Especialistas comentam declarações de Dilma Rousseff sobre educação

             

 

 

 

 

 

Presidente eleita afirmou que a política de educação brasileira já estaria "muito bem encaminhada"
e por isso seria menos prioritária do que áreas como saúde e segurança
 

Especialistas ouvidos por "O Globo" afirmam que a má qualidade do ensino, principalmente no nível básico, continua sendo um entrave para o Brasil. Eles concordam que, nos últimos anos, houve avanços, mas afirmam que há enormes desafios num país com 14,1 milhões de analfabetos, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2009.  

Professor da Faculdade de Educação da USP, Nilson José Machado diz que as declarações de Dilma estariam desvinculadas da realidade. Para ele, recentemente têm se multiplicado políticas de avaliação dos cursos, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), sem ações planejadas, porém, para ampliação e melhoria da qualidade do ensino.  

- Entre uma avaliação e outra, resta rezar para que os índices melhorem. Nesta eleição, comemorou-se que 20% do eleitorado não eram escolarizados, já que em 2006 eram 23%. Mas se continuar nesse ritmo, precisaremos de mais sete eleições para todos os eleitores tenham tido acesso à escola. É muito pouco se contentar com isso – diz.  

Já o presidente executivo da ONG "Todos pela Educação", Mozart Neves Ramos, crê que a criação de metas e indicadores para a educação, como o Ideb, podem, sim, ser instrumentos para nortear a busca por qualidade.  

Ele também ressalta um panorama positivo após a realização, este ano, da Conferência Nacional de Educação, com subsídios à elaboração de um novo Plano Nacional de Educação, a ser enviado ao Congresso. Mas destaca que, para atingir os objetivos, é importante que a presidente cumpra sua promessa de investir 7% do PIB no setor.  

- No primeiro governo Lula, o percentual girou próximo dos 4%. Chegou agora a 5%. Ou seja, para tornar sua promessa de 7% efetiva, Dilma terá que acelerar os investimentos – afirma.  

Outra especialista, Lia Faria, diretora da Faculdade de Educação da Uerj, diz que, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, o Brasil vem conseguindo equacionar o problema do acesso à educação fundamental (de acordo com a Pnad 2009, 97,6% das crianças de 6 a 14 anos estavam na escola no ano passado). 

No ensino superior – nível sob responsabilidade direta da União –, ela destaca o crescimento no número de vagas durante o governo Lula, assim como a abertura de escolas técnicas. Em ambos os processos, no entanto, Lia questiona que os avanços quantitativos não têm significado melhorias na qualidade do ensino.  

- A catástrofe na nossa educação passa por aí. Aplaudimos o acesso à escola pública, principalmente para crianças. Mas precisamos de acesso com sucesso. Ainda somos um país de analfabetos funcionais. E a situação do ensino médio, primo pobre da educação no país, é a mais trágica – diz.  

Segundo ela, devido ao ensino médio não atender às expectativas dos jovens, ainda são das mais altas as taxas de evasão desse nível de ensino (14,8% dos adolescentes de 15 a 17 anos não frequentavam a escola em 2009, de acordo com o IBGE). Para mudar esse quadro, Lia aposta na melhor capacitação dos professores, principalmente no que se refere à incorporação das novas tecnologias de comunicação nas salas de aula.

 

Fonte: O Globo, 5/11/10.

 


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