É o começo ou o fim?

 

 

Sob uma crise que ameaça a hegemonia americana no mundo, Obama toma posse
com um desafio enorme: ou apruma os EUA para manter o país como potência dominante
no século XXI ou administra o declínio de uma supremacia que moldou o planeta
tal como o conhecemos hoje
 

 

Brooks Kraft/Corbis/Latinstock
PROTEÇÃO MÁXIMA
O novo presidente: sua posse será um evento global, com uma segurança espetacular

 

Na noite em que conquistou o direito de candidatar-se à Casa Branca, em junho passado, Barack Hussein Obama comemorou diante de eleitores entusiasmados com um discurso de otimismo. "Nesta noite, marcamos o fim de uma jornada histórica com o começo de outra – uma jornada que trará dias melhores para o país", prometeu. Agora, ao falar sobre o conteúdo do discurso que fará em sua posse, Obama disse que pretende apenas ser o mais honesto possível com o povo americano sobre "quais são as circunstâncias" do país. A redução da escala retórica, das alturas de "dias melhores" para a dureza das "circunstâncias", é um reflexo sombrio da realidade. Nesta terça-feira, ao tomar posse como o 44º presidente dos Estados Unidos, Obama herdará um país de poderes incontrastáveis. É um mamute militar, a maior economia do planeta, uma potência tecnológica e cultural. Mas, como sombra de mau agouro sobre todo o seu gigantismo, o país se encaminha para uma das maiores crises econômicas de sua história, cuja gravidade coloca em xeque a própria hegemonia americana no mundo. 

Como o primeiro negro a presidir o país, a posse de Barack Hussein Obama, 47 anos, é, mesmo, o coroamento de uma jornada histórica. A dúvida é saber se seu governo marcará o início de uma nova era, aprumando os EUA para manter seu status de potência dominante no século XXI, ou se será o começo do fim de uma supremacia que moldou o planeta tal como o conhecemos hoje (veja, nas páginas seguintes, reportagens sobre os desafios americanos na área social, econômica, militar, tecnológica e cultural). Sua posse, como convém aos impérios, será um evento global. A segurança é espetacular, com 20.000 homens, 150 equipes de agentes à paisana e especialistas em tudo – segurança cibernética, material biológico, libertação de reféns. Para chegar aonde as coisas estarão acontecendo, qualquer cidadão terá de cruzar anéis de segurança, cada um mais restritivo que o outro, em que toda a bagagem será revistada e não passará nem guarda-chuva. 

Para a solenidade da posse, já saíram 240 000 ingressos. No total, Washington espera receber entre 2 milhões e 4 milhões de visitantes. Até agora, a lista inclui 102 bailes, recepções e jantares, a ser realizados em hotéis, escolas, teatros, igrejas e até museus. O primeiro baile, organizado pelas mulheres negras, estava previsto para a noite de sexta-feira. No sábado, haverá onze festas. No domingo, dezenove. Na segunda, 27. Na terça, 44. Os eventos são organizados pelas mais diferentes tribos. Índios, asiáticos, jovens (maiores de 18 e menores de 35), religiosos "progressistas", ecológicos (só com comida orgânica), gays, latinos, empresários, poetas, crianças (com show de marionetes), jornalistas, militares, artistas. Um único evento reunirá estrelas como Beyoncé, Shakira e Stevie Wonder. Num cardápio quase infinito, haverá a festa do cachorro-quente (no estilo de Chicago, claro), a festa das ostras, a festa sem álcool. A animação dos encontros será feita por uma miríade de DJs e bandas, entre as quais uma tal de "Beleza Brasil" (da Bahia, claro). 

Por trás do clima festivo, no entanto, estará a carranca da crise. Nos dois meses que separam a eleição e a posse de Obama, ela agravou-se de modo alarmante. Cerca de 1 milhão de empregos evaporaram. O crédito está congelado. O poder aquisitivo dos americanos, cuja gastança manteve a economia mundial numa alegre espiral por anos a fio, está desabando. Dia desses, em palestra numa universidade, Obama admitiu que o país precisava de "medidas dramáticas já" e que a solução da crise "levará tempo, talvez muitos anos". Na semana passada, seus auxiliares se empenharam para convencer o Congresso a liberar a segunda parcela do socorro financeiro ao mercado. Lawrence Summers, seu principal assessor econômico na Casa Branca, esteve no Congresso três vezes e despachou duas cartas aos parlamentares, prometendo bom uso do dinheiro. A parcela, enfim liberada, é de 350 bilhões de dólares. Antes, a equipe detalhou o primeiro plano de Obama para atacar a crise. É um monumental pacote de estímulo de 825 bilhões de dólares para dois anos. 

