Falta
conteúdo ao ensino no Brasil,
Relatório sobre a situação da educação no mundo, divulgado ontem pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), situa o Brasil em 72.º lugar entre 127 países. É o segundo relatório deste tipo feito pela Unesco - do primeiro, o Brasil não participou, porque não enviou dados. Ter posto quase todas as crianças de 7 a 14 anos na escola nos últimos anos continua rendendo elogios ao País. No entanto, os outros problemas da educação brasileira puxam o País para baixo no ranking. De acordo com o documento, intitulado Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos, ainda falta conteúdo de qualidade no ensino brasileiro. A nota atribuída ao Brasil no Índice de Desenvolvimento Educacional (IDE), criado pela Unesco, é de 0,899, o que põe o País em uma posição considerada intermediária. O indicador é formado por quatro pontos - taxa de analfabetismo, matrículas no ensino fundamental, paridade entre meninos e meninas no acesso à escola e permanência na escola depois da 4.ª série primária. A colocação brasileira no IDE é inferior à do Peru e do Equador, por exemplo. É justamente o indicador de permanência na escola, que avalia a qualidade do sistema de ensino, que derruba o Brasil no ranking.
Repetência O Brasil é classificado pela Unesco entre aqueles países "ambiciosos", que estão em uma posição intermediária, mas fizeram compromissos e programas para ir adiante. No entanto, os programas elogiados como parte desse processo de inclusão já têm alguns anos. O relatório menciona o Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef), criado em 1996, e o Bolsa Escola, de 2000. São programas que ajudaram na inclusão de crianças na escola, mas ainda não mexeram na qualidade do ensino. O relatório aponta dados que podem explicar parte da falta de qualidade das escolas brasileiras. O Brasil, junto com Nicarágua e Suriname, é um dos únicos países da América Latina onde a educação obrigatória começa para os alunos apenas aos sete anos de idade. Na maioria dos países, inicia-se aos cinco e em alguns, aos seis. São dois anos de atraso. Boa parte dos demais países da região também leva a educação obrigatória pelo menos até os 15 anos, quando no Brasil ela termina aos 14. O número de horas diárias de estudo no Brasil também não é suficiente. Pelos dados da Unesco, seriam necessárias entre 4h25 e 5 horas para as crianças realmente aprenderem. A média brasileira é de 4h15, mas em muitos Estados não chega nem mesmo a 4 horas. Nas escolas municipais de São Paulo, com três turnos, 4 horas é o máximo que se pode alcançar.
Discórdia Fonte: O Estado de S.Paulo, 9/11/04 |