quando a corrente marítima é forte, o Atlântico Norte fica quente e a Antártida, fria. Quando ela é fraca ou não existe, o Atlântico Norte esfria, e a Antártida passa a esquentar. Mudanças abruptas no Norte causam mudanças mais lentas no Sul”, explicou um dos autores do estudo publicado na revista “Nature”, Thomas Stocker, da Universidade de Bern, na Suíça ao G1. O fenômeno não tem impacto nas mudanças climáticas de curto prazo vistas atualmente, segundo os cientistas. “As variações interanuais na temperatura não têm ligação com os dois pólos”, afirma outro autor, Hubertus Fischer, do Instituto Alfred Wegener para Pesquisa Marinha e Polar, da Alemanha. “No entanto, as mudanças glaciais de longo prazo no clima, que levam séculos ou milênios, são conectadas pela circulação no Atlântico”, diz ele. Essa ligação milenar pode ser extremamente importante para nosso futuro, e, se não for levada em conta, pode ser o gatilho para uma catástrofe climática. “O aquecimento global causado pelas emissões de dióxido de carbono prevêem uma circulação atlântica reduzida no futuro, o que pode desencadear mudanças bruscas no clima. Não estou falando de uma parada total como a do filme ‘O dia depois de amanhã’, mas as observações oceanográficas indicam que essa redução já começou”, diz Fischer. “A teoria da gangorra climática afirma que isso vai gerar um aquecimento no Atlântico Sul além do que já está sendo causado pelo dióxido de carbono. Isso pode acelerar ainda mais o aquecimento nesse hemisfério”, afirma.
Fonte: G1, Marília Juste, 8/11/2006 |