Espanha barra brasileiros

 

O país impede a entrada de oito viajantes por dia e embaixada não dá assistência aos detidos



DETIDA A física Patrícia Magalhães e a sala onde ela ficou retida com outras 40 pessoas durante três dias: sem banho e comendo pão duro, carne seca e batatas fritas esmagadas.

 

Desde 2002, após um aquecimento da economia gerado por um boom imobiliário, houve um aumento na oferta de empregos na Espanha e o país se converteu em um dos destinos preferidos de imigrantes de todo o mundo. Os brasileiros descobriram as oportunidades que a Espanha oferece e hoje são a sétima população com maior presença no país – mas dos 110 mil imigrantes apenas 68 mil vivem legalmente. Além das oportunidades de trabalho, a facilidade da língua, o clima e a presença dos compatriotas fazem o contingente aumentar a cada ano. O preço para ingressar no solo espanhol, porém, tem saído caro para os brasileiros. Cerca de três mil viajantes foram barrados no aeroporto em 2007 e tiveram que voltar para casa. 

A física Patrícia Camargo Magalhães, 23 anos, e a turismóloga Camile Gavazza Alves, 34, – barradas no aeroporto de Madri no dia 10 de fevereiro – não tinham intenção de morar no país. Patrícia faz mestrado na Universidade de São Paulo (USP) e iria defender um projeto de pesquisa num congresso internacional em Lisboa. Camile planejava estudar inglês durante seis meses em Dublin, na Irlanda, e investiu R$ 20 mil na viagem. Elas estavam num vôo com conexão na Espanha e depois seguiriam para seus destinos. Mas a viagem e o sonho delas foram interrompidos sem nenhuma justificativa. “Os espanhóis simplesmente não foram com a nossa cara”, afirma Camile, que não recebeu explicações das autoridades espanholas por ter sido barrada. “No meu caso, eles falaram que faltavam documentos, mas não especificavam quais”, diz Patrícia.

Dos 20 brasileiros detidos, todos os 12 homens foram liberados na hora. As oito mulheres ficaram retidas e sete voltaram ao Brasil.

Pelo direito internacional, cada nação tem liberdade para decidir sobre a entrada de estrangeiros em seu solo, e as justificativas das recusas não são obrigatórias. Às duas cabia apenas um único direito – a assistência da embaixada. “Minha irmã conseguiu falar com o Itamaraty, mas não tivemos nenhum retorno”, declara Patrícia. Um amigo dela que mora em Madri chegou a ir ao consulado, mas não encontrou nenhum funcionário. Ligou diversas vezes para o telefone de emergência do órgão, deixou mensagens, mas não teve retorno. Resultado: elas ficaram sem nenhum apoio durante três dias, comendo pão duro, carne seca e batatas fritas esmagadas com 40 pessoas numa sala de 50m2 e poucas cadeiras. Não tinham onde tomar banho ou dormir e a disputa pelo telefone era tensa. “Tinha uns 30 latinos lutando na fila por um minuto no telefone público. Eu levei 14 horas para conseguir falar com a minha família. E os policiais gritavam com a gente, dizendo que quem estava pagando a nossa comida era o governo espanhol e que o Brasil não gastava um centavo com a nossa permanência lá”, conta Camile.

 


AEROPORTO Na Espanha, três mil brasileiros não puderam entrar no país em 2007.

 

O Itamaraty alega, através da sua assessoria de imprensa, que os funcionários do consulado não tinham como telefonar para elas porque o número disponibilizado era um telefone público. O professor de mestrado de Patrícia enviou ao órgão um fax com documentos que comprovavam a participação da pesquisadora num congresso, mas não teve retorno porque, segundo o Itamaraty, não havia o número no fax. Nenhum funcionário da embaixada deu assistência às brasileiras. O cônsul-geral do Brasil em Madri, Gelson Fonseca Júnior, apenas pediu esclarecimento às autoridades espanholas por telefone e e-mail, no dia seguinte. O órgão afirma que o consulado em Madri recebe cerca de 150 chamadas por dia, tem apenas três diplomatas e poucos funcionários. Ou seja, falta estrutura para atender à comunidade brasileira na Espanha, que aumenta a cada dia. Pelo visto, resta aos turistas contar com a própria sorte.

 

 

 

Fonte: Rev. IstoÉ, Carina Rabelo, ed. 1999, 27/2/2008.

 


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