O
período de entressafra pelo qual as universidades passam entre os meses
de dezembro e março, quando as atividades das IES são reduzidas devido à
paralisação das aulas, é uma boa época para os professores que buscam
aperfeiçoamento profissional. É neste período que a maioria dos
programas de bolsas de estudo abre inscrições. Para os interessados, há
diversas opções: programas de cooperação interinstitucional, programas
governamentais e ainda a possibilidade de participação em grupos de
pesquisa, que realizam estudos em praticamente todas as áreas do
conhecimento.
Em tempos de
globalização, cada vez mais o mercado de trabalho tem exigido
profissionais completos capazes conduzir as empresas a patamares mais
elevados de qualidade. No caso das IES, a relação "Qualificação do
Profissional versus Imagem da Empresa" é ainda mais clara, pois
estas são constantemente avaliadas e a formação de seus professores é um
dos quesitos principais nas classificações feitas pelo MEC (Ministério
da Educação).
Desta forma, a
complementação da formação dos docentes conta, em linhas gerais, com
apoio das universidades, interessadas em qualificar seus quadros.
Especialmente se esta qualificação for realizada em outro país. "Hoje
temos ótimos cursos de pós-graduação no país. Mas nos programas
realizados no exterior, há - além da possibilidade de se conviver com
uma outra cultura, em outra realidade - o diferencial dos estudos
comparados, que enriquecem a formação do professor", explica a
coordenadora da Assessoria de Relações Institucionais e Internacionais
da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Renée Zicman.
Para os professores
que têm interesse em programas de intercâmbio, o primeiro passo pode ser
dado dentro da própria universidade em que leciona. Embora os maiores
financiadores de bolsas sejam os órgãos governamentais, como a Capes
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), muitas
universidades optam por acordos interinstitucionais, que na prática
consistem em uma "troca" de professores. Cada IES participante cede
alguns docentes que permanecem durante determinado período em outra
instituição, complementando seus estudos, lecionando ou participando de
trabalhos de pesquisa.
A prática, comum
entre universidades locais, não se resume aos limites do país.
Instituições como a UnB (Universidade de Brasília) e a PUC-SP contam com
diversos acordos com universidades de outros países, para intercâmbio de
professores em trabalhos de pesquisa e para pós-graduação stricto
sensu na modalidade "sanduíche"(*).
"Atualmente, nós contamos com aproximadamente 270 acordos internacionais
com diferentes instituições com as quais trocamos pesquisas,
conhecimentos e professores das mais diferentes áreas", conta o diretor
da Assessoria de Assuntos Internacionais da UnB, José Flávio Saraiva.
Se a intenção do
professor é viajar ao exterior para fazer cursos rápidos, uma boa opção
é o intercâmbio com bolsa financiada por órgãos governamentais. Alguns
países possuem programas voltados especialmente para formação
complementar de docentes, que são oferecidos através de suas embaixadas.
No Brasil, países como o Canadá, os EUA e o Japão oferecem, anualmente,
financiamento para interessados em estudos de línguas ou da realidade
local.
Professores ficam com maioria das vagas da pós-graduação
Para aqueles que
desejam uma formação mais completa, o leque de opções é ainda maior.
Existem inúmeros programas de bolsas de estudo, que contam com fontes de
financiamento distintas. Embora a maior parte das bolsas distribuídas
no Brasil ainda seja originária da Capes, instituições como a União
Européia e o Banco Mundial têm destinado recursos para recrutamento de
pós-graduandos em países da América Latina, ampliando a oferta no país.
Embora não sejam destinadas especificamente a professores, são estes
candidatos que ocupam a maioria das vagas disponíveis.
Para Renée, isso
acontece porque as empresas brasileiras não valorizam corretamente a
formação stricto sensu, dando mais valor a cursos de
especialização profissional, com o foco mais voltado para as exigências
do mercado de trabalho. "No Brasil há um baixíssimo aproveitamento de
doutores em outras áreas que não a educação. Na hora em que uma empresa
contrata um profissional, o título, que deveria ser um grande
diferencial, acaba não sendo", lamenta. "Não há, no país, uma política
de valorização do portador do doutorado".
Assim, uma boa opção
é recorrer às opções de financiamento da Capes, que conta com diversos
programas voltados para pós-graduação no exterior. A agência, ligada ao
MEC, é a responsável pelos acordos entre governos para cooperação na
área de educação. Atualmente, esses acordos incluem países como
Alemanha, Argentina, Chile, Espanha, EUA, França, Portugal e Uruguai. A
Capes distribui anualmente mais de 13 mil bolsas de mestrado e 6 mil de
doutorado, o equivalente a 50% das bolsas disponíveis no país.
Há ainda a opção do
chamado pós-doutorado, estudos realizados em grupos de pesquisadores
integrados a uma rede. Esta modalidade é específica para aqueles que já
possuem titulação de doutor e pretendem dar prosseguimento aos seus
estudos. "Mas o pós-doutoramento não é título acadêmico. É a pesquisa,
em outro centro, com cooperação acadêmica. É como se fosse uma
reciclagem", explica Saraiva. "Isso foi um ato de maturidade de quem
previu o instrumento. É sempre preciso estar em contato com outras
fontes".
