'Economist' faz duras criticas à eleição na Câmara

 

Para revista britânica, campanha não recuperou imagem da Casa
Reputação de instituição está "no fundo do poço", afirma texto

A revista britânica "The Economist" publicou reportagem nesta quinta (8), [Parliament or pigsty?], sobre a eleição para a presidência da Câmara com o seguinte título: "Parlamento ou chiqueiro?". A publicação trata da campanha "mordaz" e "fracassada para tentar limpar uma legislatura maculada" e diz que o cargo de presidente – apesar da falta de regras – está entre os mais "influentes e valorizados".

O título da revista se refere à palavra "pork" (carne de porco), mas que no meio político pode ser traduzida como concessões a políticos para que eles contemplem seus eleitores. No Congresso, a expressão seria equivalente às emendas individuais do Orçamento, que privilegiam a região do parlamentar. O termo é usado quando o texto se refere às exigências dos políticos em troca de apoio ao governo.

A história que os três candidatos – Aldo Rebelo (PC do B-SP), Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Gustavo Fruet (PSDB-PR) – invocaram durante a campanha, citando "heróis da independência, famosos abolicionistas e Moisés", irá julgar se o petista vencedor da disputa conseguirá recuperar a reputação da instituição, "que está no fundo do poço", avalia a revista.

"The Economist" ouviu o cientista político Bolívar Lamounier que considera "essa geração de políticos lamentável" e afirma ser difícil encontrar parlamentares de alto nível: "Você teria sorte em encontrar dois", afirmou Lamounier à revista.

A publicação credita parte do problema à "fragmentação da política brasileira" com "não menos que 21 partidos políticos representados" entre 513 deputados e à troca freqüente de partidos. "Mas apenas sete desses têm presença nacional, o restante se resume a bandeiras de conveniência."

A reportagem também aborda a dificuldade que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve em obter maioria na última legislatura, o que acabou envolvendo seu governo em uma sucessão de escândalos e levou pessoas próximas ao presidente – como o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu, acusado de chefiar o esquema do mensalão – a deixarem a equipe de Lula.

O texto fala ainda da volta à Câmara de envolvidos no esquema, como João Paulo Cunha, e da estratégia de Dirceu – próximo de Chinaglia – em conseguir de volta seus direitos políticos.

"A resposta de Lula foi a promessa de reforma política, mas isso é pedir aos perus que votem a favor do Natal. É necessário um presidente mais determinado que Lula para conduzir medidas impopulares em uma legislatura em que leis se sustentam ou caem de acordo com o capricho de interesses pessoais, clientelas regionais e uma apetite voraz por um naco do Orçamento e apadrinhamento político", afirma a revista britânica, lembrando que no dia-a-dia o governo acaba abusando no uso de medidas provisórias.

A publicação conclui que a tarefa mais difícil de Chinaglia será "proteger a democracia brasileira de si mesma".

 

Fonte: G1, 8/2/2007. 


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