É o pacote da salvação? Nem seus autores acreditam nisso. É apenas – se é que se pode dizer "apenas" – o maior socorro já proposto no planeta para salvar uma economia do colapso. Os sinais de desequilíbrio não cessam de pipocar, acompanhados de suas cifras espetaculares. Na sexta-feira passada, a crise projetou-se sobre o Citigroup, o gigante financeiro prestes a ser fatiado, e o Bank of America, o maior banco americano, que pediu um novo socorro financeiro ao governo, desta vez de 20 bilhões de dólares. "As dificuldades de Obama são muito mais profundas e mais globais", escreveu o colunista Martin Wolf, em artigo no Financial Times que teve repercussão entre economistas. 

Há uma corrente de analistas advertindo que a crise americana pode ser tão grave, ou até mais grave, do que a prolongada recessão do Japão nos anos 90. "Se o foco for apenas estabilizar o sistema financeiro, gastaremos trilhões de dólares sem nenhuma reforma e acabaremos no mesmo lugar", disse a VEJA o economista Bruce Scott, da Universidade Harvard. E o que deve ser feito já? "Não há medida salvadora", responde Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia, em Berkeley. "É necessário um pacote de estímulo fiscal, recapitalizar os bancos e reestruturar as hipotecas", completa. "É preciso cortar alíquotas de imposto, e o governo precisa deixar de ser alcoviteiro de interesses especiais, como os da indústria automobilística", disse a VEJA Edward Prescott, o Nobel de 2004. 

Ciente dos desafios, Obama já anunciou que consumirá as primeiras três semanas de seu governo em entrevistas, palestras e coletivas para obter apoio no Congresso ao pacote de 825 bilhões de dólares. Pela opinião pública, ele assume com mais de 80% de aprovação, índice notável em comparação até com o de antecessores muito populares, como Ronald Reagan. Obama tem mostrado interesse particular pelo governo de Franklin Roosevelt (1933-1945), que arrancou os EUA da depressão. Examinou as palavras e até o tom com que Roosevelt se dirigia, sempre através do rádio, ao povo americano. Também leu o livro do jornalista Jonathan Alter, The Defining Moment, que descreve os primeiros 100 dias de Roosevelt. 

As comparações entre Obama e Roosevelt, embora corriqueiras, não são muito apropriadas. Primeiro, porque Roosevelt assumiu quando a crise já estava no meio do caminho e teve o auxílio economicamente dinamizador da II Guerra. Segundo, porque a vitória de Roosevelt demoliu o quadro partidário da época, levando 29% do eleitorado republicano. Obama levou só 9%. Nem o partido democrata é mais o mesmo. "A militância de base hoje é menos organizada devido ao declínio da velha máquina política e ao encolhimento do trabalho sindicalizado", disse a VEJA o professor Howard Reiter, da Universidade de Connecticut, especialista nos partidos americanos. "Hoje, os democratas se fiam em doações de lobistas e aliados milionários tanto quanto os republicanos." Em certa medida, portanto, o desafio de Obama é até maior do que o de Roosevelt. 

Por ser a primeira eleição de um negro para a Casa Branca, a vitória de Obama acabou nublada por alguns mitos – como o de que teve um desempenho espetacular. Obama quebrou uma barreira histórica, a racial, mas ganhou 53% dos votos populares e 365 votos no colégio eleitoral, o que não é pouco, mas também não é esmagador. Ele teve o apoio decisivo dos negros e empolgou o eleitorado jovem, mas, de novo, o saldo final foi menos radiante do que se imaginou. "O comparecimento às urnas dos jovens foi menos dramático do que alguns analistas anteciparam, mas é significativo que tenham escolhido Obama por uma margem bem superior à de outras eleições", disse a VEJA o cientista político Larry Bartels, da Universidade Princeton. Por fim, Obama teve a ajuda da impopularidade de George W. Bush e da gravidade da crise. Ira Katznelson, ex-presidente da Associação Americana de Ciência Política, ponderou a VEJA: "Acredito que Obama venceria a eleição sem a crise, mas a vitória seria bem mais apertada". 

Tudo isso – o esforço para vencer e as dificuldades do futuro – torna a posse de Obama um evento ainda mais relevante. Além de lidar com a crise econômica, ele terá de resgatar o respeito, a admiração e o apreço de que os Estados Unidos gozavam no mundo, mas que foram destroçados pelo governo de Bush e seus auxiliares mais obtusos, o vice-presidente Dick Cheney e o ex-secretário de Defesa Donald Rumsfeld. O trio é responsável por parte do ódio que Bush desperta no mundo e que, naturalmente, passou a ser associado aos Estados Unidos. Na largada, Obama conta com imensas vantagens para lidar com esse legado desmoralizador. Tolerante e pragmático, ele é o primeiro presidente-celebridade. Pode ser porque a imprensa o adulou. Ou porque sua família, com a mulher exuberante e as duas simpáticas filhas pequenas, seja perfeitamente fotogênica. Ou porque é o primeiro negro a chegar lá. O fato é que, talvez por tudo isso junto, boa parte do mundo lhe é simpática. Se Obama falhar, portanto, não terá sido por falta de torcida a favor.

