Editorial
Falsa prioridade

 

68,8% dos alunos do 3º ano do ensino médio tiveram seu nível de conhecimento classificado entre crítico e muito crítico. É um fracasso.

No discurso, tanto o dos políticos como o dos eleitores, a educação é sempre prioridade. Mas basta dar uma espiada nas avaliações internacionais e nacionais de desempenho de alunos para constatar o desastre que é o ensino brasileiro.

No último Pisa, programa de avaliação da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o Brasil ficou em 37º lugar entre 40 países em compreensão de leitura e em último em matemática. Nas apreciações domésticas a situação não é muito melhor.

Dados do último Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), também de 2003, mostram, por exemplo, que 68,8% dos alunos do 3º ano do ensino médio tiveram seu nível de conhecimento classificado entre crítico e muito crítico. É um fracasso.

E a situação tende a piorar no futuro. Como mostrou a reportagem principal do último Sinapse, publicado na terça-feira, a profissão de professor corre risco de extinção no país.

Como praticamente não existem estímulos para procurar essa carreira, o cenário poderá ficar crítico nos próximos dez anos.

Pesquisa da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), realizada em 2003, mostrou que 53,1% dos professores em atividade estavam na faixa dos 40 aos 59 anos, e 38,4% tinham entre 25 e 39 anos.

Só 2,9% se encontravam na categoria entre 18 e 24 anos. A pergunta inescapável é: quem vai substituir os atuais mestres à medida que eles forem se aposentando?

A escassez de docentes já é perceptível em vários Estados, em especial em áreas técnicas (física, química e matemática), cuja formação encontra em outras atividades da iniciativa privada condições profissionais mais convidativas que as oferecidas por escolas.

E não se fala apenas de salário mas também de prestígio. Até algum tempo atrás, professores já ganhavam mal, mas ainda tinham um alto reconhecimento social.

A situação é grave e não permite tergiversações. Ou o Brasil decide tornar a educação uma prioridade real, e não apenas retórica, ou a falta de educação continuará causando grandes danos ao Brasil.

Fonte: Folha de S. Paulo, 3/10/05


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