Processos que
serão julgados na tarde desta quarta-feira:
Marcelo Pinto
Carvalheira: Arcebispo emérito da Igreja Católica na Paraíba. Reitor
do Seminário Maior do Nordeste e professor da Faculdade de Filosofia
do Recife (FAFIRE), Carvalheira foi preso em 1968, acusado de
atividades subversivas e de esconder em seminários pessoas
consideradas subversivas e foragidas da justiça. Após 51 dias de
cárcere e tortura teve suas atividades monitoradas por longos até o
final da década de 80.
Alípio Cristiano
de Freitas: Ex-padre de nacionalidade portuguesa, preso em 1963 sob
acusação de praticar atividades subversivas. Foi condenado a seis anos
de reclusão. Alípio relata em seu requerimento que lecionou na
Universidade do Maranhão e após sofrer prisão e tortura exilou-se no
México. Em 1965, retornou ao Brasil e foi novamente preso e condenado
a 24 anos de reclusão. Cumpriu pena em diversos presídios como o de
Ilha Grande, DOPS/RJ, OBAN, DOPS/SP, Presídio Tiradentes, Carandiru e
Penitenciária de São Paulo até ser libertado em fevereiro de 1979.
Teve a cidadania brasileira cassada, o que lhe impediu conseguir
emprego no Brasil.
Eliana Bellini
Rolemberg: Diretora-executiva da Coordenadoria Ecumênica de Serviço –
CESE, entidade que reúne a Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja
Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão
Luterana, Igreja Presbiteriana Independente do Brasil e Igreja
Presbiteriana Unida do Brasil. Informa em seu requerimento que no
início de 1970 foi levada clandestinamente à OBAN, onde sofreu
torturas por 20 dias e foi transferida para o Presídio Tiradentes.
Julgada, foi condenada a dois anos de reclusão. Seu maior temor foi a
integridade de sua filha de nove meses e por isso pediu ao irmão que a
levasse para fora do país. Rolemberg relata que em virtude das
torturas teve seqüelas físicas e psicológicas. Após ser libertada foi
ao encontro da filha e do marido na França e retornou ao Brasil em
1979.
Frederick Birten
Morris: Conhecido como Pastor Fred, chegou ao Brasil em janeiro de
1964, com a finalidade de desenvolver atividades pastorais na Igreja
Metodista. Cedia sua residência para as reuniões na luta contra a
ditadura militar. Em setembro de 1974 foi seqüestrado e sofreu várias
sessões de torturas ao longo de 17 dias. Foi expulso do país por meio
de decreto do Presidente Ernesto Geisel, sendo proibido de entrar no
Brasil até 18 de agosto de 1988.
Alanir Cardoso:
Preso e torturado com o Pastor Fred. Militante ligado à Ação Popular
(AP), relata que deixou seu emprego no Consórcio de Empresas de
Radiodifusão e Notícias do Estado de Goiás-CERNE, por perseguição
política. Preso na cidade de Goiânia, foi condenado em 1969 a 2 anos e
3 meses de reclusão. No ano de 1974, foi novamente preso em Recife e
levado ao DOPS, onde foi torturado, o que lhe deixou seqüelas físicas
até hoje. Novamente condenado, dessa vez a 4 anos e 6 meses de
reclusão. Como incurso na Lei de Segurança Nacional foi posto em
liberdade somente no ano de 1979.
Maria Emília
Lisboa Pacheco: Assessora da FASE - Federação de Órgãos para
Assistência Social e Educacional – Com assento no CONSEA por
representação do Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar. Relata que
em dezembro de 1971 ficou presa por um mês na Prefeitura de João de
Monlevade/MG, Permaneceu presa por 1 mês sofrendo torturas. Após sua
absolvição, em 1973, foi selecionada para compor os quadros da
CODEVALE – Comissão de desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha, não
sendo contratada em razão de seus antecedentes.