Ela quer mais aliados e menos inimigos
 
 

Kevin Lamarque/Reuters
SEM DIÁLOGO

Hillary, durante a sabatina no Senado, na qual anunciou o fim da doutrina Bush: no conflito no Oriente Médio, nada de conversa com os terroristas do Hamas













 

Numa noite de dezembro passado, Hillary Clinton reuniu uns 1 000 fãs num teatro em Nova York. Cobrou ingresso, para abater dívidas de campanha. Quem pagava mais ganhava cadeira melhor. No palco, duas poltronas separadas por uma pequena mesa redonda, com água e flores. Numa poltrona, a atriz America Ferrera, estrela de Ugly Betty, seriado popular da rede de televisão ABC. Na outra, Hillary Clinton, respondendo a perguntas chapa-branca lidas pela atriz. Era um evento para recolher dinheiro, entreter a plateia – mais mulheres que homens, mais brancos que negros – e ser aplaudida. A certa altura, polidamente, Hillary falou sobre um jantar que tivera pouco antes, em Washington. "Gentilmente, Condi me convidou para jantar na casa dela. Conversamos durante duas horas", disse, referindo-se pelo apelido a Condoleezza Rice, a mulher a que Hillary vai suceder no comando do Departamento de Estado. Acrescentou que foi um jantar muito útil e, para deleite da plateia, delicadamente esclareceu que a utilidade, na realidade, foi ensinar-lhe o que não fazer. 

Na semana passada, nas cinco horas em que foi sabatinada no Senado, Hillary, mulher inteligente, articulada e ambiciosa, mostrou que aprendeu a lição. Prometeu que o Departamento de Estado vai levar em conta as "profundas transformações pelas quais o mundo passou nas duas últimas décadas". Hillary anunciou o fim do instrumento que orientou o trabalho de Condi: a doutrina Bush, segundo a qual os Estados Unidos, sendo a nação mais poderosa do mundo, estavam autorizados a agir unilateralmente. Na sabatina, Hillary mostrou domínio dos temas internacionais e, como não podia deixar de ser, evitou adiantar sua posição pessoal sobre as questões atuais. A invasão de Gaza por Israel mereceu dela condenação dos "trágicos custos humanos" que a guerra tem imposto aos palestinos, comentário precedido pela reafirmação da aliança americana com o estado judeu. Novidade mesmo foi antecipar que só pretende negociar com o Hamas caso a organização renuncie ao terrorismo e reconheça o direito de Israel à existência. Barack Obama, na campanha, dizia que seu governo não imporia condições para negociar com ninguém – nem com terroristas. Ou Obama mudou de ideia, o que não seria surpresa, ou Hillary está fazendo a sintonia da política externa, o que também não seria surpresa. 

Hillary e o marido, o ex-presidente Bill Clinton, são donos de um indisputado faro para o poder e tiveram influência notória na formação do novo governo. Dos 26 principais assessores de Obama, dos quais dezenove são ministros ou ocupam postos com status ministerial, nada menos que treze tiveram laços mais ou menos sólidos com os Clinton ou com o governo de Clinton (1993-2001). Na sabatina, o único assunto embaraçoso para a ex-primeira-dama foi justamente a fundação de seu marido, que recolhe doações financeiras com governos estrangeiros. Os republicanos, com razão, acham que Bill receber dinheiro de governo estrangeiro e Hillary negociar com o mesmo governo estrangeiro é uma situação convidativa para um conflito de interesses. Ela lembrou que o comitê de ética do Departamento de Estado examinou a situação e aprovou-a, mas prometeu, mesmo assim, ficar de olho para evitar problemas. 

Ah, sim: nas cinco horas de depoimento, Hillary falou do Brasil uma vez. Disse que os emergentes, "como China, Índia, Brasil, África do Sul e Indonésia", precisam ser mais ouvidos. Só para comparar com os países do Bric, Hillary falou treze vezes da China, onze vezes da Índia e 25 vezes da Rússia. Confirmando a tese de que só ganha atenção quem cria problema, Hillary também falou do venezuelano Hugo Chávez e do boliviano Evo Morales. Do presidente Lula, nem um pio.

