A
educação na rede
Escolas e universidades aprimoram o ensino com estratégias como cursos
online
e aparelhos hi-tech nas salas de aula
O
computador entrou de tal forma na rotina dos brasileiros que é difícil
lembrar como nos correspondíamos antes dos emails. Um dos poucos setores
que permanecem distantes das maravilhas tecnológicas foi a educação,
justamente onde a inovação é mais necessária. Agora, em muitas salas do
Brasil o domínio do giz começa a dar lugar à era digital. Importantes
iniciativas públicas e privadas finalmente passam a utilizar o
computador como ferramenta educativa e não mais como simples máquina de
escrever modernizada. Pesquisa da Associação Brasileira de Ensino a
Distância (Abed) revela que o ano de 2006 foi fechado com cerca de 1,3
milhão de alunos aprendendo via internet.
Lousas eletrônicas
e recursos de realidade virtual já são usados com ótimos resultados nas
escolas particulares e o ensino público também "caiu" na rede.
Além disso, o |
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Fotos: Roberto Castro
LOUSA DIGITAL No Colégio Ciman, de
Brasília, as lições são projetadas, em cores, na parede. Um sistema de
softwares "cria" a tela. |
Ministério da
Educação (MEC) está investindo R$ 176 milhões para que a Universidade
Aberta do Brasil crie até agosto 60 mil vagas para diversos cursos,
todos online. Projeto lançado em 2005, a universidade é um sistema
nacional de ensino, ligado a 55 instituições federais, para levar
educação de nível superior aos pontos mais distantes do País. |
Seja para a criança ou
o adulto, para o curso rápido ou o mestrado de nível internacional, a
tecnologia é apoio decisivo. O ensino a distância pela rede, por exemplo,
muitas vezes representa a diferença entre aprender ou não. "Por causa do
trabalho, não teria condições de freqüentar as aulas. O aprendizado online
foi a saída", diz o administrador de empresas carioca Thiago Freitas, 26
anos, que fez um módulo do MBA de Gestão Empresarial na Fundação Getúlio
Vargas (FGV) pelo sistema semipresencial (parte pela internet). Para
estudantes de regiões remotas, os cursos online permitem o acesso a um
ensino de melhor qualidade. "A educação pela internet potencializa a
chance de termos um país mais igualitário", observa Frederic Litto,
presidente da Abed.
POESIA NO BLOG Com incentivo da
professora de português, Stefanie Panza abriu um espaço para publicar
mais de 100 textos de sua autoria. |
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Engana-se quem
acha esse tipo de ensino menos rigoroso. Os alunos são acompanhados o
tempo todo por tutores e, além das provas, participam periodicamente de
chats (bate-papo) nos quais discutem as matérias e também são avaliados.
A prática já é rotina em prestigiadas instituições internacionais, como
Harvard e Oxford. Mas no Brasil é fato recente. A expectativa é que mais
gente tenha acesso a esse método. Em relação à Universidade Aberta do
Brasil, o secretário de Educação a Distância do MEC, Carlos Eduardo
Bielschowsky, acrescenta que o desafio não é apenas aumentar o número de
alunos (informações sobre inscrições pelo site www.uab. mec.gov.br).
"Nossa preocupação é multiplicar vagas sem perder a qualidade." |
A
Associação Brasileira de Ensino a Distância calcula que 1,3 milhão de
pessoas estudaram
pela internet em 2006. O Ministério da Educação quer criar até agosto 60 mil
vagas
para cursos na rede.
Uma boa notícia é que
não param de surgir novas modalidades de ensino a distância. Neste mês, o
Senac São Paulo abre as portas de seus primeiros cursos oferecidos no Second
Life, a comunidade virtual em que os internautas desenvolvem vidas
paralelas. Abrir as portas, na verdade, não é a expressão mais adequada. O
espaço físico adotado pelo Senac não tem paredes, muito menos portas - é
como se fosse um ginásio aberto. O Senac é a terceira instituição brasileira
de ensino a entrar no Second Life - já estão presentes as universidades
Anhembi-Morumbi e Mackenzie, ambas de São Paulo. "Nós optamos por entrar com
serviços e não com a simples montagem de um espaço", diz Sidney Lattore,
gerente de tecnologia da informação do Senac- SP. Há três cursos abertos aos
interessados, um de photoshop (programa de edição de imagens) e dois de
criação de objetos virtuais. A idéia é disponibilizar também cursos que são
dados nas dependências físicas do Senac, como moda e design.
