Do lado errado

 

No mundo competitivo de hoje, e num ambiente interno de escassez de recursos, o Brasil precisa, e muito, que suas universidades públicas sejam centros de excelência.

A Câmara se prepara para votar, em regime de urgência, o projeto que estabelece cotas nas universidades públicas federais.

Segundo o projeto, encaminhado em abril de 2004 pelo então ministro Tarso Genro, “as instituições públicas federais de educação superior reservarão, em cada concurso de seleção para ingresso nos cursos de graduação, cinqüenta por cento de suas vagas para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas”.

Diz o art. 2: “Em cada instituição de educação superior, as vagas de que trata o art. 1 serão preenchidas por uma proporção mínima de autodeclarados negros e indígenas igual à proporção de pretos, pardos e indígenas da unidade da Federação onde está instalada a instituição.”

Sobre esse projeto, altamente polêmico, já houve manifestações de todo tipo. Uma vez que o governo volta à carga, não custa recordar alguns pontos fundamentais.

Sendo o primeiro deles o de que o projeto revoga o conceito primordial do mérito que deveria presidir a vida universitária.

No mundo competitivo de hoje, e num ambiente interno de escassez de recursos, o Brasil precisa, e muito, que suas universidades públicas sejam centros de excelência.

Mas o sistema das cotas solapa o princípio da eficiência. Amarra uma pedra no pé dos currículos universitários.

De quebra, promove uma discriminação contra os não-negros, ou não-índios, e instila o vírus do racismo num ambiente que não precisa dessas toxinas.

É um produto das chamadas “boas intenções”. Seria muito melhor parar de sonhar e olhar de frente o cenário da educação brasileira — acoplado ao do mercado de trabalho.

O que está acontecendo hoje é que o mercado cada vez mais se fecha para os menos instruídos. Como demonstrou pesquisa recente do Ipea, todo o ganho de empregos se concentrou entre os que estudaram mais.

Desprovido de um bom ensino fundamental, o estudante humilde tem uma dificuldade colossal para chegar ao ensino médio (quando chega).

Nesse caso, a universidade se transforma em miragem, e a falta de base educacional expulsa esse desprotegido até mesmo de empregos modestos. É o pior dos mundos.
 

Fonte: O Globo, Editorial, 29/11/2005.


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