CARTA DE PELOTAS
No
período de 10 a 16 de fevereiro de 2009, reuniram-se em Pelotas, no
estado do Rio Grande do Sul, 248 docentes delegados, 29 observadores e
6 convidados de 52 instituições de ensino superior, representando suas
seções sindicais, vindos de todo o país para o 28º CONGRESSO do ANDES
- Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior.
No momento
histórico em que irrompe a maior crise econômica do capitalismo desde
1929, com as principais economias do mundo em recessão, pratica-se a
maior transferência de recursos públicos para o setor privado de toda
a história: já são cerca de 10 trilhões de dólares para socializar os
prejuízos do capital, resgatar bancos e empresas falidas. Na busca do
resgate das taxas de lucro dos capitalistas, ataca-se a classe
trabalhadora com demissões em massa, redução de salários, retirada de
direitos, numa ação conjugada entre governo, setor financeiro,
interesses privados e o apoio da mídia.
No Brasil, os
empresários, o governo Lula e os demais setores da sociedade,
alinhados aos interesses do capital e do Estado, já defendem um pacto
de redução de salários e de direitos e de intervenção estatal para
subsidiar o capital em crise, com a pretensa garantia da preservação
dos empregos. Esta história nós trabalhadores já conhecemos: no auge
da acumulação de capital, os ganhos permanecem com os patrões; na
crise, os prejuízos ficam com os trabalhadores.
Neste quadro,
cabe aos trabalhadores organizarem-se, na perspectiva da autonomia e
da independência de classe, para lutar, resistindo por todos os meios,
em defesa de seus empregos, salários e direitos. Os docentes presentes
no Congresso, junto com estudantes, trabalhadores rurais sem terra e
outras categorias locais, já demonstraram sua disposição de luta para
este ano de 2009 quando, em passeata pelas ruas da cidade que os
acolheu, reafirmaram que “Esta crise não é nossa! Os trabalhadores não
podem pagar por ela!”, recebendo o apoio e a simpatia da população.
Foi nesse contexto que o 28º CONGRESSO deliberou por “acompanhar os
desdobramentos da atual crise econômica e financeira e seus impactos
sobre as políticas governamentais na área da educação, em especial no
que diz respeito ao financiamento das instituições públicas de ensino
superior, denunciando amplamente as suas conseqüências”.
Na abertura do
28º CONGRESSO, coerente com sua trajetória política, fundada na defesa
da autonomia, da consciência de classe e da solidariedade
internacional, o ANDES-SN convidou a comunidade palestina a se
manifestar na Plenária de Abertura. O professor Maisar Omar,
Secretário-Geral da Confederação Palestina no Brasil, falou ao
Congresso acerca do genocídio executado pelo Estado de Israel, na
Faixa de Gaza, contra o povo palestino. No transcorrer dos debates, a
Plenária aprovou que devemos lutar pela criação de um tribunal
internacional independente para julgar os crimes de guerra praticados
pelo Estado de Israel.
O Congresso
também se ocupou dos mais recentes ataques contra a classe
trabalhadora em nosso país. Encontra-se tramitando no Congresso
Nacional a PEC nº 306/2008, de autoria do Deputado Eduardo Valverde
(PT-RO), que visa consolidar o processo de extinção do Regime Jurídico
Único na administração pública. Caso seja aprovada, dará ao governo a
prerrogativa de estabelecer os setores da administração pública que
serão mantidos no regime jurídico estatutário como carreiras de
Estado, e aqueles cuja contratação se fará pela CLT. Fazer a denúncia
desse projeto nas universidades e articular uma ampla frente de luta
dos servidores públicos contra mais este ataque aos direitos dos
trabalhadores, no contexto da presente iniciativa de reativação da
Coordenação Nacional das Entidades do Serviço Público Federal - CNESF,
será uma das principais tarefas do sindicato neste ano.
