EM
DEFESA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA:
CONSTRUIR A UNIDADE, RESISTIR E AVANÇAR NA LUTA
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A Diretoria do
ANDES-SN, reuniu-se em Brasília no período de 28 a 30 de abril. À ocasião
atualizou a avaliação de conjuntura que havia apresentado durante o 26º
CONGRESSO (Campina Grande, 27/2 a 5/3), procedeu um balanço da
implementação de sua agenda de lutas e dimensionou os resultados dessas
ações.
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Em particular
deteve-se na análise das últimas medidas do Governo Lula que se nega a
discutir a pauta de reivindicações dos servidores públicos federais (SPF).
Por essas medidas, o governo propõe o congelamento dos salários e, por
meio de editais, de decretos e de medidas provisórias, avança célere em
sua proposta de reforma universitária.
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Como resultado desse
trabalho, indica à consideração da reunião conjunta dos setores do
Sindicato, a realizar-se no próximo dia 4 de maio, em Brasília, plano
emergencial de lutas que objetiva ampliar e qualificar nossa organização
para responder, no imediato e a médio prazo, a esses ataques.
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A compreensão que se
construiu é de que o Sindicato fez uma análise correta quando, em sua
avaliação de conjuntura, indicou que o Governo Lula tentaria aprofundar
seu projeto de reforma neoliberal do Estado brasileiro. Com tal objetivo,
mantém o compromisso de pagamento de uma dívida pública impagável,
ancorado em uma política de juros os mais elevados do mundo, que sustenta
a formação do superávit primário, caixa para remunerar o capital
financeiro nacional e internacional. De outra parte, adota políticas para
moldar a economia, a industria, a ciência e a educação do país ao
cumprimento de um papel subalterno na ordem mundial, ajustando o país à
política imperialista ditada pelo Governo Bush, que encarna os interesses
do grande capital internacional.
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Nessa lógica, esse
Governo, que representa os setores da classe dominante, tem seu trabalho
de implementação das contra-reformas (trabalhista, sindical, previdência e
universitária) facilitado pelo apoio que recebe da CUT e de outras
centrais sindicais.
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Para isso,
contribuem, também, as ações desenvolvidas pela ampla aliança de partidos
tradicionais que configura sua base de sustentação no Parlamento – aliança
que se constituiu assentada na distribuição de cargos e troca de benesses
entre o Governo e seus participantes.
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Esses projetos
avançam com dificuldades e sobretudo com uma resistência popular que
perturba as forças governistas, na medida em que se amplia, até mesmo, em
segmentos da classe trabalhadora e movimentos sociais, que a princípio
apoiavam incondicionalmente o Governo, mas que hoje começam a perceber que
os supostos benefícios recebidos não representam mais que migalhas de
curta duração frente ao desemprego, ao arrocho salarial, às dificuldades
de acesso da população a serviços de saúde e de educação, de qualidade.
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Nesse aspecto,
também, demonstrou-se acertada a deliberação do Congresso do ANDES-SN que
apontava como centralidade da nossa luta a busca da reorganização e
unificação da classe trabalhadora, mediante a construção de um amplo pólo
classista, autônomo e combativo de organizações e movimentos sociais do
campo e da cidade, em seus setores empregados ou desempregados,
formalizados ou precarizados, empregados do setor público ou privado com
objetivo de fortalecer os laços de solidariedade e avançar na construção
de alternativas de luta contra as políticas de destruição da classe.
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O ANDES-SN deu
conseqüência de forma exitosa a essa estratégia. O exemplo mais
emblemático disso foi o sucesso do Encontro Nacional Contra as Reformas
Neoliberais, realizado dia 25 de março em São Paulo, organizado com a
participação do ANDES-SN, no qual a CONLUTAS, à qual nos filiamos, teve um
papel importante.
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Reuniram-se nesse
evento mais de 6.000 trabalhadores (as) e jovens da cidade e do campo, de
diversos movimentos sociais e sindicais de todas as regiões do país,
discutindo e traçando estratégias de luta e definindo uma agenda de ações
que vem sendo cumprida, com grande esforço e empenho.
