Agência prevê complicação do cenário energético no Brasil em 2008
"O robusto crescimento da demanda de energia gera preocupações sobre o suprimento se esse crescimento passar de 5% ao ano", diz o relatório da Fitch, na parte dedicada ao Brasil. "O principal desafio do governo para os próximos cinco anos é tornar viável a expansão da matriz energética", acrescenta. A agência prevê um ano difícil para toda a região, por causa da conjunção de três fatores: crescimento da demanda, escassez de gás e aumento dos preços dos hidrocarbonetos. "Este ano pode ser mais um desafio para as companhias de geração de energia que lutam para manter o suprimento diante do aumento da demanda na região", afirma a agência. "Em particular, o ano será desafiador no Cone Sul, em meio à crise do gás natural." 'Progressista' O Brasil, no entanto, aparece no relatório entre os países mais bem preparados para enfrentar os problemas que virão por causa da sua estrutura regulatória, considerada "atraente para os investidores". "Em geral, a estrutura do Brasil é progressista em comparação com os outros países da região", disse Gianna Bern, diretora da Fitch para a América Latina. "No entanto, a crise do gás vai afetar o Brasil também, e os preços de outras fontes de energia estão aumentando." Bern também faz a ressalva de que a situação do Brasil pode ser considerada favorável em relação ao resto da região desde que o país possa contar com as suas hidrelétricas do Sudeste - prejudicadas por causa da escassez de chuvas. São citados como positivos no relatório o fato de o país, assim como Colômbia e Chile, permitir que companhias repassem o aumento dos custos de geração de energia aos consumidores e o de as tarifas "refletirem aumentos nas estruturas de custo". A Argentina é o destaque negativo no relatório por fazer justamente o contrário, fixar os preços, e assim supostamente afastar potenciais investidores. "O melhor exemplo (de países que não permitem o repasse do aumento de custos aos consumidores) é a Argentina, onde as tarifas congeladas e a intervenção do governo nas exportações de gás natural desestimularam investimentos no setor." Segundo o relatório, enquanto houve "muito pouco investimento" no setor elétrico argentino de fora do país, no Brasil as regras do setor estimularam "uma série de projetos públicos e privados de geração de energia". Gás No curto prazo, porém, o Brasil continuará a depender do gás para mover as termelétricas, pelo menos até que o nível dos reservatórios das hidrelétricas melhore. Para Ricardo Carvalho, diretor-sênior de ratings corporativos da Fitch Ratings no Brasil, até que isso aconteça, o governo deveria restringir o uso do gás nos veículos a fim de preservar os reservatórios. "Flexibilizar o gás é uma medida muito perigosa porque já tem um desequilíbrio entre demanda e oferta. Você continuar utilizando o gás para outra fonte que não seja a geração de energia acaba por maximizar os riscos", diz Carvalho. "É uma medida impopular, resta ver o quanto o governo vai esperar por São Pedro." Segundo o relatório da Fitch, a tendência pelo menos no curto prazo é que a demanda de gás natural continue a ultrapassar a oferta regional. "Seria uma posição pró-ativa não esperar a luz vermelha acender para tomar outras decisões porque, daí sim, elas serão mais drásticas e as conseqüências serão maiores. A gente espera que o governo administre de forma mais intensa os sinais que estão sendo dados. Eles são fortes e preocupantes." Se não fizer isso, alerta Carvalho, o Brasil corre o risco de ter de passar por um racionamento mais adiante e ver frustradas as expectativas de crescimento para 2008. "O governo está apostando todas as fichas em São Pedro, e as variáveis que potencializam o risco (baixo nível dos reservatórios, escassez de gás e aumento da demanda) estão cada vez mais intensas."
Fonte: BBC Brasil, Carolina Glycerio, 10/1/2008.
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