A educação a
distância não é a única forma de a tecnologia aprimorar o ensino no
Brasil. Há uma imensa variedade de softwares e outros recursos da
informática que tornam as aulas mais interessantes e facilitam o acesso
à pesquisa. Isso vale também para a rede pública. Um dos programas que
procuram aproximar professores e alunos da internet é o Sua Escola a
2000 por hora, parceria da Microsoft com o Instituto Ayrton Senna que
beneficia 40 escolas brasileiras, com investimento de R$ 6 milhões. A
Escola Municipal Leonilda Montandon, em Araxá (MG), é uma das
beneficiadas. Lá, os alunos pesquisam na internet e registram seus
trabalhos em um blog. "A aula ficou mais interessante", diz Júlio César
Alves Júnior, 13 anos, da terceira série do ensino fundamental. Tudo
observado pelos mestres.
O objetivo do Instituto Ayrton Senna é |
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MATRIX No Objetivo, alunos sobem em
skate, colocam óculos eletrônicos e fazem passeio virtual para aprender
noções de geografia, como relevo. |
mostrar que, com
esse método, o professor deixa de ser o único dono do saber. "É como um
doutorado, onde o estudante corre atrás da informação sob a supervisão
de um orientador", explica Adriana Martinelli, coordenadora do projeto.
No Ciep Mestre Marçal, de Rio das Ostras (RJ) - que adotou o Sua Escola
como política pública em 2004 -, a professora de geografia Adriana de
Souza Lopes vê mudanças comportamentais. "Os alunos perderam a timidez e
passaram a interagir mais", avalia. O melhor indicador, porém, é a
taxa de aprovação dos estudantes ligados ao Sua Escola: 93,2% em 2006.
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SECOND LIFE Há três instituições
brasileiras de ensino na comunidade. Professores do Senac São Paulo dão
aulas de edição de imagem. |
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Como era de se
esperar, os estudantes dos colégios privados estão bem à frente. Alguns
dispõem de recursos de ponta, um verdadeiro Matrix educacional. O
Objetivo, de São Paulo, recorre à realidade virtual para estimular a
garotada. Um dos aparelhos preferidos é o skate voador. A base é
acoplada a um simulador de movimentos. O adolescente sobe no skate e usa
óculos eletrônicos que fazem uma "viagem" pelas ruas paulistanas de
acordo com a manobra executada. Assim o aluno aprende, de modo muito
mais atraente, noções de geografia, como relevo, vegetação e clima. "É
muito legal. Mistura aventura radical com aprendizado", vibra Rafaella
Tomaselli, 13 anos. |
Com
o Plano de Desenvolvimento da Educação, o governo quer investir R$ 650
milhões nas escolas públicas para acabar com a falta de computadores. Há
quem critique o plano por valorizar demais a máquina.Especialistas negam: o
professor continua sendo a base.
Mesmo para as
aulas de português a internet pode trazer benefícios. Muita gente
reclama que a linguagem dos adolescentes em suas conversas na rede
mundial de computadores está aniquilando o idioma - mania que, em geral,
não avança para as redações escolares. Mas o computador pode ajudar, se
o professor quiser. Foi essa a decisão de Anaídes Maria da Silva, do
Colégio Humboldt, em São Paulo. Ela resolveu aproveitar uma viagem que a
turma fez para Paranapiacaba (antiga vila localizada na Serra do Mar) e
incentivou os alunos a criar um site para postar fotos e poesias com um
olhar literário sobre a cidade. Em português correto, ressalte-se. É uma
boa estratégia. Stefanie Panza, 17 anos, ganhou apoio da professora para
registrar em um blog as mais de 100 poesias que já escreveu. "É um
laboratório para um livro no futuro", conta a moça.
Para o ensino
brasileiro, o futuro está começando agora, como indica o crescimento do
uso da informática nas escolas. É o caso das chamadas lousas digitais
- sistema de software que projeta na |
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REDE PÚBLICA Em Araxá (MG), crianças e
adolescentes fazem pesquisas pela internet e elaboram trabalhos
orientados pelo professor. |
parede o
conteúdo das aulas. "Estamos no Brasil há nove anos e vendemos três
mil
unidades do produto. Metade foi vendida somente
no último
ano", contabiliza Claudia Scheiner, diretora-geral da fabricante Smart
Technologies. Uma das escolas que adotaram a lousa é o Colégio Ciman, de
Brasília. "O instrumento faz com que o aluno participe mais ativamente",
diz o diretor Mark Anderson. |
MBA A DISTÂNCIA Thiago estudou gestão
empresarial em parte pelo computador. Ele estava sem tempo para ir à
faculdade. |
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Com tudo isso, uma
dúvida paira no ar. É sabido que o Brasil enfrenta um sério problema: a
falta de computadores. Porém, o recém-lançado Plano de Desenvolvimento
da Educação do governo federal pretende zerar esse déficit. Estão
previstos gastos de R$ 650 milhões para instalar computadores na rede
pública. Em um país onde os professores ganham tão mal e são pouco
valorizados, há quem critique o plano e considere que as máquinas se
tornaram mais importantes que os mestres. Os especialistas não
concordam. "O professor continua sendo a base. |
Com esses recursos
ele vai poder fazer o aluno experimentar mais, ousar mais, achar novas
soluções", diz a professora Wânia Clemente de Castro, coordenadora do
programa Século XXI, da Prefeitura do Rio. Segundo o senador Cristovam
Buarque, ex-ministro da Educação, professor é cabeça, coração e bolso.