Nilmário
Miranda: Ex-deputado federal, primeiro presidente da Comissão de
Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, ex-Secretario Especial de
Direitos Humanos. Iniciou sua militância política em Teófilo Otoni com
apenas 15 anos de idade, inspirado pela Igreja Católica, especialmente
Frei Cristóvão e o bispo diocesano. Atuou em diversos movimentos
naquele município. Após a prisão de seu pai, em 1964, mudou-se para
Belo Horizonte, onde intensificou sua participação política através de
ligação com a Organização Marxisista-Política Operária – POLOP. Foi
preso por 32 dias em abril de 1968 e sofreu inúmeras torturas. Ao ser
denunciado com base na Lei de Segurança Nacional passou a viver na
clandestinidade, deixando o curso de Economia. Preso novamente em maio
de 1972, foi interrogado do Delegado Fleury e sofreu novas torturas.
Nos 40 dias que esteve preso passou por vários presídios na cidade de
São Paulo e Juiz de Fora. Viveu sete anos entre clandestinidade e
prisão.
Roberto Faria
Mendes: Ex-militante do MEB. O anistiando teria sido dispensado de
suas funções no Movimento de Educação de Base por suspeita de
subversão, e em razão de constar como suspeito de pertencer à Aliança
Libertadora Nacional – ALN e por ter sido citado em Inquéritos
Policiais Militares instaurados em 1970 e 1971, que apuravam
infiltração subversiva no MEB de Conceição do Araguaia /PA. Em janeiro
de 1974, após ser preso e indiciado em IPM, passou a viver em
liberdade vigiada, que o teria impedido novamente de prosseguir nas
suas atividades profissionais.
Ruy Frazão
Soares, representado por Felícia de Moraes Soares. Militante da
Juventude Universitária Católica em 1961, foi preso e torturado em
1964, quando era estudante da Faculdade de Engenharia da Universidade
Federal de Pernambuco. Após sua libertação, em viagem aos EUA, em
1965, denunciou na Assembléia das Nações Unidas as torturas praticadas
no Brasil. Assumiu o cargo de Exator federal, no Maranhão, onde atuou
no Movimento de educação de Base, ligado à Igreja Católica, junto à
população camponesa da região. Após 1971, com a repressão generalizada
contra os camponeses, passou a viver na clandestinidade, inclusive
adotando outra identidade, e militou no PCdoB. Em maio de 1974 foi
preso em plena feira de Petrolina/PE e nunca mais localizado pelos
seus familiares. Depoimento de outro preso político daria conta de seu
assassinato ainda no ano de 74. Seu nome integra a lista de
desaparecidos políticos, com base na lei 9.140/95 e batizou várias
ruas, praças e escolas.
Helena Soares
Melo, Helder Soares Bebendo e Peter John Mc Carthy: As irmãs Helena e
Helder e o padre Peter foram presos em setembro de 1981, na região do
Araguaia/PA, após atenderem pedido da Igreja local de maior presença
de religiosos. A região viva forte clima de tensão com prisões de
padres e posseiros. Nesta ocasião os padres franceses Aristides e
Francisco foram expulsos do Brasil após serem enquadrados na LSN. Em
outubro de 82, os três religiosos teriam sido presos e torturados
durante toda uma noite na sede do INCRA.
Elia Meneses
Rola: Atuante na política estudantil do Ceará, na década de 60
mudou-se para o Rio de Janeiro em razão de ameaças de prisão. Em 1973
foi presa, levada ao DOI/CODI e, posteriormente, à OBAN, onde
permaneceu por 1 mês, sofrendo torturas e humilhações. Por estas
perseguições teria sido obrigada a mudar de endereço várias vezes e
também a pedir demissão do IBGE, em outubro de 1973. No ano de 1975,
após a condenação de seu companheiro, ambos deixaram o pais
clandestinamente, só regressando após a lei de Anistia de 79. |