Severino decide
arquivar denúncia do PSDB contra Lula
BRASÍLIA - O
presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), decidiu nesta
terça-feira arquivar a representação do PSDB, na qual acusava o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva de cometer crime de
responsabilidade, por ter admitido durante discurso que mandou um
"alto companheiro" calar-se sobre a corrupção nas privatizações no
governo Fernando Henrique Cardoso.
Na véspera, o ministro Sepúlveda Pertence, do Supremo Tribunal Federal
(STF), também havia determinado o arquivamento do pedido de interpelação
feito pelo PSDB contra o presidente. O ministro entendeu que no
discurso de Lula, no dia 24 de fevereiro, no Espírito Santo, não houve
ofensas ao partido. Pertence também observou que o PSDB não poderia
ser parte legítima para propor uma ação penal por crime contra a
honra.
Resta agora a representação criminal que o PFL deu entrada no
Ministério Público Federal contra o presidente. Segundo o partido,
Lula cometeu crime de prevaricação por admitir a existência de
corrupção em governos anteriores sem denunciá-la. "O excelentíssimo
senhor presidente da República praticou o crime de prevaricação em
toda a sua plenitude", diz a representação do PFL.
O PFL afirma também que o presidente adotou postura "omissa" ao tomar
conhecimento de crimes de corrupção, "deixando de fazer aquilo que
moral ou juridicamente deveria fazer para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal".
Fonte: Globo Online,
Isabel Braga, 08/03/2005 |
Cretinices
Eliane Cantanhêde*
Com
duas canetadas, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso livraram o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva de duas enormes chateações:
respectivamente, uma interpelação judicial e um processo de impeachment,
ambas pelas últimas besteiras que andou dizendo.
Lula disse, e está gravado para quem quiser ouvir, que um alto funcionário
lhe afiançara que havia corrupção no governo anterior. E ele, já na condição
de presidente, ordenou: "Cale a boca". O que eqüivale a dizer: "Você não diz
nada, eu finjo que não sei de nada e deixa essa corrupçãozinha pra lá que o
povo paga".
Além do lado folclórico que o presidente gosta de assumir e ostentar, há uma
seriedade e uma gravidade inequívocas no gesto e na confissão. Mas não
suficientes para aventuras, crises fabricadas e muito menos o blefe de um
processo de impeachment. O Supremo e Congresso fizeram muito bem em afastar
processos aventureiros, que só serviriam para criar instabilidade, deixar o
governo na defensiva, dar gás à oposição e, de quebra, alimentar a imprensa.
Mas que Lula disse bobagens, ele disse mesmo. Aliás, vive dizendo. O
episódio deveria ser um alerta e ajudá-lo a refletir melhor. O presidente
tem marcado a sua gestão, e até se orgulha disso, por não ter paciência para
ler os próprios discursos e não refletir antes de sair falando tudo o que
lhe vai pela cabeça. Pode custar muito caro.
Lula não é mais retirante nordestino, nem estudante do Senai, nem líder
sindicalista, nem candidato de oposição. Ele é presidente da República.
Precisa medir as palavras e adequar-se ao peso do cargo. O Brasil convive
com a maior taxa de juros do planeta, entre outras coisas, para garantir a
estabilidade de preços e atrair investimentos. Presidentes irresponsáveis e
falastrões podem ameaçar as duas coisas.
Na lista imensa de bobagens há pérolas como a da Namíbia, "tão limpinha que
não parece a África"; ou da confusão entre países nórdicos e suas capitais;
ou a de um IBGE travestido de Duda Mendonça e perguntando se as pessoas se
acham gordas ou magras. Só para ficar em alguns exemplos, os mais
vexaminosos.
Que Lula ache tudo isso apenas engraçado e até atribua seus bons índices de
popularidade a essa "empatia com as pessoas comuns", já é grave. Mas o pior
é não haver assessores, amigos e gente do ramo para dar um tranco e explicar
que nada disso é engraçado. Ao contrário, é muito perigoso.
Desta vez, Lula livrou-se de processos no Supremo e no Congresso, como
previsto. Mas não se esqueça de que não se livrou de dias e dias sob
tiroteio e que, de besteira em besteira, uma acaba sendo acatada pela Alta
Corte ou pelo Parlamento. É melhor evitar do que remediar. Até porque o réu
não seria só ele, seria o país.
Lá, como cá
Na Câmara, o corregedor-geral, Ciro Nogueira (PP-PI), também descartou
investigação contra o novo presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE),
por admitir num discurso, aos risos e sendo "catucado" pela própria filha,
que já livrara a cara de infratores e de cachaceiros.
"Não vou perder tempo com cretinices", alegou Ciro Nogueira, deixando o caso
para lá.
Quando o presidente da República admite que empurrou corrupção para debaixo
do tapete e o presidente da Câmara acha graça de estar usando sua autoridade
para livrar a cara de infratores, algo fica um tanto confuso. É praticamente
impossível identificar onde está, afinal, a cretinice.
*
Eliane
Cantanhêde é colunista da Folha. Escreve para a Folha Online às quartas.
Fonte: Folha Online, 09/03/2005
Lula causa nova polêmica com discurso de
improviso
Deputadas chamam
declarações de Lula de machistas
BRASÍLIA
- No mesmo dia em que escapou de ser processado na Câmara por ter
admitido, discursando no Espírito Santo, há duas semanas, que abafou
denúncias de corrupção, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
arranjou mais um problema com declaração em discurso de improviso.
Falando no lançamento da campanha de Crédito para a Igualdade das
Mulheres Rurais, nesta terça-feira em Mossoró (RN), o presidente pediu
que as mulheres fossem "devagar com essa pressa de poder".
Em tom de brincadeira, Lula disse que as mulheres já são maioria da
população e ocupam cargos de vereadoras, prefeitas e governadoras. "Só
espero que vocês não sejam desaforadas e comecem a pensar logo na
Presidência da República", disse.
Apesar da situação descontraída, as palavras do presidente causaram
indignação entre deputadas. Zulaiê Cobra Ribeiro (PSDB-SP) classificou
o discurso de Lula em como uma prova de que ele é machista.
- O presidente Lula é um machista de marca maior. Ele não me engana.
Há uns 20 anos ele deu uma entrevista para a Playboy e já mostrava que
não respeita a mulher - criticou a parlamentar tucana.
As declarações repercutiram mal até na base aliada. A deputada Luiza
Erundina (PSB-SP) disse que o discurso do presidente tem viés
preconceituoso.
- Além de um viés machista, a fala do presidente mostra um apego ao
poder. Somos maioria e estamos nos preparando para a disputa de
qualquer espaço político. Só não chegamos ainda à Presidência da
República porque faltam condições objetivas. Mas em um prazo muito
breve teremos uma candidata, que será no bojo de décadas, séculos de
lutas, fruto exclusivo da
marcha da nossa luta - disse Erundina.
Fonte: Globo Online, Adauri
A. Barbosa, 08/03/2005. |
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