Educação
Escola pública, gestão particular

 

Uma parceria que melhorou o ensino público em 190 cidades brasileiras

A Prova Brasil, exame do Ministério da Educação que avaliou o ensino em 5.400 municípios do país, revelou a eficiência de um novo tipo de escola pública: ela é administrada em parceria com grupos particulares – e não mais apenas pelos governos locais. A divisão de tarefas coloca nas mãos de empresas privadas de ensino o controle sobre a vida acadêmica das escolas. Restam às prefeituras as atribuições administrativas. O exemplo mais bem-sucedido desse modelo veio de sete municípios do interior de São Paulo. Eles sobressaem no ranking do estado. Segundo o MEC, de um total de 632 municípios avaliados, esses sete têm lugar na lista dos dez campeões em ensino. Em comum, eles

 


Alunos da cidade de Porto Feliz: administração mista deu bom resultado 

contrataram um grupo privado, o COC (dono de uma rede de 200 escolas em 150 cidades), para ditar os rumos pedagógicos nas salas de aula públicas. É o caso mais contundente de um modelo de administração que, recentemente, vem ganhando espaço no Brasil. Em outras 190 cidades, a educação pública já funciona assim – em São Paulo, 25% dos municípios mantêm parceria com a iniciativa privada. O que mais surpreende nessa nova modalidade de escola pública, no entanto, é a sua eficácia acadêmica. De acordo com o ranking do MEC, a união dos governos com a iniciativa privada tem produzido raras ilhas de excelência num sistema que há décadas forma estudantes de ensino básico incapazes de ler um bilhete e que desconhecem as operações básicas da matemática.

O sucesso dessas experiências locais coloca em evidência uma constatação que tem respaldo na experiência internacional: o bom desempenho em sala de aula não depende de soluções pedagógicas mirabolantes, mas, sim, da implantação e execução disciplinada de um conjunto simples de medidas. É o que ocorre com as escolas públicas sob o comando do COC, o primeiro dos grupos particulares a entrar nesse mercado, em 1997. A fórmula em vigor no interior de São Paulo reforça a eficácia de um tripé consagrado nos países onde a educação dá certo. Primeiro, conta com um bem treinado exército de professores. Um exemplo: exige-se dos docentes que assistam mensalmente a um curso no qual são apresentados ao material didático e recebem indicações para usá-lo de forma atraente aos alunos. Para lecionar, os professores contam ainda com apostilas que funcionam como roteiro para as aulas. Elas vêm com sugestões de exercícios e tarefas de casa para cada matéria. Ao contrário do que se passa em boa parte das escolas públicas do país, no interior de São Paulo faz-se o mínimo esperado para criar um ambiente favorável ao aprendizado: o professor entra na sala de aula preparado para ensinar. "Os alunos prestam atenção nas aulas e adoram ir à escola", diz Kátia Biscaro, diretora de um dos colégios administrados pelo COC.


Sala de ensino a distância: ênfase na formação de professores 

 

Um segundo fator que tem impacto na qualidade do ensino dessas escolas é o fato de estarem permanentemente sob avaliação. Especialistas visitam a cada dois meses as salas de aula com o objetivo de diagnosticar deficiências e cobrar o cumprimento de metas. Dessa "consultoria pedagógica" (sim, nessas escolas públicas ouve-se o jargão do mercado) resulta uma espécie de boletim, que coloca em evidência os profissionais mais eficientes e joga luz sobre os que fracassaram ao lecionar. Os relatórios são enviados às secretarias de Educação locais. Estar sob os holofotes – no bom ou no mau sentido – funciona como poderoso motivador para os professores, fato demonstrado há décadas pela experiência de países como Coréia do Sul e Irlanda, ambos referência de boa educação. Do modelo em vigor nos sete

municípios de São Paulo campeões em ensino, depreende-se ainda uma terceira lição: a eficiência do reforço aos estudantes com dificuldade para aprender. Nessas escolas, os professores têm um tempo reservado para atender os alunos mais fracos. Em suas visitas, os "consultores" também dão sugestões para lidar com esses casos. Conclui o especialista Claudio de Moura Castro: "O setor privado está fazendo o que deveria ser atribuição básica de uma secretaria de Educação".

A parceria entre governos municipais e empresas privadas originou-se de uma brecha do Fundeb, o fundo da educação básica. Os municípios podem, por lei, usar livremente 40% dos recursos do fundo a que têm direito – a outra parte está comprometida com o pagamento dos professores. É com esse dinheiro que os governos locais contratam as redes de ensino particular. Como contrapartida, devem abrir mão do material didático do MEC, uma vez que os livros passam a ser fornecidos pelos grupos privados. Por ter sobressaído num sistema mais lembrado por suas precariedades, o caso do interior de São Paulo despertou o interesse das autoridades. O ministro Fernando Haddad chegou a receber em Brasília um grupo de diretores do COC, para ser apresentado ao projeto. Não ouviu dos executivos nada de espantoso no campo do ensino. Escolas campeãs como a de Porto Feliz, cuja foto ilustra esta reportagem, são apenas mais uma prova de que, na educação, o bê-á-bá bem-feito pode resultar na tão almejada eficiência acadêmica.

 


Um modelo campeão

O que deu certo nas escolas municipais administradas em parceria com o COC, no interior de São Paulo

  • Os professores são treinados para apresentar o material didático aos alunos

  • As aulas são pautadas por metas previamente estabelecidas no currículo

  • A escola e o corpo docente são avaliados a cada dois meses

  • Os estudantes com dificuldade para aprender recebem reforço

CONCLUSÃO

Sete cidades de São Paulo campeãs em ensino adotam essa fórmula – prova de que o sucesso acadêmico pode resultar de um conjunto simples de medidas.
 


 

Fonte: Rev. Veja, Camila Antunes, fotos Alexandre Schneidered. 1995, 14/2/2007.


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