DO COLLORGATE AO
DOSSIÊGATE
Os
comentaristas políticos ainda cobram dos senadores uma reação mais
afirmativa
Nos dias subseqüentes e durante todo o mês de junho daquele ano a imprensa apenas "repercutiu", bateu os tambores – alguns mais afoitos, delirantes, outros mais reservados e desajeitados. Então apareceu a primeira peça efetivamente investigada: a IstoÉ não se importou com a primazia da concorrente e descobriu o motorista Eriberto França, o Fiat Elba e as remessas de dinheiro do caixa 2 para as contas do Chefe da Nação. A matéria foi publicada em 1º/7/1992. Collor ferrou-se naquele momento. Os aspectos jurídicos ficam para os juristas, as questões políticas em algum momento virão à tona, mas a imprensa brasileira (jornais e revistas) tem uma dívida com os cidadãos-leitores. Está obrigada a esmiuçar o episódio, verificar responsabilidades, irresponsabilidades. Como exercício retrospectivo e treinamento prospectivo. Uma coisa é certa: a facilidade com que a imprensa caçou o "caçador de marajás" e obrigou-o a renunciar, fabricou um novo esporte ou modismo: a caça aos presidentes. Este observador (então residente em Lisboa e colaborador do mensário Imprensa com a rubrica "Circo da Notícia") escreveu na época que o jornalismo brasileiro, ao contrário do que se recomenda às sentinelas, primeiro atirava e depois perguntava "quem vem lá?". Culpa no cartório Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e o próprio Lula (como candidato e como presidente) foram vítimas com diferentes intensidades desta alucinada "caça ao presidente". Repórter só se considerava investigativo se conseguisse derrubar alguém muito importante. E começava atirando para cima. Daí ao "jornalismo fiteiro", aos vídeos produzidos por arapongas profissionais e aos pré-fabricados "dossiês secretos" foi um passo. O Dossiêgate ou Dossiê Vedoin talvez seja o último da série. Explica-se: foi uma granada que explodiu nas mãos dos incompetentes granadeiros. Collor não foi apenas derrubado pelas denúncias do irmão. Collor caiu porque tinha culpa no cartório. E, evidentemente, não contou com bons conselheiros.
Fonte: Observatório da Imprensa, Alberto Dines, 20/3/2007. |