Eles podem ser soltos
Agora, eles nem lêem o que votam!
Pela legislação anterior, bandidos acusados de um crime hediondo, como os assassinos de João Hélio, não tinham direito ao benefício da liberdade provisória, reservado apenas a autores de crimes comuns. Agora, desde o mês passado, qualquer criminoso, incluindo os assassinos do menino carioca, pode solicitar o benefício. A decisão de concedê-lo ou não, evidentemente, cabe a um juiz. E por que uma medida dessas foi tão facilmente aprovada pelos congressistas? Simplesmente porque a maior parte dos deputados de oposição não entendeu o que estava votando. "Essa mudança é obviamente um retrocesso na nossa intenção de endurecer a legislação penal. Passou sem que fosse percebida", diz o líder dos Democratas na Câmara, Onyx Lorenzoni. "Agora, é reconhecer o erro e tentar uma nova mudança na lei." Um dos principais defensores do direito à liberdade provisória para acusados de crimes hediondos é o hoje advogado criminalista Márcio Thomaz Bastos. Foi durante a sua gestão como ministro da Justiça, em 2006, que o projeto de mudança na Lei de Crimes Hediondos foi enviado pelo governo ao Congresso. Urdido no gabinete do ministro, o projeto trazia a justificativa de que algumas decisões do Supremo Tribunal Federal já estavam desconsiderando a lei em vigor e concedendo liberdade provisória a acusados de crimes hediondos. Seria necessário, portanto, segundo os argumentos do ex-ministro, ajustar a lei às decisões do STF. É provável que, ao defender uma medida que, em última análise, beneficia autores de crimes violentos, Márcio Thomaz Bastos tenha deixado o advogado falar mais alto do que o ministro – uma vez que a mudança tornará mais fácil não só a vida dos bandidos como a de seus defensores. Thomaz Bastos, no entanto, ao contrário dos deputados de oposição, ao menos sabia o que estava fazendo.
Fonte: Rev. Veja, Marcelo Carneiro, ed. 2004, 18/4/2007. |