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No dia 17 de abril –
dia nacional de mobilização-, deu-se início a essa caminhada, protestando
contra a reforma universitária do Governo Lula e marcando nos estados a
campanha salarial dos servidores públicos. Nessa escalada, os movimentos
sociais em luta marcaram o 1º de maio com a organização de diversas
manifestações classistas. O dia 23 de maio será caracterizado por
paralisações, ocupações e manifestações contra as reformas neoliberais.
Além disso, prevê-se para o segundo semestre deste ano a realização de
atividades de massa em algumas capitais do país e na capital federal.
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Todavia é preciso
considerar que se vivencia uma conjuntura complexa e por vezes
contraditória frente à gravidade dos ataques e às medidas que o Governo
vem tomando para silenciar a ação sindical. Apesar da mobilização
verificada, não se atingiu, ainda, um patamar correspondente de reação do
conjunto das categorias.
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Para isso, têm
contribuído a CUT e PT, que, como fiéis escudeiros de Lula, cumprem o
papel de defender a imagem cada dia mais desgastada de seu governo,
fingindo acolher as demandas dos movimentos, para numa pantomima,
intermediar conversas ou propor emendas e ajustes periféricos às propostas
e projetos governamentais. Com isso, a CUT tenta também demonstrar uma
combatividade que não tem e sustar a tendência, que se intensifica a cada
dia, de desfiliação de importantes sindicatos de sua base.
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Isso, entretanto,
não deve ser tomado como um impedimento à construção da luta e à análise
da necessidade e possibilidades de radicalizá-la.
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Na perspectiva de
negativa do governo em abrir negociação e recrudescer seu ataque a
educação pública, a Diretoria entende necessário promover no movimento
docente a discussão sobre um indicativo de greve, a ser considerado também
no âmbito dos SPF.
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É importante, ainda,
resgatar, nesse quadro, o que vem ocorrendo no campo da educação.
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No dia 26 de março,
em São Paulo, reuniu-se a Frente de Luta contra a Reforma Universitária,
que reuniu estudantes, servidores técnico-administrativos e docentes. Como
fruto do trabalho desenvolvido, começa o processo de constituição de
comitês estaduais e locais, que constroem a luta pela base. Nesse
processo, vale destacar que se observa uma forte mobilização entre os
estudantes.
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Porém, é na
consideração das últimas medidas referentes a reforma da universidade que
podem ser encontrados os elementos que apontam para a análise dos rumos
que deve orientar a ação do ANDES – SN.
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Na seqüência
imediata do alarido feito para o anúncio, de cunho claramente
propagandístico, do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE),
caracterizado como sendo a face relativa à política educacional do PAC, o
governo exarou um conjunto de medidas legais/ normativas, relacionadas a
alguns dos temas contemplados pelo material de divulgação do PDE.
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Inicialmente, mesmo
que a ser evidenciada a posteriori pela a análise específica do
conteúdo de alguns aspectos dos referidos material de divulgação e
instrumentos, cabe registrar a precisão do conjunto de medidas, que se
apresenta como uma “costura perfeitamente arrematada, na qual não há ponto
sem nó”, uma vez que é capaz de abranger- e articular- praticamente todos
os elementos sobre os quais é importante que o governo exerça sua
intervenção, com ênfase na implantação de uma padronização da educação
superior pública brasileira, requisito indispensável para adequá-la, ainda
mais, aos ditames do capitalismo globalizado- leia-se: a viabilização, sem
empecilhos, da venda transfonteiriça de pacotes de serviços educacionais.
Assim, vejamos:
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O
Decreto 6.096 (24 de abril de 2007),
que “institui o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais”, configura-se como a forma legal de implementar o
programa Universidade Nova, em consonância com os ditames do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG). A análise desse programa, feita
pelo ANDES-SN, já circula amplamente no seio do movimento docente nele
organizado, devendo ser rapidamente apropriada pela categoria e, em
princípio, é uma base sólida para a compreensão do referido decreto. No
entanto, vale destacar algumas “novidades” introduzidas pelo decreto. Uma
delas, com nítidas e significativas repercussões sobre o trabalho docente,
no sentido de sua desvalorização, desqualificação, precarização e, até
mesmo, terceirização é a destinação de recursos para a compra de bens
e serviços necessários ao funcionamento dos novos regimes
acadêmicos. Do mesmo modo, o melhor aproveitamento da estrutura física
e de recursos humanos existentes nas universidades federais, cujo
pressuposto é o de que a atual estrutura física e os recursos humanos
estariam sendo subutilizados. Além disso, ao analisar-se o art. 7º e o § 2º
do artigo 3º percebe-se que não há recursos novos disponíveis e sim uma
proposta de simples redistribuição dos recursos existentes no orçamento do
MEC. Por fim, a própria forma escolhida para a normatização, a via do
decreto, também se configura como novidade: ela explicita uma iniciativa
autoritária de influir, de forma incisiva, na reformulação da estrutura
acadêmica dos cursos de graduação universitária, quando anteriormente, mesmo
com os limites evidentes de uma simulação, alardeava-se um procedimento de
natureza dialógica, pela via do convencimento, para a implementação da
proposta.