"Bolso bem remunerado, coração bem dedicado e cabeça bem informada. O
computador tem de estar na cabeça dele", avisa (leia mais ao lado). Além
disso, os mestres devem entender que as pessoas vivem ligadas à
internet. "Eles têm de falar a língua do aluno", recomenda Ivanise
Santos, gerente do Centro de Tecnologia e Gestão Educacional do Senac
Rio. Afinado com esses novos recursos interativos, o professor cumprirá
com mais eficiência a tarefa de ensinar. |
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OS EDUCADORES DO
FUTURO
Ex-ministro da Educação,
o senador
Cristovam Buarque
considera que a entrada do computador
nas instituições de ensino exige um novo
perfil de professor, mais ligado aos recursos
da modernidade. Ele acredita que a sala de
aula terá três profissionais: o educador, o
programador e o especialista em telecomunicações |
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"O professor do meu
tempo vai desaparecer"
Cristovam Buarque |
ISTOÉ - Quando foi
criado o quadro- negro?
Cristovam Buarque - O
professor escocês James Pillans inventou o quadro- negro no século XVIII.
Foi o primeiro grande salto da educação. Com isso foi possível colocar 70
pessoas em uma sala. Antes, você dava discurso para muitos, mas aula mesmo
era para poucos. O computador traz o segundo salto. Em um quadro-negro, quem
fala de sistema solar mostra Marte num lugar, Vênus em outro. Com o
computador, você põe isso em três dimensões e em movimento. O computador
exige um novo tipo de profissional. O professor do meu tempo vai
desaparecer. Ele não ficará mais sozinho. Três pessoas irão elaborar a aula:
aquele que chamamos de professor, alguém que entenda de programação para
colocar no computador o que o educador quer ensinar, e um terceiro, da área
de telecomunicações, para espalhar isso no mundo.
ISTOÉ - A bagagem
acumulada pelo professor fica obsoleta com a chegada do computador na
escola?
Buarque - O menino que
navegou à noite na internet chega na aula, de manhã, sabendo de coisas que o
professor desconhece. O ator principal não é mais o professor. São o
professor, o aluno e a mídia. Ele não é mais o dono do saber, nem da
informação.
ISTOÉ - O aprendizado
mais acelerado com o computador pede que tipo de comportamento do professor?
Buarque - Ele tem de
estar ciente que não sabe a última coisa. O que ele aprendeu na universidade
valeu até aquele dia e daí tem de aprender de novo. Segundo: precisa
compreender que o aluno pode estar fazendo coisas que ele não domina.
Terceiro: reconhecer seus limites, se não for capaz de usar os recursos
novos. O professor que simplesmente não quer usar o computador é como um
médico que prefere não usar uma tomografia computadorizada. O professor tem
de aprender a mexer no computador.
ISTOÉ - Somente
colocar computador na sala de aula resolve?
Buarque - Não adianta.
Hoje, se você forrar de computadores uma escola, eles serão roubados em
poucos dias. Não há estrutura para recebê-los. Basta dizer que há gente na
escola sem luz! Defendo que se use o chamado computador "burro". Ele não é
completo: sozinho não funciona. Tem de conectá-lo a uma central de
processamento de dados. Você liga e diz: "Quero dar uma aula sobre sistema
solar." Aí, recebe um endereço na internet e pronto. Você tem o computador
em um terminal, que o conecta à central. Uma vantagem é que as pessoas não o
roubam porque, sozinho, não tem valor. Outra é que você tem acesso a todos
os softwares que estão nesse banco de dados. Não precisa comprá-los.
Fonte: Rev. IstoÉ, Francisco A. Filho e
Rodrigo Cardoso, 20/6/2007.
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