[No país da Alice ...]
O
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome quer dar um prêmio A idéia está em estudo no governo, assim como o próprio reajuste dos benefícios do Bolsa Família e a ampliação do limite de idade, de 15 para 17 anos, que dá direito a benefícios variáveis. É o que disse nesta sexta-feira a secretária de Renda e Cidadania, Rosani Cunha, ao apresentar pesquisa que mostra índices de reprovação escolar maiores entre filhos de quem recebe o Bolsa Família do que entre estudantes igualmente pobres que não ganham o benefício. Os filhos de quem é beneficiado pelo programa tiveram índices de reprovação maiores. No país, a média ficou em 3,9 pontos percentuais, entre as famílias com renda familiar per capita de até R$ 100 por mês, e 3,4 pontos percentuais entre as ainda mais pobres, com renda mensal de até R$ 50 por pessoa. Entre os estudantes do Norte e do Centro-Oeste, a variação foi ainda maior: 11 pontos percentuais. A pesquisa mostra também que quem recebe dinheiro do Bolsa Família gasta mais com alimentos, material escolar, vestuário, cigarros e bebidas alcoólicas do que quem é igualmente pobre, mas não recebe o benefício. No país, os gastos a mais com alimentação vão de R$ 278,12 a 388,22 por ano. No Nordeste, única região em que foram constatadas mais despesas com fumo e bebidas, os beneficiados gastam R$ 50,74 a mais, por ano, com bebidas alcoólicas e cigarros. Curiosamente, no Sul e no Sudeste a população atendida pelo Bolsa Família tem despesas domiciliares menores, isto é, gasta R$ 601,60 por ano a menos do que as famílias pobres que não ganham o benefício. Os filhos dos beneficiários foram mais reprovados na escola, mas tiveram também índice maior de freqüencia e menor de evasão. Nos lares que ganham o repasse, há maior número de trabalhadores. Não houve diferença significativa em termos de procura de emprego por quem recebe ou não recebe o dinheiro. A pesquisa comparou as despesas da população atendida e não-atendida pelo programa de transferência de renda do governo federal. Foram considerados gastos em alimentação, habitação, transporte, higiene, saúde, educação, vestuário, fumo, bebidas alcoólicas e outras despesas. De um lado, os pesquisadores analisaram os gastos e a realidade de quem recebe o Bolsa Família. De outro, somaram as despesas de quem não recebe. A comparação levou à constatação de quem gasta mais e com o quê. O objetivo é verificar o impacto do Bolsa Família no cotidiano das famílias pobres. O secretário de Avaliação e Gestão da Informação, Rômulo Paes, diz que a atual pesquisa é apenas um ponto de partida, deixando questões sem resposta. Ele informou que novos levantamentos serão realizados a cada dois anos, construindo uma série histórica. – Ao olhar a pesquisa, percebo é que os beneficiados gastam mais com alimentos e vestuário infantil - disse ele. Indagado sobre o que ocorre nas regiões Sul e Sudeste, isto é, o fato de que beneficiários do Bolsa Família gastem menos do que quem não recebe a ajuda mensal, ele levantou a hipótese de que os não-beneficiados sejam atendidos por outros programas sociais de governos municipais, estaduais ou mesmo da iniciativa privada: – Não tenho resposta, tenho especulação. A pesquisa Avaliação de Impacto do Programa Bolsa Família foi realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais e custou R$ 6 milhões ao governo. Os dados foram coletados em novembro de 2005, em 269 municípios de todos os estados, à exceção de Acre, Roraima e Tocantins. Foram respondidos 15.240 questionários.
Fonte: O Globo, Demétrio Weber, 18/05/2007. |