O Brasil tem atualmente 84.713 pessoas que cursam o ensino superior por meios virtuais, nas chamadas universidades a distância. Diante dos escassos investimentos feitos nessa modalidade de ensino no país, o número é representativo, segundo a Unesco. O dado é do primeiro censo feito no país sobre o tema, a ser divulgado hoje em um seminário realizado pelo Iesalc (Instituto Internacional da Unesco para a Educação Superior na América e no Caribe), no Equador. Até o fim de 2002, 33 instituições públicas e privadas brasileiras ofereciam 60 cursos de graduação e pós-graduação sem que o aluno precisasse sentar nos bancos universitários diariamente. "O número total de alunos [que estudam virtualmente", ainda que modesto diante do contingente de pessoas matriculadas no ensino presencial [cerca de 3 milhões, segundo o MEC", tem significativa importância. No Brasil, não houve investimento público ou privado para a criação de universidades a distância nas décadas de 70 e 80", disse João Vianney, diretor de Educação a Distância da Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina) e coordenador do levantamento. De acordo com o censo, 54.757 pessoas frequentavam cursos virtuais autorizados pelo MEC e outros 21.141 estavam em cursos credenciados por conselhos estaduais de educação. Os demais estudantes acompanham cursos em fase final de credenciamento. A Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina) concentra o maior número de alunos virtuais na graduação -14.320- e a Ufla (Universidade Federal de Lavras) lidera o ranking de inscritos na pós-graduação -8.500 alunos.
Dos inscritos em
cursos a distância, 99% estudam em universidades públicas e metade dos
alunos está matriculada nos cursos de pedagogia, normal superior, magistério
e educação básica. Na pós-graduação, os cursos voltados para a área de saúde
concentram o maior público. "A única possibilidade de ampliar a cobertura da
educação superior é a partir do desenvolvimento da educação virtual. As
limitações de investimentos públicos restringem o acesso ao ensino superior,
assim como as restrições financeiras das próprias famílias, as dificuldades
impostas pelo trabalho e as distâncias físicas", declarou Cláudio Rama,
diretor-geral do Iesalc. O censo revelou também as formas utilizadas para a
transmissão do conhecimento nas universidades a distância. A troca de
mensagens eletrônicas, as visitas a ambientes virtuais e as aulas on-line
são os mecanismos mais usados. As teleconferências, videoconferências e
fitas de videocassete, porém, ainda são amplamente úteis. Segundo o MEC, a
taxa de evasão dos cursos virtuais é menor do que a dos cursos tradicionais.
Fonte: Folha de São-Paulo, SP, Jairo Marques 14/02/03.
Custo mais baixo é um
dos atrativos
Alunos de cursos superiores a distância apontaram a comodidade, os custos mais baixos e a agilidade como razões para a escolha do ensino virtual. Geovana Beux, 30, de Pato Branco (PR), faz pós-graduação em gestão e manejo ambiental na agroindústria na Ufla (Universidade Federal de Lavras), a mais de mil quilômetros de sua cidade natal. Periodicamente, Beux vai a Lavras para aulas práticas e avaliações. Lúcia Kreusch de Melo, 39, tornou-se diretora de uma escola pública no último ano dos quatro obrigatórios do curso de graduação em pedagogia a distância da Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina). "O fato de ser ensino a distância não quer dizer que você não vai se dedicar", afirmou Melo. Para a futura pedagoga, estudar virtualmente facilita a vida e é financeiramente mais viável. Depois de se formar, ela pretende fazer uma pós-graduação, também a distância. Para o professor André Zambalde, coordenador da pós-graduação virtual de informática em educação da Ufla, os cursos a distância no país são de qualidade e têm o mesmo rigor de cobrança de um curso presencial. (JM) Fonte: idem.