 
 
O desastre: duas guerras, um déficit e uma crise
 
 

Jim Watson/AFP
OS SETE ANOS
O presidente Bush, em sua última entrevista coletiva, na semana
passada: "Mais de sete anos sem um único ataque terrorista
em nosso solo"

 

O aprendiz de alfaiate Andrew Johnson, que presidiu os Estados Unidos de 1865 a 1869, já foi considerado um dos grandes líderes americanos. Isso foi no tempo em que barrar a integração social dos negros era visto como uma louvável forma de impedir a corrupção de valores. Racista, Johnson combateu todos os esforços para criar uma democracia multirracial. Com a mudança na leitura da história, e o consequente sepultamento da odiosa supremacia branca, mudou também o conceito sobre Johnson, hoje considerado um dos piores presidentes americanos. Com seu adeus definitivo à Casa Branca, George Walker Bush, 62 anos, sai do poder como um dos piores, se não o pior, presidentes que os Estados Unidos já tiveram. Pode ser que Bush seja visto sob melhores luzes daqui a meio século. Mas, por enquanto, o republicano voltará para o seu rancho no Texas deixando para trás um governo desastroso cujo balanço é um desserviço completo: a maior potência econômica e militar da história conseguiu, em oito anos, ficar menos temida pelos inimigos e menos admirada pelos amigos. 

Bush chegou dizendo que faria um governo "para unir, não para dividir", e agora entrega um país com duas guerras (Iraque e Afeganistão), um déficit monumental (já na casa do trilhão de dólares) e uma economia em frangalhos (a pior crise desde a II Guerra Mundial). Logo que assumiu, Bush foi atropelado pelos atentados de 11 de setembro de 2001 – e isso, nos sete anos seguintes, serviria como justificativa e desculpa para tudo: a espionagem de cidadãos americanos, as prisões secretas e a tortura contra prisioneiros, numa lamentável quebra da tradição americana de respeito aos direitos humanos. Em defesa de seu governo, Bush afirmou, em seu último pronunciamento à nação na quinta-feira passada, que se pode debater se suas decisões na guerra contra o terrorismo foram acertadas, mas não é possível questionar os resultados. "Estamos há mais de sete anos sem nenhum ataque terrorista em nosso solo", disse. 

É uma defesa pobre de seus feitos. Afinal, mesmo sem Bush, também não houve ataques de terroristas estrangeiros nos sete anos que antecederam o 11 de Setembro. Mesmo daqui a 100 anos, Bush ainda será lembrado pela sua principal obra, a guerra no Iraque, que começou por um motivo falso (as tais armas de destruição em massa que nunca apareceram), já matou mais de 4 000 militares americanos e 100 000 civis iraquianos, consome 10 bilhões de dólares por mês e elegeu o opositor, Barack Obama. É preciso reconhecer, porém, que a guerra no Iraque não chegou a ser o fracasso vietnamita que muitos previram que seria. 

Em dezembro de 2006, o historiador Eric Foner, da Universidade Colúmbia, assinou um artigo afirmando que Bush era o pior presidente da história. Fazia um governo obtuso como o de Franklin Pierce (1853-1857), corrupto como o de Warren Harding (1921-1923) e abusivo como o de Richard Nixon (1969-1974). Na semana passada, convidado por VEJA a voltar a avaliar o governo, o historiador disse: "Os últimos dois anos só confirmaram meu julgamento. Mas, ainda que ruim, o segundo mandato de Bush foi melhor que o primeiro. Nele, o presidente foi mais habilidoso, teve um convívio frutífero com a China, abriu as portas do clube atômico à Índia e abandonou a aversão ao uso da diplomacia, adotando-a para lidar com a Coreia do Norte e o Irã". Parece pouco, mas, em se tratando de Bush, talvez não se pudesse esperar muito mais.

André Petry, de N. York.
 


Uma terra de oportunidades
 

O mais precioso dos valores americanos, a igualdade de chances de vencer na vida,
ganha novo impulso com a posse de Obama
 

Com 300 milhões de habitantes, a maior economia do planeta, influência cultural e poderio militar de dimensões nunca vistas no passado, os Estados Unidos não são um mero país entre outros tantos – são uma experiência política e social que inspira a humanidade. A terra da liberdade e das oportunidades deu ao mundo a primeira república moderna, os conceitos de democracia, direitos de cidadania e a livre economia que hoje são os alicerces da civilização. O modelo americano funciona bem há 233 anos, mas sempre esteve sujeito a sustos e solavancos. "É fácil dizer hoje, depois que tudo já aconteceu, que o século XX foi o século americano", disse a VEJA o cientista político Daniel Nexon, da Universidade Georgetown, em Washington. "Mas, em diversas oca-siões, como a crise de 1929, a II Guerra e a ameaça soviética, o projeto americano esteve em perigo." Entender a gravidade dessas ameaças ajuda a decifrar uma das chaves do sucesso americano: a capacidade de sua sociedade em reconhecer os próprios erros, aceitar desafios e superar obstáculos. 

A posse de um presidente negro é um exemplo. Há apenas duas gerações, negros eram proibidos de votar em estados do sul. Devido à segregação racial, sacramentada por lei, negros e brancos separavam-se quando iam à escola, ao banheiro ou usavam o transporte público. As desigualdades ainda persistem – negros ganham, em média, 77% do salário pago aos brancos –, mas sete em cada dez formam parte da imensa classe média americana. Nada menos que 1,1 milhão de famílias negras ganham acima de 100 000 dólares por ano, o que as coloca no patamar superior da sociedade americana. O desafio de Obama, nesse caso, é como lidar com os 25% da população negra que ainda não saíram dos guetos, presos a um círculo vicioso que os mantém na pobreza. 

