Educação
Cultura do sucesso
Pesquisa mostra que jovens de origem asiática vão mais longe nos estudos e
estão deixando os brasileiros para trás
Ao embarcarem num
navio rumo ao Brasil, na década de 40, os Iwahashi fugiam de um Japão
destroçado pela guerra e alimentavam uma idéia fixa: ver os filhos com
diploma universitário. Como camponeses no interior de São Paulo,
gastaram cada centavo poupado com livros. Dos nove filhos, sete chegaram
à universidade. A jovem Liane, estudante de artes plásticas que aparece
na foto acima, integra a nova geração de universitários da família. São
atualmente doze Iwahashi no ensino superior brasileiro. Uma nova
pesquisa mostra que eles compõem um universo bem maior. De acordo com
dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 37% dos alunos
de origem asiática no Brasil concluem a universidade – quatro vezes mais
do que a média dos estudantes brasileiros.
Uma das evidentes
razões para o |
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A estudante Liane Iwahashi: o maior sonho
dos avós japoneses era ver a neta na universidade. |
sucesso desses
jovens é mensurável – e simples: eles estudam mais. Enquanto um típico
aluno brasileiro passa cinco horas por dia às voltas com aulas e livros,
os que vêm de família coreana, chinesa ou japonesa dedicam pelo menos
oito horas aos estudos, segundo a pesquisa. Em suma, eles repetem no
Brasil a fórmula aplicada em seu país de origem: investem tudo o que têm
em educação – e varam noites debruçados sobre apostilas e equações
matemáticas. Deu certo lá. Está funcionando aqui. Conclui o pesquisador
Kaizô Beltrão, autor do estudo, também descendente de japoneses: "Os
asiáticos no Brasil estão deixando o restante da população para trás".
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Outro fator que
esclarece a superioridade dos estudantes pesquisados por Kaizô é um aguçado
senso de competição – alimentado em casa e incentivado em escolas que
recebem os filhos dos imigrantes, como a Polilogos, em São Paulo. Em salas
nas quais se ouve apenas a voz do professor (sim, os alunos asiáticos
costumam permanecer em silêncio durante as aulas), a briga pelo posto de
melhor da classe é um eficiente motor ao bom resultado geral. A escola
implantou um sistema para premiar os campeões. A cada três meses, produz um
novo ranking dos estudantes, baseado nas notas. No fim do ano, os melhores
são celebrados na frente dos demais e recebem como prêmio aparelhos
eletrônicos variados, bem à moda asiática. No ano passado, o estudante
Clinton Sung Shin, de 14 anos, foi o número 1 de sua turma. Vibrou. Agora
mergulha nos livros para repetir a dose. Tímido, ele se assume nerd. "Entre
meus amigos de família asiática, isso é sinal de prestígio, e não de
vergonha, como para os brasileiros", diz. Um detalhe sobre a escola de Shin:
lá os bons professores também são recompensados. Antes de serem efetivados,
eles precisam responder a uma prova sobre a matéria que vão ensinar. Os que
vão mal ficam de fora. Aqueles que se destacam, por sua vez, recebem os
salários mais altos. A meritocracia que impera nessa e em outras escolas do
gênero é coisa rara no Brasil. Em geral, o que predomina no país é um modelo
que coloca os bons e os maus alunos (e professores) no mesmo patamar – e não
incentiva ninguém.
Os estudantes de
origem asiática não sobressaem apenas na escola. Um levantamento feito
pela Universidade de São Paulo revela que eles chegam a ocupar quase 20%
das vagas nas carreiras mais disputadas, como medicina e engenharia. O
número surpreende, uma vez que, na população brasileira, os asiáticos
são bem poucos: apenas 0,45% do total. Em outros países, como os Estados
Unidos, a situação é semelhante. Nas melhores universidades americanas,
eles circulam por toda parte (especialmente nas carreiras tecnológicas,
uma outra tradição importada de casa). Não passam de 4% da população no
país, mas em Stanford são donos de 24% das vagas. Na Universidade da
Califórnia, em Berkeley, o número chama ainda mais atenção: concentram
quase a metade das matrículas. "Eles têm o estudo no DNA", define a
especialista americana Soo Kim, descendente de coreanos e autora de um
livro sobre o assunto. Desde os primeiros anos de vida, são estimulados
pela família a dedicar-se à escola (e às vezes engatam em rotinas
maçantes, que incluem noites insones e muita decoreba). A ativa
participação dos pais na vida escolar, como ocorre na casa dos
estudantes Liane Iwahashi e Clinton Shin, é certamente um fator decisivo
ao ótimo desempenho alcançado em sala de aula. Resume o economista
Claudio de Moura Castro: "As famílias asiáticas entenderam há muito
tempo que o sucesso depende de sacrifícios e paciência para esperar
pelos resultados". Os brasileiros ainda não. |
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De família coreana, Olívia, Jaqueline e
Clinton são os melhores da turma: eles estudam dez horas por dia. |
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Fonte: Rev. Veja, Camila Antunes, ed. 2009,
23/5/2007.
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