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O
Decreto 6.095 (24 de abril de 2007) - Criação dos Institutos Federais de
Educação Tecnológica (IFET) –
Os IFET, instituições de educação superior, básica e profissional,
pluricurriculares e multicampi, especializadas na oferta de educação
profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino, desde a
Educação de Jovens e Adultos profissionalizante até doutorado profissional.
A idéia é, por meio dos IFET, promover ações de mapeamento das
potencialidades de desenvolvimento socioeconômico local, regional e
estadual. Este desenvolvimento estará sintonizado com os arranjos produtivos
locais (APL) que se caracterizam pela aglomeração de um numero significativo
de empresas que atuam em torno de uma atividade produtiva principal. Nessa
linha, uma inferência mais do que possível, provável, tendo em vista a
lógica que preside as ações do governo, é que esses institutos, pela
conformação que lhes é atribuída e em articulação com universidades federais
integradas ao plano de reestruturação estabelecido no Decreto 6096, por
intermédio da Educação a Distância, tornem-se, por excelência, os espaços de
formação de professores da educação básica, inclusive daqueles que já atuam
no magistério.
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A
Medida Provisória 361 (28 de março de 2007) – Instituição do Auxílio de
Avaliação Educacional (AAE) para servidores que participarem de processos de
avaliação realizados pelo INEP e CAPES –
e O Decreto 6.092
(24 de abril de 2007) que regulamenta o AAE. Esses instrumentos
instituem e regularizam uma forma adicional de complementação salarial nos
moldes de outras várias já existentes e/ ou em processo de implantação
previstas no “pacote”, como, por exemplo, as bolsas concedidas aos docentes
vinculados aos cursos abarcados pelo “guarda-chuva” da Universidade Aberta
do Brasil (UAB). Em nossas análises sobre essa temática, caracterizamos
essas complementações como gravemente problemáticas, uma vez que induzem ao
amesquinhamento da componente dos vencimentos, a qual, numa percepção
valorizadora do trabalho docente como a do nosso sindicato, deve ser
amplamente predominante na composição da remuneração dos professores
universitários.
21.
Do material de divulgação, deve-se destacar, mesmo que ainda não
tendo sido efetivada em instrumento normativo (projeto de lei), a concessão
de uma “benesse” adicional às Instituições de Ensino Superior (IES)
particulares integradas ao PROUNI. Além da renúncia fiscal já existente,
articulada a uma mudança no Fundo de Financiamento Estudantil (FIES),
certamente penalizadora dos egressos que o utilizaram como estudantes
(desconto em folha de salário do empréstimo tomado), é prevista a
implementação de um um programa de parcelamento de dívidas, de caráter
fiscal e previdenciário, para aquelas IES. Se associarmos a isso o fato de
que o governo, ainda que tenha sido arrefecido seu ímpeto no esforço pela
aprovação do PL 7200/ 06, não tenha tomado nenhuma iniciativa no sentido de
intervir na tramitação do conjunto dos 8 projetos de lei que versam sobre a
educação superior, deixando, portanto, um amplo espaço aberto para uma ainda
maior privatização, fica claro o favorecimento dos interesses dos
empresários do ensino.
22.
É por todas essas razões que esta Diretoria conclama os companheiros
docentes a reforçar a mobilização de nossa categoria e a se engajar,
decidida e decisivamente, na construção do sucesso das atividades de luta
planejadas.
Brasília, 30 de abril
de 2007.
DIRETORIA DO ANDES-SN.
Fonte: ANDES-SN, 7/5/2007. |