CNPq congela bolsas e
enfrenta protestos
Desde 17 de setembro os
cursos não conseguem cadastrar alunos para vagas
abertas; órgão diz que situação será normalizada
O
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
congelou parte de suas bolsas de mestrado e doutorado. A agência suspendeu
no dia 17 de setembro as bolsas dos alunos que não se titularam dentro do
prazo — 48 meses para doutorado e 24 meses para mestrado.
Até setembro, quando o bolsista chegava ao prazo limite, os cursos podiam
substituí-lo por outro pós-graduando, que passava a ganhar mensalmente R$
724,52 para mestrado ou
R$ 1.072,89 para doutorado — valores sem reajuste há quase oito anos.
Com a suspensão, caso o bolsista de mestrado, por exemplo, tenha chegado
ao 24º mês da bolsa e ainda não tenha se titulado, o curso tem essa bolsa
suspensa, não podendo indicar outro pós-graduando para a vaga.
A determinação gerou confusão e protestos nas universidades, que já
reclamavam do corte — anunciado no início do ano pelo governo federal — de
45% do orçamento do conselho para este ano.
Os cursos de mestrado e doutorado do país têm uma cota fixa de bolsas do
CNPq. Cada curso de pós-graduação determina o prazo em que o aluno deve se
titular; independentemente disso, a bolsa vale por 24 meses para mestrado
e por 48 meses para doutorado.
"Tivemos de tomar uma atitude para saber o que temos no sistema", disse
Esper Cavalheiro, presidente do CNPq. Segundo ele, cerca de 300 bolsas não
foram substituídas desde o dia 17.
Ontem, o CNPq informou que, na terça, a substituição dos bolsistas já
deverá estar normalizada. Segundo Cavalheiro, a suspensão aconteceu para
que fosse possível fazer um balanço do número atual de bolsas no país e de
seu custo mensal. Essas informações seriam passadas para a equipe de
transição de governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Cavalheiro disse que o balanço indicou que o CNPq paga hoje no país 5.712
bolsas de doutorado e 5.477 bolsas de mestrado. O custo anual gira em
torno de R$ 150 milhões.
Segundo Cavalheiro, durante o congelamento das bolsas, a verba foi
realocada para complementar o pagamento das bolsas internacionais, cujo
custo aumentou por conta da alta do dólar.
Os coordenadores de pós-graduação se dizem pegos de surpresa, já que a
única notificação da suspensão, de apenas seis linhas, foi divulgada no
site do CNPq no dia 17 de setembro. O órgão não informou que divulgaria a
nota. Os coordenadores só descobriram a determinação quando tentaram
cadastrar seus alunos.
No primeiro semestre, foram feitas seleções para novos bolsistas, que
assumiriam as vagas hoje suspensas. Como o CNPq exige dedicação exclusiva
e em tempo integral, muitos pós-graduandos que passaram na prova se
desligaram de seus empregos.
A coordenadora de pós-graduação em genética e biologia molecular da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Lavínia Schuler
Faccini, conta que cinco bolsas do CNPq seriam renovadas em setembro. No
dia 16, já com os novos bolsistas selecionados, ela cadastrou normalmente
um deles no CNPq. Dois dias depois, quando os outros quatro seriam
cadastrados, o sistema não aceitou o registro.
"Tínhamos de fazer um cálculo, mas concordo que o sistema foi tumultuado
por uma decisão não discutida com a comunidade", disse Cavalheiro.
Decisão criou confusão em
universidades
Os coordenadores de cursos de pós-graduação
ouvidos pela Folha disseram que tentaram entrar em contato com o CNPq,
pedindo mais explicações sobre a suspensão das bolsas. Segundo eles,
funcionários diziam que a suspensão valia para todas as substituições
feitas após 17 de setembro.
A Associação de Pós-Graduandos da USP se reuniu na segunda com a
pró-reitora da universidade, Suely Vilela, e decidiu enviar um ofício e um
abaixo-assinado ao CNPq pedindo explicações.
Esper Cavalheiro disse que os funcionários da agência "devem ter se
confundido". Atualmente, pouco menos de 50% de todos os pós-graduandos do
país têm bolsa.
"Se o pós-graduando não pode se dedicar 100% porque tem de trabalhar para
se sustentar, as pesquisas demoram mais", disse Telma Terezinha Moreno, da
Unesp de Jaboticabal.
As bolsas da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior) funcionam basicamente como as do CNPq, com os mesmos valores e
prazos. A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de SP) não tem
sistema de cotas. As bolsas de mestrado e doutorado têm prazos flexíveis e
valores variáveis.
Fonte:
Folha de São Paulo / ANDES-SN — 01/11/2002.
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