Oportunidades
Veja abaixo alguns
programas de bolsas disponíveis no Brasil atualmente:
Capes:
A agência governamental é a responsável no MEC pela distribuição das
bolsas previstas nos acordos de cooperação internacional e também das
bolsas locais. Nos últimos anos, o Governo Federal criou diversos
programas de estímulo à pós-graduação - coordenados pela Capes - que
incluíam verbas específicas para o aumento da pesquisa acadêmica nas
instituições privadas. A agência ainda responde pelo credenciamento e
avaliação dos programas de pós-graduação no país. Informações sobre os
acordos vigentes e inscrições podem ser obtidas no site da Capes, no
endereço
www.capes.gov.br
Canadá:
O governo canadense disponibiliza, anualmente, dois programas de
bolsas voltados especificamente para docentes. As inscrições iniciam no
mês de junho e podem ser feitas via internet, no site
www.canada.org.br ou diretamente na embaixada.
- O "Faculty
Enrichment Program", com duração de quatro semanas, é destinado a
professores de universidades brasileiras interessados em desenvolver
cursos com conteúdo canadense.
- O "Faculty Research
Program in Brazil" tem duração de quatro semanas e visa oferecer
oportunidade de visita ao Canadá a docentes e pesquisadores de
universidades brasileiras que possuam pelo menos mestrado e estejam
interessados em realizar pesquisas sobre o Canadá, ou sobre aspectos das
relações bilaterais com o Brasil.
Espanha:
O governo espanhol conta com um programa anual voltado apenas para
professores universitários, que é coordenado pela AECI (Agência
Espanhola de Cooperação Internacional), denominado "Programa de
Cooperação Interuniversitária". Neste ano, porém, o programa está sendo
reformulado. Segundo a Embaixada da Espanha no Brasil, em
aproximadamente um mês as novas regras serão definidas. As inscrições,
que já deveriam estar abertas, devem ficar para o final do primeiro
semestre. Até o ano passado, 85 instituições brasileiras integravam este
programa. As informações serão publicadas no site da agência, no
endereço
www.aeci.org.br
EUA:
O governo
norte-americano disponibiliza diversos programas voltados para docentes
e pós-graduandos. Um deles, o "2003 American Studies Summer Institutes"
inclui estudos em diversas áreas, como religião, ciência política,
história e literatura. Os programas têm duração de seis semanas e são
coordenados pela Comissão Fullbright. Outras informações podem ser
obtidas no site da embaixada americana, no endereço
www.embaixada-americana.org.br
Itália:
O Ministério das Relações Exteriores Italianos oferece, todo ano,
bolsas de estudo para cursos de graduação e pós-graduação (doutorados,
pesquisas e especialização) e também para cursos de língua e cultura
italiana. O edital sai normalmente em fevereiro e os candidatos têm
aproximadamente um mês para apresentar o pedido (em 2002, por exemplo,
as inscrições encerraram no dia 19 de março). São disponibilizadas 80
mensalidades para candidatos brasileiros graduados e 50 mensalidades
para candidatos italianos residentes no Brasil. As bolsas para cursos de
língua e cultura italiana, com duração mínima de 2 meses, que são
destinadas exclusivamente a professores de italiano brasileiros e a
estudantes que cursem italiano na faculdade. Maiores informações podem
ser obtidas no site
www.embitalia.org.br
Japão:
O governo japonês oferece, anualmente, bolsas para professores e
educadores do ensino fundamental e médio que pretendem realizar
pesquisas nas áreas relacionadas à educação em uma universidade
japonesa. Esta bolsa, oferecida pelo Ministério da Educação, Cultura,
Esportes, Ciência e Tecnologia do Japão (Monbukagakusho), cobre um
período de aproximadamente um ano e meio, entre Outubro de 2003 e Março
de 2005. Os beneficiados terão direito a passagem de ida e volta,
isenção de taxas escolares, subvenção parcial das despesas médicas no
Japão e uma bolsa de 180.300 ienes ao mês, para cobrir despesas de
moradia e alimentação. As inscrições devem ser feitas na Embaixada do
Japão em Brasília ou nos consulados. Maiores informações podem ser
obtidas no site
www.br.emb-japan.go.jp
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(*) Pós-graduação "sanduíche" — É o nome dado quando parte do
curso é realizado em uma outra instituição de ensino, geralmente
estrangeira. Um exemplo: um aluno inicia seu estudo em uma
universidade brasileira e passa um ano ou um semestre estudando em
uma instituição na Alemanha. Os créditos são aproveitados e o tempo
estudado fora do país é revalidado, tornando-se parte de sua
pós-graduação.
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Fonte: UniversiaBrasil – 31/01/2003.
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