As impressões de um
professor sobre o ensino on-line
Uma das minhas partes favoritas na educação universitária é me vestir e causar uma boa impressão. Eu planejo minhas roupas, me maquio, combino acessórios, e até preparo minhas aulas. Mas aqui estou eu em uma noite de sexta-feira, dando aula a 25 alunos em meu pijama lavanda. Estou dando aula on-line. No ano passado, eu pedi para ensinar uma classe universitária on-line em ciência ambiental - um curso que eu dei nas aulas de verão por vários anos. Eu tinha questões sobre a validez deste meio de instrução. Como eu saberia que o aluno que estava mandando o trabalho era o mesmo que estava registrado no curso? E como eu realmente saberia que a pessoa que estava na minha aula tinha se registrado? Para ensinar on-line também foi preciso repensar como eu falaria do tema. Por 17 anos, eu dei aulas de química e ciência ambiental diante dos alunos. As críticas dos meus alunos sempre foram extremamente positivas, normalmente mencionando meu entusiasmo, senso de humor e capacidade de passar a matéria de forma fácil de entender. Meu desafio foi fazer isso via computador. Enquanto eu me concentrava nas questões filosóficas e pedagógicas, minha filha fazia dois cursos on-line. Esta mostrou ser minha melhor experiência de aprendizado. Ela sempre tinha sido uma aluna muito tímida que nunca falava na aula. Mas nesses cursos on-line, ela mergulhava em discussões, mandava suas opiniões e em geral se sentia mais livre para participar do que antes. Eu também fiz um curso rápido da nossa universidade para professores on-line e aprendi que muitos deles também eram tímidos e se sentiam mais confortáveis em dar instruções via computador. Já que eu estava escalada para ensinar ciência ambiental na escola de verão, parecia o momento perfeito para preparar as aulas para o curso on-line no outono. Meu plano: durante o dia eu tinha que dar as aulas tradicionais, que eu preparava durante a manhã, cortava a grama e então dava aulas durante a noite. Eu nunca cheguei a cortar a grama. Cada aula requeria cerca de oito horas de digitação e ilustrações para deixar tudo claro para os estudantes on-line. Eu também disponibilizei aulas para os meus estudantes tradicionais e eles gostaram de criticá-las. Quando a aula on-line começou, os estudantes também seguiam instruções. Eles escreveram suas biografias e resumiram artigos sobre questões ambientais. Eles responderam questões sobre suas contribuições a problemas ambientais, algumas vezes confessando hábitos pessoais incríveis. Eles comentaram sobre os textos dos outros alunos. O grupo de discussão parecia ser vivaz, com textos enviados todas as horas do dia. Quando um estudante queria discutir algo em privado, ele me mandava um e-mail e resolvíamos as questões. Eu aprendi com os cursos da minha filha que era fundamental para os alunos sentir que o professor estava sempre lá, pronto para responder perguntas - dia e noite. Quando eu convidei meus alunos a mandarem suas fotografias, somente um aceitou, mandando uma foto do pôr do sol sobre a baía perto de sua casa na Flórida. Portanto, as imagens que eu tenho deles são criadas por seu trabalho - sua pontualidade, sua ansiedade pela matéria, as notas de suas provas e sua interação com outros alunos. Eu nunca me encontrei nenhum deles mas sinto que os conheço. Alguns estudantes ficavam para trás, tentavam alcançar e então enfraqueciam. Eu lhes mandava e-mails para incitá-los a participar ou melhorar seu trabalho, mas concluí que alguns alunos precisam da disciplina da sala de aula para ficarem envolvidos. Os cursos on-line dão muita flexibilidade para alguns. Cerca de 20% dos meus alunos estavam nesta categoria. Os testes e comentários confirmam que o aluno aprendeu a matéria e a integrou à sua vida. Vi essas atitudes dos estudantes se desenvolverem diante dos meus olhos - isto é, eu li suas observações. Eles eram velozes em mandar um alerta quando um problema ambiental se tornava notícia, e muitos ficavam ultrajados com as decisões ambientais tomadas pelo governo enquanto o curso estava sendo realizado. Às vezes, os comentários eram empolgados, cheios de referências a assuntos que tínhamos estudado antes. Descobri que para a educação on-line, a interação - com o professor, com outros alunos - é mais um elemento integrante do aprendizado do que na sala de aula. O aprendizado aconteceu. Ele parecia funcionar melhor com alunos que estavam muito familiarizados ao computador e estavam dispostos a se tornar parte de uma comunidade construída ao redor do tema. Para os professores, funcionava bem se eles estivessem dispostos a construir esse senso de comunidade e lidar com o e-mail. Eu ainda dou aulas pessoalmente, assim eu posso continuar a me divertir com as roupas. Mas ensinarei ciência ambiental on-line nos próximos semestres e planejo enfeitar esse pijama com pantufas macias e um roupão brilhante. |
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