Não há nada mais antiamericano que a pobreza. Não por falta de pobres, mas porque o país se define como uma terra que oferece a todos, independentemente de classe social, credo ou cor da pele, a oportunidade de prosperar mediante o próprio esforço e determinação. A figura do self-made man, o homem que construiu sozinho o seu lugar ao sol, é a personificação desse mito. Os irlandeses, que imigraram em massa no século XIX, eram considerados uma massa de trabalhadores braçais de baixo custo e pouca ou nenhuma educação. Entre 1820 e 1930, cerca de 4,5 milhões desembarcaram nos Estados Unidos. Em 1960, os americanos elegeram o primeiro presidente descendente de irlandeses católicos. Seu nome: John F. Kennedy. Os Estados Unidos recebem a cada doze dias o mesmo número de imigrantes que o Brasil em um ano. A recessão deve diminuir esse fluxo nos próximos anos, mas nada indica que num futuro próximo o país vá se fechar à imigração. 

A superação de desafios é uma das habilidades que colocaram alguns presidentes, como Franklin Roosevelt, entre os grandes governantes dos Estados Unidos. Entre 1933 e 1945, Roosevelt não apenas venceu a II Guerra e a Grande Depressão como promoveu enormes avanços na área social. O programa de reformas conhecido como New Deal financiou obras públicas que empregaram 8,5 milhões de americanos e criou os alicerces do sistema previdenciário. O compromisso social americano, em parte cunhado por Roosevelt, não é pôr limites às possibilidades de enriquecimento pessoal, mas dar oportunidades iguais a todos e garantir que o pobre tenha uma existência digna. Uma das propostas mais ambiciosas de Barack Obama é ampliar a cobertura médica para dois terços de um contingente de 47 milhões de cidadãos, 15% da população americana que não possui nenhum plano de saúde, público ou privado. Seu desafio será manter a promessa em tempos de crise financeira, visto que tal medida custaria 75 bilhões de dólares aos cofres públicos. O novo complicador é como fará isso com a economia em recessão. 

O economista americano Paul Krugman argumenta que os Estados Unidos foram um país mais igualitário nos anos 50 e 60, pelo menos no que diz respeito à percepção de seus habitantes. Seu argumento é que o grosso da população pertencia à classe média e se sentia realmente como membro dessa faixa de renda confortável. A desigualdade social nos Estados Unidos, medida pelo índice Gini, realmente aumentou significativamente desde 1950 e hoje está entre as mais altas do Primeiro Mundo. Alguns economistas chegam a sugerir que a classe média americana corre risco de extinção – um evidente exagero. Será possível que o sentimento de que existem oportunidades para todos, tão enraizado no modo de vida americano, está se perdendo? 

A certeza de que a experiência americana é um acontecimento excepcional acompanha a consciência coletiva desde que os primeiros colonizadores ingleses aportaram no Novo Mundo, no século XVI. Eles trouxeram consigo a ideia de os Estados Unidos como "uma cidade no alto de uma montanha", servindo de referência para os outros povos. "A crença na excepcionalidade americana é algo que permeia todo o espectro político atual", disse a VEJA o sociólogo americano Todd Gitlin, da Universidade Colúmbia, em Nova York. O século XXI traz desafios ao país, como a ascensão das potências econômicas, como China e Índia. O grande perigo é que as novas dificuldades e a atual crise financeira, que lançou desconfiança no capitalismo, podem levar o país a se tornar mais nacionalista, protecionista e isolacionista. Impedir que isso aconteça é outro desafio para Obama.

 

Corbis/Latinstock

 

Thomaz Favaro.
 


Quando a liberdade reluz menos
 

Ao dizimar o poderio financeiro de Wall Street, a crise tisnou o principal produto de exportação americano: a ideia do livre mercado
 

O indiano Vikram Pandit, presidente do Citigroup, dizia há um ano, com orgulho, que sua instituição estava se tornando "o primeiro banco realmente universal". Nele, clientes de todos os cantos do planeta poderiam encontrar serviços e produtos bancários, dos mais básicos aos mais complexos. Hoje a frase soa como soberba. A realidade destroçou literalmente os sonhos de grandeza de Pandit. Abalado pelo vendaval financeiro que varreu Wall Street, o Citigroup anunciou na semana passada uma reversão espetacular de planos. O banco será dividido em dois e vai focar suas energias nos pequenos poupadores dos rincões americanos, onde, descobre só agora, está seu ganho certo e confiável. Esses clientes teriam dado um lucro de 10 bilhões de dólares ao banco no ano passado – o que vale dizer que as barbeiragens no mercado financeiro feitas pelo Citi causaram uma perda de 28,7 bilhões de dólares à instituição e a seus acionistas. O universal virou regional. Não poderia haver símbolo melhor do que o impacto da crise no poderio financeiro americano, em especial, Wall Street. 

