32% dos brasileiros com ensino superior
não são plenamente alfabetizados

 

 

 

 

Pesquisa indica que educação básica melhorou, mas qualidade dos cursos universitários
pode estar caindo
 

Se você consegue ler e interpretar um texto como este, você faz parte de uma elite no Brasil: o seleto grupo dos plenamente alfabetizados. Segundo a pesquisa Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgada pelo Ibope nesta semana, apenas 25% da população brasileira se enquadra nesta categoria – e o número não deve crescer tão cedo.

Realizada desde 2001, a pesquisa avalia a capacidade de leitura de textos e aplicação de operações matemáticas básicas de brasileiros entre 15 e 64 anos. Neste ano, foram entrevistadas 2.000 pessoas em regiões rurais e urbanas de todo o país.

Ao contrário da alfabetização básica (capacidade de entender textos curtos), que cresceu 9% desde 2007, a alfabetização plena parece estar fora do alcance do sistema educacional brasileiro. Essa contradição aparece no estudo com um misto de boas e más notícias: por um lado, a porcentagem de analfabetos funcionais no país chegou ao seu menor patamar da história (28%). Por outro, o número de brasileiros plenamente alfabetizados não só deixou de crescer como caiu 3% em relação a 2007. Desde o início da década, o índice permanece estagnado, apesar dos avanços em todos os outros níveis de alfabetização.

De acordo com o relatório da Inaf, o problema atinge até as universidades: 32% dos brasileiros com ensino superior completo ou incompleto não podem ser considerados plenamente alfabetizados. "O número é assustador", afirma a pesquisadora Vera Masagão, uma das coordenadoras do estudo. "Ele mostra que, com a popularização do ensino superior, a qualidade pode estar caindo."

Na teoria, o ensino médio completo bastaria para que qualquer pessoa fosse capaz de compreender e interpretar textos longos. Na prática, menos da metade dos alunos comprovaram essas capacidades. "Isso tem a ver com a qualidade da escola, que é insuficiente e não garante um aprendizado mínimo", diz Vera.

Ela afirma que, caso as tendências atuais se mantenham, o analfabetismo funcional deve continuar a cair de forma acentuada – principalmente entre pessoas de baixa renda, que antes não tinham acesso nem mesmo ao ensino fundamental. Para diminuir o abismo entre a alfabetização básica e a plena, no entanto, o acesso não é o bastante: é preciso investir na qualidade.

 

Os quatro níveis de alfabetização, segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional:

 
  Analfabetismo
  Não conseguem realizar tarefas simples que envolvem a leitura, embora consigam ler
  números familiares (telefones, preços, etc.).
  Alfabetismo rudimentar      
  São capazes de localizar uma informação explícita em textos curtos e familiares
  (como um anúncio ou pequena carta), ler e escrever números usuais e realizar
  operações simples, como manusear dinheiro para o pagamentos. São considerados
  analfabetos funcionais.
  Alfabetismo básico   
  Leem e compreendem textos de média extensão, localizam informações mesmo que
  seja necessário realizar pequenas inferências e resolvem problemas envolvendo uma
  sequência simples de operações. No entanto, mostram limitações quando as
  operações requeridas envolvem maior número de etapas ou relações.
  Alfabetismo pleno
  Conseguem compreender e interpretar textos longos, distinguem fato de opinião,
  realizam inferências e sínteses. Quanto à matemática, resolvem problemas que
  exigem maior planejamento e controle, envolvendo percentuais, proporções e cálculo
  de área, além de interpretar tabelas, mapas e gráficos.
 

 

Fonte: Rev. Época, Danilo Venticinque, 3/12/09.

 


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