Dispersão de saberes prejudica aprendizado
"O máximo que ocorre, em boa parte do ambiente acadêmico, é a consulta sobre assuntos de outras áreas, mas dificilmente o trabalho é inter ou transdisciplinar. Os indicadores apontam para uma produção individual, pesquisas que caminham sem nenhuma troca", revela. "A questão de salário e a pouca verba investida nesse campo ajudam a tornar o ambiente fechado. Percebemos isso na própria USP, onde as áreas vizinhas pouco conversam", conta. Segundo o psicólogo, quando ocorre o trabalho integrado, este é feito de forma submissa. "Um especialista de determinada área convida outros para participarem de seu projeto, mas eles devem obedecer às regras estabelecidas. Existe muita vaidade no ambiente acadêmico e pouca vontade de trabalhar visando um pensamento coletivo", diz. Mas, se para muitos especialistas a transdisciplinaridade é uma utopia, ele mostra que o mundo corporativo já vem, há algum tempo, valorizando a integração de saberes e que o meio acadêmico, apesar da grande fragmentação, já apresenta algumas mudanças. Numa pesquisa realizada com diretores de instituições de ensino superior, dirigentes de empresas, executivos de multinacionais e consultores, foi percebida grande tendência à homogeneização. Ele cita o exemplo do projeto Poli 2015, da Escola Politécnica da USP. O projeto reúne um público heterogêneo - docentes, pesquisadores, alunos, ex-alunos, diretores e docentes de outras faculdades - , para juntos definirem o tipo de engenheiro que a sociedade deseja que a universidade forme bem como a escola que seria adequada para essa formação. "Outro modelo bem sucedido é do Instituto Santa Fé, nos Estados Unidos, que tem como ideal estudar tanto os detalhes de determinado assunto como de forma multidisciplinar e colaborativa. Eles mostram que o conhecimento especializado fica sem sentido e compromete a realidade", exemplifica. Para ele, a ciência poderia resolver cada vez mais problemas caso houvesse integração nas áreas do saber. "Juntar é trabalhoso, gera conflito, mas é o único caminho para se lidar com a complexidade. Exige um exercício intelectual de paciência, mas é a solução mais rica, que respeita as diversidades e diferentes pontos de vista", acredita.
Fonte: Aprendiz, Karina Costa, 4/1/2007. |