O 28º CONGRESSO reafirmou o ANDES-SN como sindicato dos
docentes das instituições de ensino superior das instituições de
ensino superior, públicas e privadas e, deliberou por ampliar a luta
em defesa do seu registro sindical e contra todas as formas de
cerceamento do direito à autonomia e à livre organização sindical dos
trabalhadores do setor privado e do setor público. Nesta perspectiva,
os docentes deliberaram “lutar contra o conjunto de normas que compõe
a reforma sindical do governo, como a Lei nº 11648, de março de 2008,
que dispõe sobre o reconhecimento das centrais sindicais, a Portaria
nº 186 do MTE, de abril de 2008, que prevê os procedimentos para a
concessão de registro sindical, e o projeto de lei que institui a
contribuição negocial, denunciando seus efeitos”. Conscientes de que
não há democracia sem liberdade e autonomia de organização sindical e
de que a sustentação material de uma burocracia sindical com recursos
públicos liquida qualquer possibilidade de autonomia das organizações
sindicais da classe trabalhadora, o 28º CONGRESSO deliberou ainda por
“lutar
contra a Instrução Normativa no 01 do MTE, de setembro de
2008, que institui a contribuição sindical compulsória de servidores
públicos, reafirmando a posição contrária a qualquer contribuição
sindical compulsória e pela autonomia dos sindicatos em estabelecer
forma e valor para contribuições voluntárias. Aprovou ainda
intensificar seus esforços para que o Brasil ratifique a Convenção 87
da OIT, que trata desta questão central para a classe trabalhadora.
Neste momento,
quando o Proifes, setores do governo e a CUT procuram por diferentes
meios destruir o Sindicato, a força do ANDES-SN materializada em suas
propostas e ações , motiva a categoria a prosseguir resolutamente na
luta em defesa da universidade pública gratuita e de qualidade
socialmente referenciada. Ante a implementação do REUNI, já em
andamento, e as reiteradas ameaças de cortes no orçamento público em
função da crise econômica, o 28º CONGRESSO destacou a importância de
colher, sistematizar e divulgar todas as informações relativas à sua
implementação nas IFES, as quais vêm sendo sonegadas, seja pelo MEC,
seja por administrações universitárias. A luta contra o REUNI, em
articulação com os estudantes e servidores técnico-administrativos,
deve prosseguir com toda força, a fim de que a expansão e
reestruturação das universidades federais não venham a representar a
precarização e a intensificação, ainda maiores, do trabalho docente e
a deterioração da qualidade e das condições de trabalho, ensino e
pesquisa nas IFES.
Para fazer
frente às adversidades que a atual conjuntura impõe, o 28º CONGRESSO
acolheu as resoluções tomadas em Belém - PA, por ocasião do FSM 2009,
na reunião realizada com a presença da CONLUTAS e de outras entidades,
que apontam para a busca de uma organização de modo unitário, que
envolva todos os setores do movimento sindical e popular que se acham
no campo da autonomia e da independência de classe. Neste sentido,
aprovou que se desencadeie um amplo e democrático processo de
discussão e deliberação nas bases do Sindicato sobre as posições
políticas que o ANDES-SN deve defender no curso de suas ações, com o
objetivo de avançar nesta unidade, culminando com a realização de um
encontro nacional, ainda em 2009, e do conjunto de ações de
mobilização dos trabalhadores contra todas as agressões em decorrência
da crise.
Nesta
conjuntura, a unidade dos trabalhadores e de suas organizações de
classe é essencial para construir a luta em defesa dos empregos, dos
salários e dos direitos. Ainda não é possível prever a extensão e a
duração da atual crise, mas ela aprofundará as contradições e os
antagonismos do capitalismo. Diante disto, torna-se imperativo
RESISTIR E AVANÇAR NA DEFESA DO ANDES-SN, DA UNIVERSIDADE PÚBLICA E
DOS DIREITOS DOS TRABALHADORES, o que implica a luta pela melhoria das
condições de trabalho, da carreira docente e da ampliação do
financiamento público da educação em todos os níveis. Esta luta poderá
garantir as condições subjetivas e objetivas necessárias à construção
de uma sociedade sem exploradores nem explorados.
Pelotas, 16 de
fevereiro de 2009. |