A descoberta de uma engrenagem dolosa alimentada por créditos podres no coração do capitalismo causou um dano inestimável à imagem do livre mercado. O custo intangível reside justamente no embotamento do modelo de prosperidade Made in USA – o que se refletiu, em parte, na eleição de Barack Obama, um presidente à esquerda no (estreito, diga-se) espectro político do país. Desde então, tem sido avassalador o refluxo da opinião pública mundial sobre as vantagens do livre mercado. Em setembro passado, o ministro alemão das Finanças, Peer Steinbrueck, profetizou que os americanos "perderão seu status de superpotência do sistema financeiro mundial". Até Henry Paulson, secretário do Tesouro americano oriundo de Wall Street, concedeu: "O capitalismo bruto chegou ao fim". Como pode um sistema que trouxe tanta prosperidade perder seu encanto em tão pouco tempo? 

Difícil saber. A II Guerra Mundial destravou o extraordinário potencial econômico dos Estados Unidos, transformando-os em dínamo da criatividade e da prosperidade mundiais. Desde então, as doze recessões enfrentadas pelo país, tênues ou graves, diluíram-se sem que a mensagem americana, baseada na democracia e no livre mercado, sofresse arranhões. O país escapuliu ainda mais próspero dos obstáculos econômicos. Nas palavras do economista Paul Krugman, um americano de classe média vivia mais, melhor, com mais segurança e conforto em 2002 que um milionário dos anos 50. Desde o início da Presidência de Bill Clinton, que coincidiu com o colapso do regime soviético, mais de 500 milhões de pessoas escaparam da pobreza em países que aderiram ao regime de mercado – na China, na Índia e nas ex-repúblicas comunistas. Tímida, a única resistência ao avanço do mercado restringia-se ao movimento ambientalista e ao barulhento "ativismo antiglobalização", que substituiu a militância clássica de esquerda depois do desastre do socialismo. 

Em algum momento nas últimas duas décadas, o trem descarrilou. O governo e os consumidores americanos passaram a viver fora de suas possibilidades. No início dos anos 90, cada família do país devia em média 60.000 dólares. No ano passado, esse valor pulou para 120 000 dólares. Com o fim do crédito farto e barato, os americanos agora terão de reajustar seu orçamento. Nesse processo, a queda no consumo será inevitável, assim como o risco de deflação crônica. Muitos desenham para os Estados Unidos um destino similar ao do Japão, que, depois de encantar o mundo nos anos 80, se estagnou após o estouro de sua própria bolha bancária. Esse cenário é plausível, mas há uma razão para desconfiar dos que preveem o fim da liderança econômica americana: quem assumiria o seu lugar? A Europa, ainda mais enrolada do que os Estados Unidos na crise financeira? A China antidemocrática e repressora? Improvável, ao menos no horizonte visível.

 

Time & Life Pictures/Getty Images

 

Marcio Aith.
 


Um iceberg no caminho
 

O poder de atração exercido pela indústria de entretenimento sempre foi uma das mais
poderosas armas americanas. Mas há um iceberg bem à proa do transatlântico.
Talvez nem Obama possa se desviar dele
 

No Afeganistão sob o domínio do Talibã, em que qualquer concessão ao "Grande Satã" americano valia pena de morte, os afegãos corriam perigo para celebrar os casamentos com My Heart Will Go On, o tema do filme Titanic. Recordista histórico de bilheteria, com 1,8 bilhão de dólares arrecadados no mundo, o filme é o símbolo maior da pujança da indústria americana de entretenimento. E é também emblema de um poderio que, embora não mensurável, é ainda mais crítico: o soft power, ou a atração gravitacional que uma cultura exerce sobre outras culturas, e na qual os Estados Unidos são líderes incontestes. Sua produção cultural, em cujo bojo vão seus valores, é consumida em todo o planeta – clandestinamente, se preciso, como no Irã, onde os jovens preferem correr risco de prisão a deixar de ouvir o rap de 50 Cent. Essa persuasão pela cultura é uma das armas mais eficazes de que se dispõe contra a ojeriza às conquistas ocidentais. Será crucial para que a gestão Obama recupere o imenso desgaste de imagem operado pelo governo Bush. Mas essa é também uma indústria vulnerável à depressão econômica que rapidamente vai se tornando global: ao contrário das ideologias, é uma influência que se escolhe receber. É preciso sintonizar o rádio ou a TV, comprar o CD, o game, o DVD e o ingresso, baixar o arquivo da internet. É preciso, enfim, pagar por algo que custou dinheiro para fazer. 

