Emissão de CO2 cresce no planeta
Balanço da ONU mostra que os países desenvolvidos jogam mais carbono na
atmosfera Apesar dos esforços internacionais, as emissões de dióxido de carbono (CO2) que geram o efeito estufa aumentaram em 2004 e atingiram os maiores índices desde a década de 90. Os países ricos somados tiveram uma queda de apenas 3,3% em média nas emissões nos últimos 15 anos. Porém, quando se leva em conta apenas o período entre 2000 e 2004, houve na realidade um aumento das emissões nessas economias, o que mostra a necessidade de medidas mais drásticas para lidar com aquecimento do planeta. A primeira avaliação feita pelas Nações Unidas sobre as emissões após o Protocolo de Kyoto entrar em vigor traz resultados decepcionantes. As emissões nos países ricos atingiram 19,9 bilhões de toneladas de CO2 em 2004, ante 17,5 bilhões em 2000. Em 1990, ano-referência para o protocolo, os gases lançados na atmosfera por indústrias, usinas e carros somavam 18,6 bilhões de toneladas. Entre 35 países que adotaram as recomendações de Kyoto, a redução média das emissões foi de 15,3% em comparação aos níveis de 1990. Mas a queda ocorreu em grande parte graças à crise econômica que o Leste Europeu passou nos anos 90. A Rússia registrou uma redução de 32% nas emissões; a Hungria, de 31,8%; e a Polônia, de 31,2%. Excluindo esses países, a média dos países ricos teria subido 11% nas emissões. Com a volta do crescimento no Leste Europeu a partir de 2000, as emissões de CO2 subiram, o que anulou o suposto bom resultado dos países desenvolvidos. O Protocolo de Kyoto prevê que os países ricos diminuam em média 5,2% de suas emissões de gases do efeito estufa entre 2008 e 2012, com base nos índices registrados em 1990. 'Os países desenvolvidos terão de implementar políticas mais eficientes para a redução do gás', afirmou Yvo de Boer, secretário executivo da ONU para mudanças climáticas. Só no setor de transporte, o aumento mundial das emissões de CO2 foi de 23,9% entre 1990 e 2004. A Europa, o continente mais comprometido com o protocolo, diminuiu em média apenas 0,6%. Alguns países conseguiram reduzir suas emissões de carbono, como Alemanha (-17,2%), Grã-Bretanha (-14,3%) e Lituânia (-60%). Outros não: na Espanha, o aumento foi de 49% entre 1990 e 2004; em Portugal, de 41%; e na Turquia, país que deseja tomar parte da União Européia, as emissões cresceram 72%. A situação na América do Norte é pior. O Canadá, que emite 26,6% a mais, já anunciou que não terá como cumprir os termos do acordo. Nos Estados Unidos, que não participam do protocolo, o aumento foi de 15,8% desde 1990. Prejuízos serão de 5% do PIB se nada for feito O governo britânico divulgou ontem um aguardado relatório sobre o impacto das mudanças climáticas na economia global. Segundo o estudo, os prejuízos irão variar entre 5% e 20% do PIB mundial se nada for feito. Impedi-los custaria 1% do PIB. 'Ainda há tempo de evitar os piores impactos se agirmos agora', disse o autor do relatório, Nicholas Stern. Os britânicos sugerem corte de 30% nas emissões de dióxido de carbono até 2020. Para 2050, a queda seria de 60%. Londres nomeou o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, como consultor. Os objetivos são atrair a atenção popular (ele protagoniza um documentário sobre o tema, A Verdade Inconveniente) e usar seus contatos para convencer Estados americanos a reduzirem suas emissões.
Fonte: O Estadão, Jamil Chade, 31/10/2006.
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Aquecimento pode custar 20% do PIB global até 2050
Conclusão é do maior relatório já feito sobre o impacto econômico do efeito
estufa. Um relatório encomendado pelo governo britânico e divulgado ontem demoliu o último argumento daqueles que negam os efeitos do aquecimento global – o de que custaria mais combatê-lo do que ignorá-lo. Segundo o "Relatório Stern", comandado por Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial, os gastos para estabilizar a emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa na atmosfera seriam equivalentes a 1% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial até 2050. A falta de ação e a manutenção dos atuais padrões de emissão, no entanto, poderiam reduzir o consumo global em aproximadamente 5% do PIB mundial, chegado a até 20% de redução, no pior cenário. "O que nós mostramos é que a magnitude do risco é muito grande e deve ser levada em consideração nos investimentos e no tipo de consumo que são feitos hoje em dia", disse Stern em entrevista coletiva ontem de manhã, em Londres. O premiê britânico, Tony Blair, afirmou que o relatório é "crucial" por mostrar que as evidências científicas do aquecimento global são "impressionantes e decisivas". "Este desastre não vai acontecer em um distante futuro de ficção científica, mas ainda durante a atual geração", disse Blair. "Os investimentos que fizermos agora renderão muitas vezes mais no futuro, não apenas em termos ambientais mas também econômicos”. O relatório precede uma reunião das Nações Unidas sobre o clima, que começa na próxima sexta-feira, em Nairóbi (Quênia), cujo foco será encontrar um sucessor para o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012. "Acordar os elementos-chave para uma ação internacional deve ser a prioridade de todas as áreas de políticas governamentais", destaca o relatório. "Não podemos esperar os cinco anos que foram necessários para negociar o acordo de Kyoto, simplesmente não temos tempo. Temos de progredir mais", disse Tony Blair. Para produzir o estudo de 700 páginas – o mais abrangente já feito sobre o impacto econômico do aquecimento global –, Stern e seu time visitaram países que têm papel determinante na questão climática, entre eles o Brasil. Stern destacou a importância de iniciativas como o uso de biocombustíveis – como o álcool – , em que o Brasil é líder. Uma das metas do governo britânico é ter pelo menos 5% dos veículos do Reino Unido funcionando com biocombustível até 2010. O economista também afirmou que a preservação das florestas é crucial e que os países desenvolvidos devem ajudar financeiramente nessa tarefa. "O desmatamento colabora mais para o aumento de emissões globais do que o setor de transportes, e é mais barato de evitar", disse Stern. O estudo confirma que países ricos são os maiores responsáveis pelas crescentes emissões de gases que causam o efeito estufa e, portanto, devem fazer os maiores esforços de redução. "É justo que os países desenvolvidos paguem de 60% a 80% dos custos para combater o aquecimento global", disse. Clima e segurança A chanceler britânica, Margaret Beckett, também participou da apresentação do estudo e destacou o impacto das mudanças climáticas na segurança internacional. O aumento da temperatura global e o conseqüente aumento do nível do mar, devido à expansão térmica do oceano e ao derretimento de geleiras de terra firme, causariam inundações que obrigariam até 100 milhões de pessoas a abandonarem regiões costeiras. No outro extremo, o aumento das secas em determinados países também criaria milhões daquilo que o estudo chama de "refugiados do clima". "Se não agirmos agora, teremos de enfrentar deslocamentos populacionais nunca vistos", disse Beckett. Apesar dos indicadores preocupantes e das previsões catastróficas, Nicholas Stern afirmou que a conclusão do estudo "é essencialmente otimista". "Ainda há tempo para evitar os piores impactos das mudanças climáticas, se agirmos agora e internacionalmente."
Fonte: Folha de S. Paulo, Marco Aurélio Canônico, 31/10/2006.
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