Sem caderno e sem
carteira
Aos 19 anos, Bruna Tainara Paixão tem uma rotina puxada. Além de cuidar da casa e dos quatro irmãos mais novos, ela dedica parte do seu tempo às atividades da igreja que freqüenta. Organizar encontros de jovens e arrecadar alimentos para comunidades carentes são atividades que ela faz com freqüência. Trabalhar ou estudar, não. Moradora da expansão do Setor O, uma das áreas mais pobres da periferia de Brasília, Bruna é um dos sete milhões de jovens brasileiros que não estudam e nem trabalham. Segundo uma pesquisa feita pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), esse número corresponde a 19,9% dos brasileiros com idade entre 15 e 24 anos. Ficar fora da escola e do mercado de trabalho não foi uma escolha de Bruna. Ela procura emprego desde que terminou o ensino médio, há dois anos, mas ainda não conseguiu entrar no mercado de trabalho. O sonho de obter o diploma em Fisioterapia ou Letras esbarra no orçamento familiar apertado. Como mora numa área distante do centro de Brasília, Bruna acredita que mesmo se conseguisse uma bolsa do Ministério da Educação não teria condições de se manter na faculdade: – Aqui em casa nós temos muitos gastos. E, mesmo com uma bolsa, meus pais não teriam como pagar livros, passagem e comida. Assim como Bruna, a maioria dos jovens sem ocupação têm renda familiar extremamente baixa. Julio Jacobo Waiselfisz, autor da pesquisa, explica que esses jovens deixam os estudos de lado para trabalhar e, como não têm uma boa formação profissional, acabam sem conseguir emprego. Para o pesquisador, a falta de perspectivas coloca o jovem em situação de risco. Diante da impossibilidade de comprar o que deseja e da falta de modelos para se espelhar, a criminalidade aparece como uma alternativa atraente: – Há fortes pressões estimulando o consumo e, por outro lado, a sociedade não oferece exemplos edificantes: todo dia tem notícia de corrupção na TV. Falta de políticas públicas eficientes voltadas para os jovens O desejo de ter independência financeira foi a principal motivação de Osmir da Silva, de 22 anos, para explorar todas as oportunidades de trabalho que lhe foram oferecidas. Ele já trabalhou como garçom, copeiro, office-boy, assistente de cenografia e serviu por um ano ao Exército, mas está desempregado há cinco meses. – Devido às circunstâncias, eu estou procurando o emprego que aparecer – diz com bom humor. Osmir mora com a mãe, o padrasto e dois irmãos em Planaltina de Goiás, no entorno de Brasília. Ele quer cursar Psicologia mas para alcançar a meta tem que cumprir várias etapas: conseguir um emprego, ajudar a família e juntar dinheiro para a faculdade. Sem se profissionalizar, as chances de Osmir conseguir um emprego são pequenas. Mesmo com o crescimento do emprego formal no país, os índices de ocupação entre os jovens não estão melhorando no mesmo ritmo que em outras faixas etárias. Eles não têm tudo que o mercado exige. Para Waiselfisz, não existem políticas públicas eficientes voltadas para os jovens e isso explica porque um percentual significativo de pessoas em idade produtiva está sem ocupação: – Não dá para deixar como está. Tem que existir um esforço para qualificar mais o jovem para o mercado de trabalho ou colocá-lo dentro da escola.
*Jamila Tavares é da turma 2008 do Programa de Estágio Multimídia da Infoglobo.
Fonte: O Globo, 19/8/08.
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