Brasil está atrasado no ensino técnico

 

País tem menos de 1% de graduados na área

O Brasil está atrasado no ensino técnico e tecnológico. É o que diz pesquisa feita pelo professor do Departamento de Matemática da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Renato Pedrosa. De acordo com o levantamento realizado pelo professor, nos últimos dez anos, menos de 1% dos estudantes formados no Brasil vêm de cursos técnicos ou tecnológicos. Só para se ter uma idéia, no Chile, esse número é de 22%. O país que mais se destaca na pesquisa é a

 

Coréia do Sul, que entre os anos de 1972 e 2002, obteve crescimento de 1.800% nesse tipo de graduação, e tem 37% dos graduados no ensino superior, formados pelo ensino técnico.

Autor da pesquisa, Renato Pedrosa associa esse baixo número do Brasil no ensino técnico e tecnológico à tradição do país. "Esse tipo de graduação sempre foi visto por aqui como uma categoria de segunda mão, principalmente por aqueles que têm acesso ao ensino superior, as classes média e média alta", opina ele. Mas, para Pedrosa, esse quadro tem mudado, até pela volta do crescimento econômico, que obriga o país a ter profissionais de todas as áreas. "Para crescer não basta ter bacharéis. Precisamos de especialistas, técnicos, tecnólogos, enfim, profissionais de todas as graduações e formas de ensino", alerta.

O salário não parece ser uma das explicações para o baixo número de graduados em ensino técnico e tecnológico no Brasil. Em países como Bélgica, Luxemburgo, Espanha e Finlândia, em média, se o equivalente a R$ 100 são pagos a profissionais bacharelados, R$ 76 são pagos para os formados no ensino técnico. Para Pedrosa, o que complica no Brasil é a distribuição de renda. "Nos países citados na pesquisa, a distribuição da renda é muito melhor, portanto, essa diferença nos salários não é tão significativa.", explica ele. A pesquisa aponta outro benefício dos cursos tecnológicos. Em uma universidade tradicional (de graduação, pós, pesquisa e extensão), cada aluno custa anualmente R$ 40 mil. Numa instituição que oferece apenas a graduação, esse preço cai para R$10 mil. Já numa Fatec (Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo), esse valor cai ainda mais e chega a R$ 5 mil mensais. Mas antes de decidir por um curso técnico ou tecnológico, entenda aqui as diferenças entre eles e os cursos tradicionais.

O assessor de Educação Superior da Fatec, Ângelo Luiz Cortelazzo, concorda com o fator tradicional citado pelo pesquisador. Porém, ele diz que o Estado de São Paulo é diferenciado na implementação de graduações desse tipo. Ainda segundo a pesquisa do professor Pedrosa, a Fatec tinha no ano de 1991, cinco unidades. Em 2007, a faculdade tem 33 unidades e pretende aumentar até 2009 para 52 esse número. As Fatecs estão espalhadas por todo o Estado e seguem a vocação regional de onde são instaladas, como explica Cortelazzo. "A unidade da cidade de Mauá têm cursos especializados na indústria de plástico. Vamos construir uma em Franca, com ênfase na área da produção de calçados, enfim, a faculdade forma profissionais especializados para sua região", esclarece.

O Governo Federal também já percebeu a necessidade e os benefícios do ensino tecnológico segundo Cortelazzo. Ele diz que as ações federais têm aumentado, mas não são tão visíveis, devido à complexidade das regiões brasileiras. "Por meio do Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica), que já existe em vários estados brasileiros, o atual governo tem demonstrado interesse em ampliar esse tipo de graduação em todo o país", explica ele. Cortelazzo diz que o crescimento é realmente necessário, mas não se pode tentar apenas aumentar o número sem atenção especial com a qualidade. "O aluno de escolas técnicas tem menos tempo de curso. Isso não quer dizer que ele seja pior ou aprenda menos do que o graduado de maneira tradicional. São profissionais diferentes e necessários para o país. Devemos sim aumentar esse número, mas sempre vigiar para que a qualidade não caia", conclui.
 

Fonte: Universia Brasil, 7/12/2007.

 


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