A cultura americana é tão aceita porque tem um elemento essencial de legitimidade: ninguém a encampa mais do que os próprios americanos. Seu mercado editorial, um colosso, sustenta-se sobre o comércio de cerca de 1 bilhão de exemplares ao ano. Mas, em novembro, as vendas haviam caído 13%. O setor fonográfico americano elenca a maioria dos ícones pop mundiais, mas está em crise insolúvel desde que a internet atropelou o CD. Agora, tem pela frente um período de chumbo. Em 2008, os filmes americanos renderam algo como 20 bilhões de dólares no mundo, dos quais 9,8 bilhões tirados do bolso dos cidadãos do país. Os observadores calculam que neste ano o número de produções cairá em pelo menos 30% – e que também a arrecadação despencará. As TVs a cabo enfrentarão dilema similar, abaladas pela inadimplência dos assinantes. Na TV aberta, o campeão de audiência American Idol, com média de 30 milhões de espectadores, tem outro motivo de apreensão: seus patrocinadores são gigantes da indústria alimentícia e automobilística – uma vive, em boa parte, do gosto pelo supérfluo, a outra está à beira do nocaute. 

Quanto menos a cultura americana florescer em seu próprio território, assim, mais prejudicada ficará sua disseminação no restante do mundo. E este é o momento em que Barack Obama precisa que os muçulmanos, os venezuelanos e os norte-coreanos, entre outros, desejem ardentemente as emoções de um novo Titanic, com seus ideais de liberdade, mobilidade e direito à felicidade. Mas não há no horizonte nem sinal de um fenômeno semelhante. E não porque faltem criatividade e empenho – o que deve faltar é fôlego, e fundos.

 

Corbis/Latinstock

 

Isabela Boscov.
 


A guerra pelo conhecimento
 

A ciência e a tecnologia, os principais motores da economia americana, dependem do investimento privado. O desafio de Obama é mantê-lo em meio à crise financeira
 

Barack Obama assume nesta semana o comando da maior – e mais espetacular – máquina de inovações criada na história da humanidade. Sob qualquer ângulo que se observe, constata-se a hegemonia dos Estados Unidos nas áreas de ciência e tecnologia. Exemplo dessa pujança é o número de patentes requeridas por empresas americanas. Dados da OCDE (organização que reúne os países desenvolvidos) mostram que essas companhias superam, a cada ano, a marca dos 16.000 pedidos feitos nos três principais escritórios internacionais (um atestado da relevância das invenções). Em segundo lugar nesse ranking vem o Japão, com 15.000 patentes anuais – e há três décadas tentando, sem sucesso, alcançar o topo da lista. Entre as nações que supostamente oferecem riscos ao poderio americano, a China tem média de 400 patentes e a Índia, de 130. Números insignificantes (mas ainda superiores aos do Brasil, que registra sessenta). Com vantagem semelhante, o domínio americano estende-se à qualidade dos centros de pesquisa, ao número de cientistas e à capacidade de criar aparelhos espetaculares que transformam o dia-a-dia de quem os utiliza. O desafio de Obama é manter em plena ebulição essa estrutura de pesquisa e criação, apesar dos solavancos provocados pela maior crise econômica dos últimos oitenta anos. 

Não se trata de tarefa simples. O sucesso científico-tecnológico dos Estados Unidos está atrelado ao vigor de suas empresas e à força de seus empreendedores. Dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), quase 70% são feitos por companhias privadas – nas quais trabalham oito em cada dez cientistas americanos. Em países como o Brasil, essa relação é oposta. A maior parte dos recursos para pesquisa (60%) sai dos cofres públicos. Os investidores de risco (venture capitalists) representam outro importante pilar da exuberância tecnológica americana. Eles investem em dezenas de negócios incipientes, na esperança de que um sobreviva. Seguem o lema "fracasse rápido e siga adiante". Tal prática ergueu marcas como a Apple, o Google, assim como a quase totalidade das companhias que levaram a revolução digital às massas. 

O problema: com a crise, as empresas se enfraquecem. Na semana passada, por exemplo, o Google anunciou demissões e o fechamento de escritórios de engenharia. A Intel revelou que seu lucro despencou 90% no último trimestre. Notícias desse tipo têm se acumulado. Obama, porém, mostrou reação. Cercou-se de um time estelar de assessores e secretários para as áreas científicas, com nomes como Steven Chu, Nobel de Física (1997), Harold Varmus, Nobel de Medicina (1989), e o físico John Holdren, de Harvard. Para a tecnologia, um nome-chave do governo é Julius Genachowski. Advogado e amigo do presidente, foi responsável pela bem-sucedida estratégia eleitoral de Obama pela internet. Agora, chefiará a Federal Communications Commission (FCC), que regula as telecomunicações. 

