O estagiário ideal
Saiba como as suas características interferem na disputa por uma vaga Se a vida de universitário, cheia de provas e responsabilidades, por si só, já causa medo e insegurança, a passagem para o mundo corporativo, por meio do estágio, é mais uma etapa difícil na transição para o mundo adulto. Inúmeros são os desafios e as cobranças para que você saia da "casca do ovo" e adquira maturidade. Transpor tal etapa é, muitas vezes, difícil e doloroso, já que aprender, crescer e demarcar o seu espaço exige o desenvolvimento de características de sobrevivência que garantam oportunidades. A primeira coisa para se dar bem neste selvagem e voraz mercado de trabalho (perdão pelo clichê, mas é a realidade!), é entender que o mundo dos negócios é completamente diferente do clima amistoso da vidinha em família, dizem os especialistas. Além disso, cada vez mais, as empresas buscam na safra de jovens talentos pessoas que não só demonstrem vontade de aprender - embora esta seja a condição sinequanon para se dar bem em um processo de seleção -, mas aqueles que sejam bem-informados, articulados, que saibam se comunicar, seja de forma oral ou escrita e que tenham uma visão de mundo mais ampla, que agregue valor à empresa. Porém, não são só estes (os descolados ou pró-ativos) que podem encontrar boas vagas com, inclusive, plano de carreira. Segundo consultores especializados no recrutamento e seleção de jovens talentos, candidatos observadores, tímidos e até mesmo introvertidos podem, sim, ser selecionados, uma vez que o estudante contratado vai suprir uma necessidade da empresa e nem todas elas são iguais. "Não existe o melhor programa de estágio ou trainee, mas sim mercados mais adequados para cada perfil", reforça o diretor da Cia de Talentos, Vitor Pascoal. (Ainda bem. Afinal, o que seria do verde sem o amarelo, não é?) Além dos diferentes perfis empresariais, isto também acontece porque os bons empregadores - seja por meio de uma consultoria especializada, ou não - sabem que aquilo que se deve esperar de um estagiário é diferente das expectativas em relação a um profissional. Quem estagia não precisa ter talento nato ou dominar determinadas competências, mas sim, ter consciência de que, com o tempo, caso se invista em seu desenvolvimento, os diferenciais competitivos irão aparecer. É o que explica o consultor de Recursos Humanos - especialista em colocação de estagiários - Sebastião Almeida Júnior. Há mais de 30 anos atuando na inserção de estudantes no mercado de trabalho, ele diz que o erro mais comum dos empregadores, e, também, de alguns estagiários, é achar que estudantes precisam ter competências. "Esta história é para profissionais. Estagiários têm que se desenvolver. E, como tal, devem apresentar duas características básicas: vontade de aprender e discernimento para saber perguntar", diz. Na prática, isso quer dizer: mostrar interesse pelo trabalho e tirar todas as suas dúvidas antes de executar o serviço, a fim de desempenhá-lo bem e não prejudicar a empresa. "É claro que há empresas que tratam o estudante como profissional. Daí a tal expressão escraviário. Nestes casos, vale o bom senso do estudante em perceber sua situação e procurar uma oportunidade que lhe dê condições de se aprimorar", reforça. O estagiário veterano Para os especialistas em recolocação profissional, também é importante observar que existem dois momentos na vida do estagiário: o primeiro quando ele ingressa no mercado profissional. O segundo quando está saindo da faculdade, já com experiência em estágios anteriores, rumo a um programa de trainee ou mesmo para uma vaga efetiva. Dependendo do momento, são diferentes as posturas assumidas por cada um e, também, as expectativas geradas quanto a eles. De um estagiário com experiência, no último ano de faculdade, por exemplo, se espera uma postura mais polida, como o domínio da capacidade para trabalhar em equipe e a flexibilidade para criar alternativas diante de problemas ou imprevistos. "Determinadas empresas valorizam estas questões em estagiários de último ano. Espera-se que ele resolva, sozinho, os problemas operacionais que vai encontrar pelo caminho, sem precisar, o tempo todo, recorrer ao gestor", afirma o consultor em programação neurolingüística da PNL Crescer, Paul Michael Sanner. A consultora do Grupo Foco, Camila Leal Bolzan, revela que, exceções à parte, estagiários do último ano são muito visados, pois apresentam essas características. Além disso, já perderam aquele ranso da imaturidade, muito comum em estudantes recém saídos do vestibular. "Há empresas que nos pedem mão-de-obra mais estratégica ou executora de acordo com suas necessidades, mas, em geral, maturidade acaba sendo um pré-requisito", afirma. Se você já passou por alguns estágios, mas ainda não conseguiu se desenvolver a ponto de considerar flexível, ter um bom relacionamento em equipe ou também percebe que ainda tropeça na imaturidade na hora de resolver "pendengas", Sanner dá as dicas, independentemente do perfil do estagiário ou da empresa: a importância de traçar objetivos, de perceber sua forma de se relacionar, a necessidade de manter o equilíbrio emocional e, por fim, de se manter motivado. Especialista em lidar com as fraquezas e as emoções, inclusive com jovens, Sanner explica que traçar objetivos é fundamental para entender o que se quer do estágio e, também, perceber até que ponto a oportunidade está respondendo às suas expectativas. "Assim, fica mais fácil lidar com sensações como frustração e insatisfação dentro de uma companhia", explica. Perceber sua forma de se relacionar, por sua vez, é importante porque, hoje, há muito mais espaço para aqueles que trocam experiências, aprendem com os colegas, em relação aos individualistas. "Ninguém é insubstituível. Quando se percebe isso se parte para uma atitude muito mais colaborativa em que, além do indivíduo, uma equipe sai ganhando", reforça. Manter o equilíbrio emocional, em especial, para os jovens, evita explosões desnecessárias ou conflitos e mal-entendidos que, somados, podem prejudicar o estagiário e a empresa. Já a motivação é uma forma de superar bloqueios pessoais de maneira natural e isso ajuda a todos de maneira geral. "Se tudo isso for aplicado, fica muito mais fácil lidar com a pressão, com as cobranças, ter paz para executar o trabalho, crescer e lidar com imprevistos evitando o estresse", afirma.
Fonte: UniversiaBrasil, Lilian Burgardt, 14/08/2006 |