Genachowski é apontado como o articulador de um plano nacional para a expansão da banda larga, por meio do qual as empresas implantariam novas redes com redução de até 40% dos impostos. Concessões similares seriam feitas a companhias que renovassem investimentos em P&D. Em geral, os líderes americanos sabem da importância da tecnologia para o desenvolvimento de uma nação. Estudos econômicos de meados do século XX já creditavam 85% do crescimento da renda per capita americana entre 1890 e 1950 a avanços tecnológicos. Trabalhos mais recentes vinculam metade da evolução da economia à capacidade de inovação dos Estados Unidos. Com lucidez, Obama definiu a ciência e a tecnologia como prioritárias. Ele as vê como são: as alavancas para tirar o país do atoleiro e mantê-lo na liderança ao longo do século XXI.

 

Ron Edmonds/AP

 

Carlos Rydlewski.
 


A responsabilidade e os riscos de ser superpotência
 

O poder militar dos Estados Unidos não tem rival. Mas a experiência de duas guerras
simultâneas e o surgimento de novos inimigos põem em discussão como, em que
circunstância e contra quem toda essa capacidade bélica deve ser usada
 

Oito anos atrás, quando George W. Bush assumiu a Presidência, a supremacia global dos Estados Unidos parecia assegurada por um poderio militar sem rival no planeta. Nesta terça-feira, ele entregará ao novo comandante-em-chefe – Barack Hussein Obama – um Exército estressado por duas guerras simultâneas, no Iraque e no Afeganistão. Os superpoderes de tio Sam deixaram de ser incontestáveis, como foram nos anos 90. Muitos analistas gostam de se debruçar sobre a história em busca de similitudes entre as agruras bélicas do governo Bush e o declínio de impérios do passado. Não são difíceis de achar. A derrota para os visigodos em Adrianópolis, em 378, foi o início do fim para o Império Romano, que ainda existiria por mais um século. A Inglaterra, em cujo império o Sol não se punha, jamais se recuperou do desgaste financeiro e humano da Guerra dos Bôeres, na África do Sul. O governo da rainha Vitória precisou mobilizar 500 000 soldados para derrotar um exército mambembe de 80 000 guerrilheiros. A questão é se as analogias fazem sentido quando se trata dos Estados Unidos. 

O Império Romano foi condenado pelos maus políticos que, empenhados nas intrigas palacianas, descuidaram das guarnições fronteiriças responsáveis durante séculos por manter os bárbaros a distância. O problema do Império Britânico não foram os políticos, mas a economia. Pioneira da Revolução Industrial, a Inglaterra chegou ao século XX com uma indústria obsoleta. Apesar da experiência desastrada de reduzir as Forças Armadas feita por Donald Rumsfeld, primeiro secretário de Defesa de Bush, os Estados Unidos estão livres das mazelas que derrotaram os impérios do passado. A economia americana é a maior do planeta desde os anos 1880. Representava 26% do PIB mundial em 2007 e, de acordo com algumas estimativas, apesar da recessão atual, ainda deverá ser o dobro da economia da China em 2025. O poder militar é um reflexo do poder econômico – e não o oposto, como ocorreu em outros lugares no passado. 

As Forças Armadas americanas dominam em qualquer nível – terra, mar, ar e espaço – e têm um orçamento maior que a soma dos catorze países que mais gastam com a soldadesca. O Pentágono é responsável por 1 em cada 2 dólares despendidos em defesa em escala global. Essa gastança representa apenas 4% do PIB. Para comparar, as Forças Armadas da Arábia Saudita consomem 8,5% do PIB. Para quem se impressionou com a facilidade com que os blindados russos varreram os georgianos no ano passado, Robert Gates, secretário de Defesa de Bush mantido no cargo por Obama, fez a seguinte ressalva, em artigo sobre o futuro do Pentágono: "Apesar de melhoradas depois de seu nadir nos anos 90, as forças convencionais russas permanecem uma sombra de seu predecessor soviético". 

O desafio diante dos militares americanos tem menos a ver com dinheiro, poder de fogo ou tecnologia bélica e mais com a identificação do inimigo. O Pentágono deve se concentrar na conexão entre terrorismo, estados fora da lei e armas de destruição em massa ou dedicar maior atenção à China e à Rússia? Seja qual for a decisão, Gates mostra quais são as prioridades ao escrever que a capacidade de lidar com ameaças futuras depende do desempenho americano nos conflitos atuais. "Fracassar – ou dar a impressão de ter fracassado – no Iraque e no Afeganistão pode ser um golpe desastroso para a credibilidade dos Estados Unidos, não apenas entre seus amigos e aliados, mas também entre os adversários potenciais." Todos os adversários potenciais, incluindo aí as redes terroristas, já descobriram que não vale a pena enfrentar os Estados Unidos numa guerra convencional.

 

Harry Langdon/Getty Images

 

Duda Teixeira.

 

Fonte: Rev. Veja, ed. 2096, 21/1/2009.

 


Coletânea de artigos


Home